Diversão e Arte

Espetáculos levam histórias da periferia para o palco

Peças investem em diferentes linguagens para contar a história de quem vive à margem da sociedade

Isabella de Andrade - Especial para o Correio
postado em 04/02/2017 07:33

Espetáculo Felicidade leva histórias reais ao palco

O novo projeto do diretor Alexandre Ribondi tem o nome de Felicidade e leva histórias reais, contadas por jovens moradores da Cidade Estrutural, para o palco. O enredo fala sobre o universo LGBT a partir do contexto da periferia. A questão central colocada em cena é: como um jovem homossexual morador de periferia lida com questões como aceitação, preconceito, autoestima e empoderamento? A dramaturgia foi construída em processo colaborativo, utilizando depoimentos reais levados pelos jovens aos ensaios. Enquanto isso, o espetáculo Cravos e Lírios, com direção de Lidiane Araújo, utiliza o humor para mostrar a perspectiva de quem vive à margem da sociedade.

O processo de ensaio de Felicidade durou cinco meses e, entre eles, Alexandre Ribondi encontrava seus jovens atores na Estrutural, com preparação física para o espetáculo e troca de experiências pessoais. O processo de ensaio, sempre enriquecedor e emocionante, reuniu um elenco integrado por quem já tinha feito teatro antes ou participado de alguma oficina de formação de atores e ainda aqueles que desconheciam o assunto.

;Partimos do zero para a criação do espetáculo, o que contribuiu para a transformação de todas as pessoas envolvidas: o elenco, o assistente de direção Morillo Carvalho e eu;, conta Ribondi. Os espaços de criação foram o Ponto de Memória da Estrutural e o Coletivo da Cidade, importantes pontos de cultura da região.

Muitas histórias foram contadas e vividas durante o processo. Os relatos que seriam transformados em dramaturgia e cenas foram selecionados por todos os envolvidos e cada ator era escolhido de maneira aleatória, sem a necessidade de que o próprio autor interpretasse sua história. ;Essa proximidade entre fato e dramaturgia serviu para criar uma realidade forte e quase esmagadora nas cenas. Todo processo de ensaio e de montagem de espetáculo é transformador;, destaca Ribondi. Temas como violência sexual, morte, prostituição aparecem no texto e tornaram-se fonte de aprendizado para toda a equipe.

O projeto é uma ideia antiga de Ribondi, que queria abordar duas questões de exclusão: a social e a de gênero. Se assumir a homossexualidade ou transexualidade inspira opressão em qualquer contexto social, na periferia este ato de coragem ganha outros pesos. ;O teatro, como todas as artes, existe para provocar, para contrariar, pra criar atrito entre o homem e o meio em que vive; existe para transformar;, enfatiza o diretor.

O caminho do humor

Vitor Schiett/Divulgação


Enquanto isso, o espetáculo Cravos e Lírios escolheu o caminho do humor para tratar de outras questões vivenciadas por quem se encontra nas periferias. Para o processo criativo, os atores observaram as rotinas de moradores de rua de Brasília. As cenas são construídas a partir dessa perspectiva de ações cotidianas, que são ampliadas e ganham desfechos inusitados ao longo do enredo.

A diretora, Lidiane Araújo, destaca que o público vai se deparar com a luta pela sobrevivência de duas figuras marginalizadas que fazem o que podem para atender necessidades básicas como alimento, aquecimento diante do frio e também enfrentam desafios para conseguir suprir necessidades imateriais como o prazer, o amor, a amizade e a manutenção da esperança, apesar de tudo.

A utilização do humor aparece como a possibilidade de colocar uma lupa sobre a questão dos marginalizados, já que as cenas cômicas exageram no olhar sobre determinadas situações. ;O humor possibilita um distanciamento no público, que é capaz de rir dessa situação trágica e ao mesmo tempo refletir sobre ela de forma crítica;, afirma a diretora.

Lidiane conta que escolheram a linguagem do palhaço, que por meio de sua ingenuidade e criatividade, é capaz de apresentar situações trágicas de maneira poética. A ideia é que o público possa sair sentindo-se leve do teatro, embalado pela comicidade, e também pensativo a respeito da realidade de quem vive, de alguma maneira, à margem da sociedade.

Espetáculo Felicidade
Com texto e direção de Alexandre Ribondi, de hoje a 26 de fevereiro; sextas e sábados, às 21h e domingos, às 20h; no Teatro Goldoni (EQS 208/209 ; Lt. A Ed. Casa d; Itália). Os ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada) e a classificação indicativa é 14 anos. Reservas: (61) 3443-0606.

Espetáculo Cravos & Lírios
Com direção de Lidiane Araújo, de hoje a domingo, no Teatro da Caixa Cultural Brasília (SBS Q. 4 Lt. 3/4); sexta e sábado, às 20h e domingo, às 19h. Os ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada) e a classificação indicativa é de 10 anos. Mais informações: (61) 3206-6456.

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