Renata Rios
postado em 05/01/2017 07:31
A distopia é um dos assuntos do momento. Apesar de não ser uma tema novo, o modelo é cada vez mais recorrente e traz com ele produções de sucesso para o cinema, como Jogos vorazes, Divergente, Expresso do amanhã e Maze runner: Correr ou morrer. Mas o tema permeia outras frentes, e tem sido um sucesso também nos games, como em Deus X, ou em diversas séries, incluindo a primeira brasileira da Netflix, 3%, e Black mirror, produzida pela mesma empresa, ou ainda a nova sensação do momento, Westworld, da HBO.
Mas as distopias já estavam presentes em obras clássicas ; vide 1984 e Admirável mundo novo ; apesar disso, as novas produções trazem um elemento novo. ;As atrações mais recentes abordam a tecnologia de ponta, como a inteligência artificial, isso tem agregado um algo a mais para a narrativa;, explica Alice Fátima Martins, professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), doutora em sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) e autora do livro Saudades do futuro: Ficção científica no cinema e o imaginário social sobre o dever.
[SAIBAMAIS]Mas, assim como as produções mais antigas, as novas chegam repletas de críticas sociais à meritocracia, à tecnologia e às relações interpessoais. A professora, porém, acredita que esses produtos não causam, necessariamente, uma reflexão. ;Essas produções podem dar uma falsa sensação de um senso crítico, mas elas não têm;, pondera a doutora.
A professora levanta ainda mais questionamentos: ;É um pouco aquilo de criticar alguma coisa, mas você está dentro dela. Existe uma crítica social, mas ela está na embalagem do modelo que está sendo criticado;, pontua. Para ela, um fato que acontece é que as produções são feitas para serem consumidas, como um produto: ;A mercadoria é feita para ser assistida de forma crítica? A forma que esses produtos chegam para o consumidor e que ela é disparada são feitas para serem simplesmente consumidos, sem grandes reflexões;.
Apesar de o consumo dessas produções se mostrar bastante satisfatório, vemos, em alguns momentos, as séries caindo em elementos comuns. ;O estado costuma ser visto negativamente, ele é opressor ou até não existe. No lugar, encontramos grandes corporações, que criam armadilhas para a população, que acaba refém dessas para sobreviver;, exemplifica Alice. ;A ideia de que o avanço da tecnologia, da ciência, da comunicação trazem um futuro melhor não se realizará. Os conflitos estão colocados e as soluções estão cada vez mais distantes, isso alimenta essas narrativas;, ressalta.