Diversão e Arte

Iniciativas de Brasília pedem respeito às mulheres durante o carnaval

O alalaô feminista empodera as mulheres e pede um carnaval sem assédio

Rebeca Oliveira
postado em 27/02/2017 07:30

Em Brasília, respeitamos as mulheres: projeto Bsb Respeita as Mina prega igualdade em festas e baladas

Na última semana, uma pesquisa do Instituto Avon em parceria com o Data Popular constatou que 78% das mulheres brasileiras já passaram por situações de assédio durante os festejos carnavalescos (vale dizer que a situação não muda ao longo do ano, em que acontece uma triste média de mais de meio milhão de estupros). Para algumas pessoas, a festa de Momo virou motivo de trauma, medo e preocupação. Em Brasília, um levante popular recente aponta que o jogo pode virar. Pipocam iniciativas com o objetivo central de blindar as brasilienses contra o machismo. Seja no bloco de rua aberto ao público, seja naquela balada de música eletrônica, todas pedem, em uníssono, por igualdade de gênero.

Campanhas como a #CarnavalSemAssédio, apoiada pelo movimento Bsb Respeita as Mina, pregam a não violência contra a mulher. Nada mais certeiro que trazer o conceito de empatia durante a época em que o sexo feminino sente-se mais vulnerável. As ações de divulgação acontecem nas redes sociais, com o uso da hashtag, e também nas ruas. Adesivos e cartazes foram distribuídos e, agora, o grupo está vendendo camisetas por R$ 40 (hoje, ainda dá para garantir um modelo no bar Santuário, no Bloco C da 214 Norte), afim de financiar a produção de materiais gráficos e apoiar cursos, palestras e a capacitação de mulheres, inclusive as que trabalham com eventos.

Um dos nomes por trás da iniciativa é a VJ Julia Oga, uma das produtoras da Moranga, festa semanal que ocorre às quartas-feiras no Outro Calaf. ;O carnaval é o momento mais importante de trabalhar a questão do respeito à mulher. Tentamos atingir o público jovem, a galera que está na balada, meio bêbada ; e que, por isso, não quer ficar lendo banners com textos gigantes;, conta.


Tatuagem temporária da Conspiração Libertina: ativismo que cola

As mensagens são claras e objetivas. ;Não somos um selo de avaliação ou um órgão fiscalizador. Disponibilizamos, no site, a campanha de conscientização a quem quiser imprimir e divulgar. O que fazemos, e queremos que todos façam da forma que puder, é replicar a ideia. Nosso lema é a curtição com respeito. São conceitos que tem que estar na cabeça de todos, principalmente das mulheres;, argumenta. ;Algumas delas recebem agressões verbais e não sabem, acham que pode ser paquera ou que não devem contestar. O mais importante, antes do contato físico, é ter o entendimento de uma relação de apreço mútua;, conta a produtora e VJ.
Poder feminino

Período que evoca imagens de diversão e descontração, principalmente por conta da faceta lúdica, o carnaval também é campo de discussões políticas. Não são raros os casos de mulheres que policiam as fantasias para a data porque temem assédio. Pois a marca de roupas Negoçada fez justamente o oposto. Esbanjando coragem, as estilistas Maíra Nascimento e Layana Thomaz (irmã de Gabriel Thomaz, do Autoramas e Little Quail) lançaram, na última quarta-feira, uma coleção carnavalesca com sete modelos, entre maiôs, tops, biquínis e acessórios que levantam a bandeira do feminismo, da igualdade de direitos, do respeito às trans e pela legalização da maconha.

Layana e Maíra sabiam que se viessem com símbolos fracos não chamariam a atenção necessária, ou cairiam no estereótipo de roupa para ;mulherzinha;. Então, as peças são estampadas com a elementos como o útero e outros recados visuais que chocam quem não é habituado a ver o sexo feminino em sua face mais engajada. ;É uma forma de gritar que sim, sou mulher! Forte ou frágil, sou um ser humano. Ainda há, sobre nós, uma cobrança torta de mentes fechadas;, desabafa Layana Thomaz.

Depois que saiu na capa de um grande jornal carioca, a dupla recebeu uma enxurrada de críticas reacionárias no Instagram. Ao mesmo tempo, em sentido oposto, capturou clientes reconhecidas ; entre as quais as cantoras Vanessa da Matta, Preta Gil e Candy Mel, vocalista da Banda Uó. Além da atriz Camila Pitanga, Embaixadora Nacional da ONU Mulheres. ;As pessoas esquecem que o carnaval sempre foi um campo de contestação. Como em Veneza, onde a população usava máscaras para poder ser quem gostaria de ser o restante do ano. A diferença é que nós demos a cara a tapa;, afirma Layana, que é carioca, mas morou em Brasília em duas fases distintas da vida.

Estilista e feminista, Layana Thomaz veste adereços da Negoçada Carnaval

Meu corpo, minhas regras

Mesmo os adereços da coleção de carnaval da Negoçada que poderiam soar caricatos, como as orelhinhas de coelha à la Playboy, fazem sátira à objetificação da mulher. Os patches tem bordados feitos à mão, com frases impactantes. Sentenças fortes são usadas também nas tatuagens temporárias da marca Conspiração Libertina. Com dizeres como o ;Não é não; e ;Meu corpo, minhas regras;, o item está à venda no site da empresa, em que o conceito da pele como manifesto é exercitado. E o melhor: são produtos disponíveis o ano inteiro, não apenas na festa de Momo.

;A marca foi criada em agosto de 2015 e não nasceu por causa do carnaval, mas pela necessidade de ter tatuagens temporárias, adesivos e ímãs para o público feminista. A festa é apenas um começo. É grande, mas só acontece uma vez por ano. Vejo como um momento de favorecimento do movimento, mas não há tanto espaço para o diálogo e construção de conceitos. Isso explica porque as frases são curtas, de leitura rápida, e muito assertivas;, ressalta Luciana Lobato, uma das criadoras da Conspiração Libertina. O desejo é que o diálogo, a sororidade e ações de conscientização se prolonguem, pelo menos, até 8 de março. ;Espero que esse levante não pare nos momentos de festa e alegria, e se estenda aos momentos de reivindicação social;, finaliza.

Qual é o melhor de Brasília?
Agora não tem mais jeito: o carnaval é nosso! O brasiliense se apropriou, de vez, da festa de Momo. Toma as ruas da cidade, dança, beija, traveste-se do que bem entende. Segue o trio, cai no samba, no axé, nas marchinhas e ; quem diria ; na música eletrônica. Senhor dos festejos, nada mais justo que vista a fantasia de juiz e eleja o melhor bloco de 2017. O Correio Braziliense formou uma comissão julgadora e contará também com uma enquete popular para entregar um troféu aos quatro escolhidos. Para votar, entre no site www.correiobraziliense.com.br e participe. Que vençam os mais animados! Patrocínio: Big Box

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação