Diversão e Arte

Cineasta Kaurismaki assume defesa dos refugiados em Festival de Berlim

O filme 'O outro lado da esperança' aborda o drama de um refugiado sírio

Rui Martins - Especial para o Correio
postado em 15/02/2017 11:00
Cena do filme 'O outro lado da esperança', de Aki Kaurismäki
Berlim - O cineasta finlandês Aki Kaurismaki fez uma clara defesa dos refugiados no encontro com a crítica, chegando a elogiar a chanceler Angela Merkel, "a única política que se mostrou realmente interessada pelos refugiados", criticando a minoria finlandesa que insiste em estigmatizar os estrangeiros e mesmo a agredi-los fisicamente.

Pouco antes, seu novo filme O outro lado da esperança tinha sido exibido para a crítica, sendo recebido com aplausos. O longa conta a história de duas pessoas diferentes, cujas vidas se cruzem num determinado momento.

[SAIBAMAIS]A primeira é Khaled, refugiado sírio que consegue chegar à Europa, via Grécia, e faz enormes caminhadas com outros refugiados, depois da Hungria ter fechado as fronteiras. Com a confusão gerada, acabou perdendo de vista a irmã, que fugira com ele da Síria. Chega à Finlândia de navio, escondido no compartimento de carvão.

Vai rapidamente se apresentar à polícia para pedir o estatuto de refugiado. Entretanto, o serviço de emigração rejeita a demanda pretextando não haver perigo e nem clima de guerra em Alepo, onde vivia. Por ironia da sorte, nesse mesmo dia o telejornal finlandês mostra Alepo sendo bombardeada com mortes de civis.

O outro personagem é um empresário finlandês deixando o ramo das confecções para homens para se dedicar ao setor de restaurantes. É quando encontra Khaled, imigrante clandestino, e o emprega no restaurante, pagando a um especialista a fabricação de um documento de residente provisório.

"Eu gostaria de poder mudar o mundo", disse Kaurismaki para a crítica. "Mas meus filmes são contribuições muito pequenas, por isso me contento em tentar mudar os finlandeses. a participação de todos é importante porque se tivesse sido maior, nos anos 30, poderia ter evitado a Segunda Guerra".

"No ano de 1490, a região de Sevilha, na Espanha, vivia em paz até ser criada a lei para se expulsar árabes e judeus", disse Kaurismaki referindo-se à decretação da Inquisição. "Até faz pouco tempo, havia na Europa uma posição clara em defesa dos valores humanitários, mas isso começa a desaparecer com o surgimento da intolerância"

Kaurismari informou também ter mudado o projeto de uma trilogia sobre os portos. "Será uma trilogia sobre os refugiados".

Diante a força das imagens do novo filme de Aki Kaurismaki e levando-se em conta ser Berlim um Festival de preocupações políticas, O outro lado da esperança está entre os favoritos ao Urso de Ouro.

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