Diversão e Arte

Filme de Sebastián Lelio aborda questões de gênero no Festival de Berlim

O longa A mulher fantástica é protagonizado por Daniela Vega

Rui Martins - Especial para o Correio
postado em 13/02/2017 11:00
O diretor a esquerda e a atriz transexual colombiana Daniela Vega
Berlim - "Será que os espectadores estão preparados para ver um filme com transexual? Eu acho que não", diz o cineasta Sebastián Lelio, realizador do filme que é uma provocação até no título - Uma Mulher fantástica.

A mulher personagem do filme é a amante de um empresário, que morre subitamente de um aneurisma; a mulher atriz do filme é a colombiana Daniela Vega, transexual.

Sebastian Lelio é conhecido em Berlim, onde seu terceiro filme Glória, ganhou o Urso de prata de melhor interpretação feminina. Para ele, fazer filme com personagem principal feminino é alguma coisa intuitiva. Fora a fascinação e a atração provocada por filmar alguém diferente de sua condição masculina.

[SAIBAMAIS]Assim como Glória, A mulher fantástica Marina é do gênero forte, marcante e autossuficiente, como definiu a atriz Daniela Vega sua personagem, vítima de acusações e perseguições da família do amante falecido, por ser algo diferente dentro dos conceitos admitidos.

Marina era a amante do empresário Orlando, que provocara a separação do casal legal, mas não era uma amante como tantas outras existentes nas melhores famílias burguesas. Marina tinha nascido homem e se transformara numa mulher, bela mulher por sinal, era uma transsexual, fazendo parte, portanto, do catálogo de rejeições dos conservadores. E isso inclui não apenas pessoas, como religiões e mesmo países, que confundem transexualismo como homossexualismo.

Durante a entrevista com a crítica, o cineasta Sebastián Lelio aproveitou para se pronunciar em favor das diferenças sexuais. "Nosso mundo ocidental parece ser mais civilizado e defende uma bandeira humanista que aceita nossas diferenças inclusive sexuais. Mas as famílias conservadoras talvez não estejam preparadas para aceitar a inclusão dos transexuais dentro da família".

E diante do surgimento do populismo, mesmo sem citar Donald Trump, Sebastián Lelio coloca uma questão atual: "Como sociedade global vivemos um momento delicado, diante da contracorrente que ameaça fazer recuar todos os avanços por nós obtidos nos últimos tempos. Que mundo estamos construindo: um mundo de muralhas e guetos ou um mundo de inclusão e vida comum? Assistimos atualmente ao choque dessa colisão de forças e de energias. E o resultado dirá para onde iremos, não só no Chile mas no mundo inteiro, sobre os amores possíveis e impossíveis. Meu filme não pretende dar uma resposta para tudo, mas quer saber qual será a reação dos espectadores".

Na linha das provocações, a atriz Daniela Vega, respondendo a uma resposta sobre qual seu próximo papel, responde: "gostaria de viver o papel de uma mulher grávida".

Qual a história do filme Uma mulher fantástica, que irá provocar reações e escândalos?

Um empresário de 57 anos, Orlando, tem um caso de amor com Marina, mulher transexual, com quem vive e pela qual rompeu o casamento legal.

No aniversário de Marina, bem mais nova, depois de uma comemoração no restaurante e de terem se amado, Orlando acorda de noite se sentindo mal, acaba rolando pela escada e, embora levado ao hospital com urgência, morre.

Marina não é aceita como uma normal amante de Orlando, cuja família lhe impede mesmo de ir à cerimônia do enterro. Num encontro no qual Marina entrega a chave do carro de Orlando à esposa legal, esta lhe fala que a opção de Orlando poderia ser considerada uma perversão. Mesmo a polícia considera Marina suspeita pela morte do amante.

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