Diversão e Arte

Arquiteta brasiliense guarda verdadeiros tesouros do rock dos anos 1980

Apaixonada pelo rock brasiliense, Luciana Oliveira mantém acervo com relíquias da época, como cartazes, ingressos e fanzines originais

Alexandre de Paula
postado em 14/02/2017 07:10

A arquiteta Luciana Oliveira mantém registros da época importante para a música brasiliense

No começo, foi o visual transgressor e moderno dos músicos do rock brasiliense dos anos 1980 que encantou a arquiteta Luciana Oliveira, de 50 anos. Influenciada também por amigos ligados ao gênero, a garota recém-chegada de Bauru (SP) se deixou levar pela onda roqueira. Com devoção de fã, ela guardou recortes de jornais, cartazes de apresentações, ingressos, fanzines e outros tantos objetos produzidos na época. Hoje, as lembranças se transformaram em um acervo, com relíquias da época, que ajuda a conhecer o passado da música brasiliense.

Em seu apartamento na Asa Norte, a arquiteta abriu o arquivo e mostrou ao Correio boa parte da coleção, repleta de histórias e de lembranças. ;É um material cheio de memória, de muitas lembranças boas, de uma época que vivemos. E é importante porque naqueles tempos era mais difícil manter e ter acesso a algumas dessas coisas;, acredita.

Empolgada em mostrar as dezenas de cartazes icônicos, matérias de jornais, autógrafos (a maioria de artistas brasilienses), Luciana conta que tudo foi guardado naquele período sem muita pretensão. ;Os cartazes, por exemplo, eu pegava na cara dura mesmo, tirava das paredes. Além de toda história, eu gostava muito da disposição gráfica;, lembra.

Legião Urbana, Plebe Rude, Capital Inicial e Detrito Federal são algumas das bandas que aparecem entre os guardados de Luciana. Há, por exemplo, o cartaz de um show feito em 1984 no Colégio Alvorada por Legião Urbana, Plebe Rude e Capital Inicial, as bandas estavam ainda no começo da carreira. O primeiro disco da Legião, para se ter ideia, só foi lançado em 1985.

Outro que se destaca é um ingresso para um show no Ginásio Nilson Nelson em 1985. A apresentação reuniu a Plebe Rude, a Legião Urbana e o grupo paulista Ultraje a Rigor. No YouTube, é possível ouvir alguns áudios da apresentação.

O cartaz de uma apresentação na Concha Acústica em 1985 também se destaca. O evento reuniu bandas mais pesadas do disco Rumores, Finis Africae, Detrito Federal, Escola de Escândalo e Elite Sofisticada. ;Na Concha Acústica, explode o rock brasiliense;, era o título de uma matéria publicado no Correio, à época, sobre o show, que foi marcante para a carreira dessas bandas. Um recorte do jornal original com a reportagem, escrita pelo repórter Irlam Rocha Lima, também está no acervo de Luciana.

Ingressos guardados de shows de rock da década de 1980

Andanças
Entre mudanças pelo país e viagens, Luciana conta que o material ficou muito tempo guardado e esquecido dentro de uma caixa. ;Eu quase joguei fora sem perceber o que tinha em uma dessas mudanças;, lembra Luciana. ;Quando abri, vi o que tinha e até tomei um susto ao ver quanto tempo algumas daquelas coisas tinham.;

Luciana fala com saudade sobre o período, que ainda marca sua história. ;Tudo mudou muito e não tem nada igual àquela época;, constata. A arquiteta exibe também lembranças mais pessoais, como cartas trocadas com integrantes de bandas e um diário com anotações e recortes.

Apesar de a maioria dos objetos serem relacionados ao rock brasiliense, há também registros de outros músicos e artistas, como um autógrafo de Andy Summers, do The Police. Uma foto autografada pelo grupo Kid Abelha guarda uma história inusitada. ;Eu e amigas nos fingimos de repórteres para marcar uma entrevista com a banda. E deu certo;, confessa, entre risos.

Preservação
O material foi usado também nas pesquisas para filmagens do longa Geração Baré-Cola e foi cedido para o projeto de criar um Museu do Rock na capital, liderado pelo produtor Hans Tramm (que morreu em 2016). Amigo de Luciana, o também arquiteto e diretor de arte Pedro Daldegan esteve envolvido nas duas iniciativas e conhece bem de perto o acervo.

;É um material riquíssimo. Tem que ser preservado e mantido. Deveríamos ter, de fato, o Museu do Rock, como sonhou o Hans Tramm, para que as pessoas pudessem conhecer essa história e garantir que esse acervo não se perdesse ou se acabasse;, argumenta.

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