Luiza Bessa
postado em 25/01/2017 09:47
A gênese do projeto está em uma lista que catalogava quantas bandas no Brasil tinham ao menos uma mulher em sua formação. Com uma planilha colaborativa que soma quase 400 grupos - e contando -, Hannah Carvalho e Letícia Tomás resolveram criar a PWR Records, um selo digital para lançar e dar suporte às mulheres que trabalham com música. "Um selo convencional inclui ter que gravar, masterizar e, como não temos essa estrutura, pensamos em criar um selo da internet", explica Letícia.
A ideia não é inédita, mas ainda são muito poucos os selos musicais exclusivos para mulheres no país. Juntas, elas têm como missão colocar numa vitrine nomes e bandas femininas, divulgando o trabalho na internet e em serviços de audição por streaming. O trabalho ainda inclui assessoria de imprensa e agendamento de shows. Apesar de ser baseada no Recife, a PWR por enquanto só têm clientes de fora do estado. "No Recife, a gente catalogou algumas bandas que tinham mulheres, mas duas delas já acabaram e as outras não têm material para ser lançado recentemente", explica Letícia. Para elas, a barreira inicial para as mulheres que querem entrar no meio musical está em dar o primeiro passo.
"A dificuldade inicial é começar a tocar porque a ;mina; é desencorajada desde sempre", avalia. As duas criaram oficinas para ensinar outras meninas a tocar ou melhorar o conhecimento em um instrumento. Até agora, foram feitas oficinas de bateria e guitarra e elas têm planos de dar continuidade às capacitações no início deste ano. "Você ser um cara mediano é muito fácil, mas ser uma menina mediana que está começando a tocar é outra coisa. Vem muita gente apontar seus defeitos", observa Letícia. O trabalho da PWR passa pelo encorajamento do protagonismo feminino.
"Durante o processo, sempre vai ter um produtor que não acredita que ela é capaz de fazer", afirma. A pernambucana Sofia Freire, cantora desde os 15 anos, é citada como inspiração para a proposta do projeto. Compositora e pianista, ela venceu do Prêmio Natura Musical. A visibilidade feminina também é perseguida com a realização do evento Jam das Mina. A ideia é parecida com o que acontece em toda jam session: juntar pessoas para tocar no improviso, sem ensaio. A diferença é que a reunião permite homens apenas na plateia. Total protagonismo para elas. A próxima edição, batizada de Mulheres fazendo coisas, está marcada para o dia 5 de fevereiro, no Espaço Preto no Branco (Avenida Vigário Tenório, 199, Recife Antigo), das 15h às 22h. A programação inclui oficinas de zines, bordados e shows com Júlia Soares, Paula Cavalciuk. O ingresso custa R$ 10 (informações no site migre.me/vVp0X).
Desinibidas
Na edição mais recente da jam, em novembro, as meninas deixaram a vergonha de lado para mostrar que todo espaço tem que ser aproveitado. A estudante de design Júlia Moreira, 20, tocou na frente de um público pela primeira vez. "Foi uma experiência massa. Às vezes me questiono se é legal criar um espaço separado, mas eu entendo que é um momento que a gente está vivendo para incentivar outras meninas a tocarem e, com o tempo, isso passar a ser uma coisa normal", pontua. A designer Iara Adeodato, 24, também participou tocando guitarra. Ela considera de importante juntar mulheres assim. "Promover este evento foi importante para unir, para mostrar sororidade, conhecer pessoas. Um primeiro passo essencial", afirmou.