A vida da jazzista norte-americana Billie Holiday poderia render facilmente um romance. Repleta de abusos, vícios, reviravoltas e com uma morte precoce para encerrar tragicamente o enredo. Foi justamente com pegada noir que o roteirista e escritor argentino Carlos Sampayo criou o script da HQ Billie Holiday, publicada em edição especial no Brasil agora pela editora Mino.
Ao texto de Sampayo, somou-se o traço marcante e característico de José Muñoz, que explora muito o contraste entre luz e sombra. ;No Billie Holliday, ele aproveita o peso desse alto contraste para voltar isso a um estilo bem noir, que tem a ver com jazz, que sempre foi um dos temas preferidos dele e do Sampaio;, explica a editora Janaina de Luna, responsável pela publicação da obra no Brasil.
O autor é considerado um dos mestres do quadrinho em preto e branco e influenciou nomes como Frank Miller, Eduardo Risso, Charles Burns, Lorenzo Mattotti; ;Existe uma relevância na publicação que é trazer dois nomes importantíssimos da história dos quadrinhos de volta pras livrarias brasileiras;, acredita a editora.
Publicada originalmente em 1989, a HQ ganhou um edição de luxo, lançada em vários países, para comemoração do centenário de Billie Holiday (que ocorreu em 2015). É essa edição, que saiu primeiro na França, que chega agora ao Brasil.
;Ela tem um formato bem maior, é capa dura, edição de colecionador mesmo, traz um prefácio incrível escrito pelo Francis Marmande, em que ele fala sobre a Billie, além de fotos da cantora e também alguns desenhos lindos do Muñoz com temática de Jazz;, conta Janaina.
O livro mescla as passagens da vida de Billie Holiday com a narração pelo ponto de vista de um jornalista confuso, que está mais preocupado com audiência do que em, de fato, contar o que aconteceu. ;As opiniões rasas e meio desinformadas do jornalista servem como um contraponto ótimo pra profundidade multifacetada da vida dela, então todo o ritmo do quadrinho é muito interessante e único;, comenta a editora.
As dores
A fase final da vida da cantora, marcada pelo excesso de álcool, a cirrose e os problemas financeiros ganha destaque na obra, mas o tom da HQ engrandece a figura da artista. ;Se discute muito a decadência dela, mas a obra é muito incisiva a respeito da importância dela e também do tanto que ela foi injustiçada e como o mundo maltratou essa que é uma das figuras mais radiantes e talentosas que a música já viu.;
Durante a carreira, a cantora sofreu muito também com o machismo e o racismo, que eram ainda mais evidentes na época. ;A HQ aborda questões como machismo e racismo de maneira incisiva e impiedosa;, comenta Janaina.
Billie Holiday
Muñoz e Sampaio. Editora Mino. 84 páginas. R$ 69,90.