Surdo, tamborim, prato, repique, chocalho, caixa, cuíca, agogô, reco-reco, pandeiro são instrumentos utilizados pela bateria de uma escola de samba. É essa autêntica orquestra percussiva que dá cadência e ritmo ao samba, para contagiar passistas, foliões e demais integrantes de uma agremiação carnavalesca.
Tida pelos especialistas como ;o coração da escola de samba;, a bateria, durante um desfile, deve estar afinada, para que o grupo mantenha-se coesomusicalmente e apresente boa evolução, seguindo o seu ritmo ; sempre intenso. O mestre que a dirige precisa ter total conhecimento em relação aos diferentes naipes.
Variações são observadas na composição da bateria. Há escolas que não usam o surdo de segunda; enquanto outras dão destaque ao agogô.
Nos anos 1960, surgiram as ;paradinhas; do Mestre André, da Mocidade Independente de Padre Miguel. Era um efeito musical utilizado no decorrer do desfile, ao parar de tocar , deixando o samba só no cavaquinho e na voz dos componentes das alas. Já em 1997, a sensação foi a bateria da Viradouro, sob o comando do Mestre Jorjão, que tocou funk por alguns instantes.
A importância da bateria é tanta que é a única parte de uma escola a ter a figura da rainha ; um cargo figurativo ;, ocupado geralmente por atrizes ou modelos badaladas. A primeira delas, porém, foi a famosa mulata Adele Fátima. Depois vieram Monique Evans, Luma de Oliveira, Luíza Brunet, Viviane Araújo e, mais recentemente, Sabrina Sato.
Nota 10
Em Brasília, o destaque no quesito bateria é a da Aruc, a supercampeã do carnaval candango, com 31 títulos. Na história da escola do Cruzeiro Velho, fundada em 1961, esse conjunto de instrumentistas sempre chamou atenção, pela qualidade dos seus componentes ; a grande maioria formada em casa.
Um dos raros remanescentes, entre os fundadores da Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro, Luis Cabide foi mestre de bateria nos primeiros anos da escola. Em 1967, conquistou o primeiro tricampeonato com o enredo Homenagem a Bernardo Sayão. ;Desfilamos na W3 Sul com 650 componentes e eu tive a honra de comandar a bateria;, lembra. ;No ano seguinte chegamos ao quarto título consecutivo cantando Dona Beija e seus amores, em que dividi a direção da bateria com João Nilton. À época, a concorrente mais forte era a escola de samba Alvorada e Ritmo, da 409 Sul;, acrescenta.
Aposentado pelo Ministério da Saúde, Cabide, aos 76 anos, embora continue ligado à Aruc, não participou dos últimos desfiles, mas marca presença nos eventos que ocorrem na sede do Cruzeiro Velho. Sem esconder o saudosismo, observa: ;Os desfiles hoje em dia estão muito diferentes. As escolas passam quase correndo pela passarela. Antes, as baterias tinham uma batida mais compassada;.
O carioca Reinaldo dos Reis, 58 anos, tinha um ano de idade quando chegou a Brasília com a família, que foi morar no Gavião (atual Cruzeiro Velho). ;Meu pai, Clodomir Lucas dos Reis, mais conhecido por Seu Babi, era servidor d a Imprensa Nacional e passou a fazer parte da diretoria da Aruc;, recorda-se.
;Eu era adolescente quando ingressei na bateria da Aruc, tocando chocalho. Na época os diretores de bateria eram João Nilton e Vanderlei Cardoso. Em seguida passei para o surdo. Foi quando o presidente Nilson Sabino criou a bateria mirim e me convidou para ser o mestre;, conta Reinaldo. Em 1977, assumi o comando da bateria adulta, ficando até o ano seguinte;, complementa.
Sempre presente
Por três anos, entre 1980 e 1983, Reinaldo integrou o grupo Fino do Samba; e em seguida mudou-se para o Rio de Janeiro. Ao retornar a Brasília, 12 anos depois, se reincorporou à Aruc e voltou a ocupar o cargo de mestre de bateria. ;Em 2000, fomos campeões levando para a avenida o enredo Do batuque ao samba ; 500 anos de sons e ritmos, de autoria de Moacir de Oliveira, o Moa, atual presidente da escola;, fala com entusiasmo. ;Aposentado, hoje sou apenas mais um componente, mas estou sempre presente em todos os eventos da Aruc;.
O brasiliense José Aldano, mais conhecido como Mestre Brannca, ao 49 anos, teve uma longa e intensa relação com a Aruc. De 1988 a 2013 dirigiu a bateria da escola. ;Nesse período conquistamos 18 títulos e eu, pessoalmente, vivi momentos inesquecíveis;, comemora.
Mestre Brannca, que se orgulha de fazer parte da comunidade do Cruzeiro Velho, se entusiasma ao lembrar do seu envolvimento com a agremiação. ;No carnaval de 2006, depois de perdermos 40 ritmistas, conseguimos dar a volta por cima. Fomos para a avenida com nova formação e levamos a escola ao título. Nosso enredo, O azul dos azuis, e a bateria foram premiados com o estandarte de ouro. Sobre a fase vivida pela Aruc atualmente, prefere não comentar e mostra-se triste com o fato de há três anos não haver desfile em Brasília.