A virada do ano para a pernambucana Flaira Ferro teve um gosto especial. A cantora começou 2017 vendo o reconhecimento de seu trabalho iniciado há quatro anos. O motivo é que o ator Reynaldo Gianecchini compartilhou no perfil oficial do Facebook um vídeo em que a artista fazia uma interpretação da faixa autoral Me curar de mim, durante o evento TEDx, em setembro de 2016, em Recife. Foram mais de 5 mil compartilhamentos e o vídeo viralizou também pelo aplicativo WhatsApp.
;Essa música tem sido uma caixinha de surpresas. Logo quando lancei o disco em 2015 na internet, ela teve 300 compartilhamentos, o que, para mim, que era desconhecida do grande público, foi algo grande. Fiquei feliz;, conta a cantora ao Correio.
Depois desse reconhecimento inicial, ela foi convidada para participar do congresso TEDx ,com uma palestra por conta da simbologia da música, que fala dos defeitos de todo ser humano de olhar apenas para o próprio umbigo e também da tentativa de reconstrução, ou, no caso, de ;se curar de si;.
[SAIBAMAIS]
;Para me encher do que importa/ Preciso me esvaziar/ Minhas feras encarar/ Me reconhecer hipócrita/ (...) Mas se eu não tiver coragem/ Pra enfrentar os meus defeitos/ De que forma, de que jeito,/ Eu vou me curar de mim?;, diz a letra.
A repercussão em dezembro veio como uma surpresa até porque aconteceu alguns meses após a apresentação no congresso. O vídeo começou a ser compartilhado nas redes sociais. Flaira nem sabe como tudo isso teve início.
;Alguém pegou o vídeo, editou e compartilhou. Ele só tem a parte da conclusão da palestra. Eu fui passar o réveillon fora, me desconectei por dois dias do celular e quando voltei tinha várias mensagens. Foi um rebuliço;, explica.
[VIDEO1]
Porém, não foi o sucesso que encantou a pernambucana, mas o fato de seu trabalho ter sido reconhecido, mesmo de forma independente.
;Acredito que essa música não é mais minha. Ela não pertence mais a uma pessoa só. Eu me vejo muito mais como uma facilitadora de um sentimento que estava no inconsciente coletivo. Porque vivemos uma crise moral e espiritual muito grande. Há guerras por conta de religião, intolerâncias dentro do nosso próprio país. Acho que essa música é uma mensagem para que faça a gente olhar além do nosso umbigo, do alto da nossa responsabilidade;, afirma.
Carreira musical
Flaira Ferro se tornou conhecida por Me curar de mim. Mas quem é a pernambucana que foi diversas vezes compartilhada nas redes? A artista iniciou a carreira artística ainda na infância. Nascida em Recife, durante o carnaval, aprendeu a dançar frevo com seis anos nas ruas ao som do bloco Galo da Madrugada. O encanto fez com que estudasse dança em Pernambuco.
Participou de concursos, festivais e viajou por mais de 10 países pelo mundo para representar a cultura pernambucana. Depois de um tempo, se mudou para São Paulo, a convite do Instituto Brincante, onde participou de projetos e ministrar aulas de danças brasileiras. ;Lá, eu tive contato com o processo de criação. Fiz algumas aulas de canto e percussão e fui me reapaixonando pela música porque na infância eu já havia feito aula de teatro, violão e canto. Só que não tinha me aprofundado. Eu até já tinha composições com 8 anos;, lembra.
Em 2013, resolveu investir na carreira musical de forma independente. Pegou um dinheiro que juntou para viver em São Paulo e decidiu fazer um CD autoral. Assim surgiu Cordões umbilicais, lançado oficialmente em 2015 em Recife, com ajuda dos amigos Leonardo Gorosito e Alencar Martins, responsáveis pela produção musical e dos arranjos das faixas. ;Esse disco demorou. Comecei o trabalho em 2013 e foi um processo lento, de muita escuta. Eu não tinha um facilitador tecnológico. Eu me encontrava com os meninos toda semana. Eu gravava melodia e letra e eles faziam os arranjos;, conta.
Houve um pré-lançamento em setembro de 2014 e apenas no ano seguinte chegou à internet e às plataformas digitais. Ao todo, são 11 faixas, todas escritas por Flaira Ferro. Algumas em parcerias e outras de forma individual, como é o caso de Me curar de mim.
Atualmente, ela continua compondo e pretende lançar algo novo até o ano que vem, mas sem pressão porque acredita que ainda tem muito o que aproveitar de Cordões umbilicais. ;Tem muitos álbuns que em um ano perdem a força. Isso é algo interessante nesse disco. Passou o tempo e ele ainda está repercutindo. Meu trabalho é independente e tem funcionado assim, não quero me sentir pressionada. Estou na fase da semente, tentando entender para que lado seguir. Essa repercussão só me fez pensar que estou no caminho certo;, define.
[VIDEO2]
;Acho que essa música é uma mensagem para que faça a gente olhar além do nosso umbigo, do alto da nossa responsabilidade"