Diversão e Arte

Selos independentes de Brasília ganham projeção na maior feira do país

Autores e ilustradores da cidade vão participar da Feira Plana, em São Paulo

Nahima Maciel
postado em 01/03/2017 07:30

Luda Lima e Mariana Carpanezzi criaram o selo Supernova para dar vazão às próprias criações

O panorama da publicação independente em Brasília tomou corpo e trouxe para o mercado livros de qualidade. Em quadrinhos ou literatura, os artistas e escritores viram, nos últimos cinco anos, a cena independente mudar e se organizar. O resultado é uma quantidade grande de boas publicações de gente nascida, criada ou radicada na capital e engajada em produzir conteúdo de qualidade com acabamento gráfico impecável. A produção anda tão em evidência que três selos brasilienses ; Supernova, Dente e Piqui ; foram selecionados para participar da Feira Plana, a maior no mercado de artes gráficas da América Latina. Marcada para ocupar o Pavilhão da Bienal, no Ibirapuera, em São Paulo, entre 17 e 19 de março, a Plana vai reunir 150 expositores do Brasil e do mundo, todos envolvidos no ramo da produção independente de livros, quadrinhos e material gráfico. Além disso, no ano passado, a III Bienal Brasil do Livro e da Leitura selecionou 16 autores de Brasília, boa parte deles com livros de excelente conteúdo e apresentação muito bem cuidada.
O segredo está na independência que guia a produção do material, mas também na facilidade de edição e, sobretudo, no cuidado dos autores. ;A questão da produção gráfica é uma preocupação de todos nós. Quase todo mundo do coletivo estudou algo na área de artes;, explica Daniel Lopes, do coletivo Dente, que reúne oito autores independentes. Autor dos quadrinhos Marco ; Macaco do espaço, Lopes acredita que a cena de Brasília ainda está em desenvolvimento e que o público é muito específico. ;É um público de nicho;, garante. A Dente começou a organizar feiras em 2015 para escoar a produção dos autores locais. Todos os integrantes já participaram da Feira Plana, mas individualmente. Esta é a primeira vez que o coletivo ganha um espaço enquanto tal.
Para Heron Prado, que também estará na Plana no estande do Dente, o mercado independente de Brasília cresce, principalmente, por conta dos quadrinhos. ;A produção é muito variada tanto em estilo quanto em narrativas e assuntos, e existe uma preferência pelos quadrinhos porque não tem uma produção grande de literatura;, diz o artista de 24 anos, autor e organizador das revistas Brainstorming e Breve.
A organização de feiras também ajuda na popularização dos selos e foi nisso que a Dente apostou ao começar a reunir os quadrinistas no Conic. Em 2016, a primeira edição da feira reuniu 40 autores. Na segunda edição, também no ano passado, o número subiu para 70. ;Além dos autores, tem oficinas e bate-papos. Acaba que a Dente é um facilitador. A produção acontece de forma independente;, explica Daniel Lopes.

Daniel Lopes, do coletivo Dente, também aposta na produção independente

Organização

Criar uma feira também foi a estratégia de Mariana Carpanezzi, autora de O mundo sem anéis, publicado pelo selo Longe, e de Histórias de cavalas, uma parceria com a ilustradora Luda Lima para o selo Supernova. Mariana organizou a primeira edição da Outra margem, feira realizada no Ernesto Café em 2016. ;Livro tá na moda. A gente não esperava que fosse ninguém e foi muita gente comprando;, garante a autora, que participa da Plana com o projeto do Supernova. ;Não sei se o mercado está crescendo, mas o que sinto é que existe um sentimento de maior organização.; A ilustradora e artista plástica Luda Lima também vê a autonomia como um motivador da produção independente. ;As pessoas têm vontade de fazer algo próprio sem depender de editora e assim conseguem ter liberdade criativa;, constata.
Além de um texto delicado e intimista, O mundo sem anéis tem ilustrações da própria autora e projeto gráfico elegante. É uma combinação de qualidades que tomou conta da cena brasiliense nos últimos cinco anos. Mariana credita o feito à autonomia artística. ;Me recuso a publicar um livro em editora para ser explorada;, diz. ;Então tive esse desejo de organizar uma cena independente, porque existe, sim, o problema da divulgação e se você não conseguir se organizar, não consegue vender.;
O mundo sem anéis vendeu mil exemplares, uma quantidade excepcional para uma publicação independente. Com o Supernova, Luda e Mariana querem fazer livros experimentais que sejam também objetos. ;Queremos explorar os limites possíveis do livro sem deixar de lado a narrativa;, explica. Na Plana, ela também lança Porque tudo começa no mesmo lugar, um poema circular erótico pontuado por eventos celestes, e O amor não é matemática, um estudo sobre razão e compaixão a partir de três anos de experiência com meditação.
Para as meninas do Piqui, que também estarão na Plana, as feiras são essenciais para que as publicações independentes prosperarem. Tais Koshino e Livia Viganó criaram o selo em 2011, quando lançaram o zine Piquic;açúcar #1. Desde então, publicaram três revistas, sendo que Coral, de 2015, foi finalista do Prêmio Miolo(s). Elas já estiveram na Feira Plana em mesas coletivas, mas este ano será a primeira vez que participam com uma mesa só da Piqui.
;O público de Brasília ainda é muito reduzido e não compra tanto, se comparado com o de São Paulo ou do Rio de Janeiro;, avalia Taís. ;Muitas feiras, nesse meio tempo, também começaram e pararam de existir porque não tinham público. Acho que a consolidação de feiras como a Dente e a Outra Margem, que une publicadores que trabalham com a linguagem visual e escritores, ajudam muito a manter e a incentivar o crescimento da cena de Brasília.;
O Piqui tem mais de 20 publicações. No início, Lívia e Taís publicavam apenas as próprias criações, mas desde o ano passado começaram a incluir também outras autoras. ;As publicações da Piqui sempre buscam uma experimentação com a linguagem visual, com a narrativa e com o próprio formato impresso. Nossas publicações são mais voltadas para o desenho, sendo a maioria de quadrinhos;, avisa Taís.

Desenhos de Taís Koshino também estarão na Feira Plana

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