Adriana Izel
postado em 26/01/2017 07:34
A minissérie Dois irmãos estreou em janeiro na Rede Globo e chamou atenção por vários motivos: a história trágica de uma família libanesa, baseada na obra literária do amazonense Milton Hatoum; a boa interpretação do elenco; e o visual da produção ; ora envelhecida, ora mais moderna ;, uma característica dos trabalhos do diretor Luiz Fernando Carvalho (Velho Chico e Lavoura arcaica).
[SAIBAMAIS]Pelo menos dois desses aspectos são revelados no livro Fotografias ; O processo criativo dos atores de Dois irmãos, lançado pelo fotógrafo Leandro Pagliaro. Envolvido na filmagem de Dois irmãos, Pagliaro participou com o elenco do processo criativo que é comandado por Luiz Fernando Carvalho. ;Desde o início, Luiz propôs as fotos como um processo de sinergia maior entre a câmera e os atores. Eu participei porque o processo dele engloba toda a equipe, cenografia, figurino, arte, atores... Está todo mundo junto;, explica.
O processo em si é uma espécie de workshop que reúne todos os envolvidos na produção participando de palestras, seminários, improvisações e dinâmicas. Ele é feito nos galpões de Luiz Fernando dentro do Projac, no Rio de Janeiro, e também é um marco nos projetos do diretor.
Confira pontos altos e baixos da minissérie Dois irmãos via Blog Próximo Capítulo
;Ali começam as experimentações e a cocriação de todo mundo. A ideia em si (de fazer as fotografias do processo) é uma forma de quebrar essa barreira tecnológica e transformar em algo afetado e aflorado pelas emoções dos personagens;, revela Pagliaro. De acordo com o fotógrafo, o outro motivo é que, em Dois irmãos, a câmera também era tida como um personagem. ;Ela é um personagem tanto quanto o narrador. Essa era uma maneira de me colocar dentro do elenco e fazer parte disso;, diz.
Fotografias em livro
No livro, são apresentadas mais de cem imagens tiradas durante o processo criativo, que teve duração de três meses, enquanto a produção da minissérie durou um ano, e registra a preparação para cenas importantes da série, como a interação entre Omar (Cauã Reymond) e Zana (Eliane Giardini) no leito de morte de Halim (Antônio Fagundes), e a parte do workshop em que os atores ficam vendados para ter uma improvisação corporal.
Para destacar as emoções dos atores, as fotos perderam as cores, que foram características da minissérie, e ficaram em preto e branco. ;Queríamos realmente enfatizar as possibilidades de emoções dos atores. Prestar atenção nas formas, porque as cores distraem;, explica.
Além das fotos, Leandro Pagliaro reúne textos de Milton Hatoum, que participou de uma palestra com o elenco, depoimentos dos atores e a visão de nomes envolvidos na minissérie, como o da preparadora de atores Tiche Viana. ;Eu participei desse processo em outros trabalhos com Luiz, mas esse foi o único que se tornou um livro. Eu sempre tive essa vontade, mas Dois irmãos foi especial. Merecia uma atenção para esse processo, porque foi muito delicado e, como a história é muito trágica, sentimos a necessidade de mostrar;, completa o fotógrafo.
Dois irmãos é apenas mais uma parceria de Leandro Pagliaro com Luiz Fernando Carvalho. Após trabalhar com fotografia de moda em Nova York e Londres, o fotógrafo se mudou para Vancouver, onde estudou cinema. Em seu retorno ao Brasil, começou a trabalhar com o diretor. Juntos, fizeram Suburbia (2012), Correio feminino (2013), Alexandre e os outros heróis (2013), Meu pedacinho de chão (2014) e Velho Chico (2016).
Fotografias ; O processo criativo dos atores de Dois irmãos
De Leandro Pagliaro. Editora Bazar do Tempo. Preço médio: R$ 48.
Duas perguntas / Leandro Pagliaro
O processo criativo durou três meses, mas quanto tempo vocês levaram para gravar a minissérie completa?
Ficamos um ano fazendo Dois irmãos. Até porque a gente começa tudo bem antes de gravar. Por exemplo, eu fiz pesquisas de lentes para determinar texturas e a linguagem da imagem. Porque, na minissérie, ela (a imagem) anda com o tempo. No início é uma imagem mais arcaica, depois, as cores vão mudando sutilmente. As luzes também. Os objetos vão se iluminando, virando mais neon, após Manaus ser invadida pela Zona Franca, pelos eletrodomésticos.
A minissérie teve uma boa resposta da audiência. Como tem sido o seu feedback em torno do livro?
Estou tendo uma resposta que eu não imaginava. As emoções demonstradas nas fotos afetam as pessoas da mesma forma de quem participou do processo. Elas conseguem sentir. A verdade é que cada ator teve seu momento de cocriação e isso se justifica depois de ver o livro. Você vê no que o ator se baseou para chegar ali.