Diversão e Arte

Escritora Vanda Amorim fala de assuntos delicados em livros para jovens

Em obras para o público adolescente, Vanda Amorim trata de temas áridos como abuso sexual e violência doméstica

Nahima Maciel
postado em 07/03/2017 07:33

Vanda Amorim: 'temas, tento escrever de modo mais simples porque minha ideia inicial é tocar o coração do leitor de forma a levá-lo a uma reflexão sobre a vida, o próximo e a superação'

Foi em bancos de tribunais de varas da família, como advogada especializada na área, que Vanda Amorim começou a ter ideias para escrever livros. Lidar com questões difíceis e delicadas que permeiam os litígios familiares fez a advogada pensar que certos temas deveriam ser tratados em livros destinados ao público jovem. Em 2008, ela escreveu Crocodilo sonhador. O pequeno romance aborda temas como relacionamentos abusivos, violência doméstica, homossexualidade, HIV e deficiências físicas. Em seguida, veio Deus não abandona, uma trama de suspense com direito a sequestro, mas cujos temas centrais são o abuso e a perversidade sexuais.

[SAIBAMAIS]No mais recente, Maria e eu, que integra o box lançado pela Letramento com os romances anteriores, Vanda retoma o tema do abuso na trajetória de uma menina constantemente violentada pelo padrasto e abandonada pela mãe. ;Minha experiência pessoal me trouxe um pouco de vontade e bagagem para escrever. As histórias que crio nascem, sem dúvida, a partir de minhas crenças, minhas convicções e, sobretudo,, da minha experiência profissional. São temas do nosso cotidiano, situações que enfrentamos todo dia, toda hora;, explica. ;Apesar dessa rudeza dos temas, tento escrever de modo mais simples porque minha ideia inicial é tocar o coração do leitor de forma a levá-lo a uma reflexão sobre a vida, o próximo e a superação.;

Vanda acredita que a literatura pode ajudar a tratar de temas espinhosos e familiarizar os jovens com situações de violência para que saibam identificá-las caso passem por elas. Para a autora, quanto mais cedo as crianças souberem que existe uma linha que não deve ser transposta, mais seguras elas estarão. ;Hoje, a gente tem um histórico de crianças a partir dos 4 anos, e até antes, que sofrem violência e, muitas vezes, não contam por medo. Quando ela começa a achar estranho, é tarde demais, ela não teve a condição de compreender que aquilo deve ser falado para uma pessoa. Colocando isso numa obra literária você ajuda os pais, eles vão entender que é possível conversar com uma criança e que isso deve ser feito e abordado de todas as formas. Colocar isso de uma forma literária ajuda no desenvolvimento;, garante Vanda.

Ela gosta de pensar que seus livros não são exclusivamente para adolescentes. Com uma escrita simples e direta, Vanda espera também conquistar o que chama de novo leitor, adultos que nunca leram um livro até o fim, mas se encantam com os temas e o acesso à linguagem. Quando menina, aos 10 anos, ela lembra de ter lido Machado de Assis para a escola e de ter sentido repulsa à obra. Só foi mesmo gostar de ler quando começou a assistir ao Sítio do Picapau Amarelo. Aí, quis descobrir a obra de Monteiro Lobato. Nessa época, já estava com 16 anos. ;Muitas pessoas não descobrem aos 16, e sim, aos 40, 50, 70. Acho que meu leitor é o novo leitor, que vai ler uma obra mais simples e, então, vai acreditar que pode ler algo mais complexo;, diz.

SERVIÇO
Box Coleção Vanda Amorim
Editora Letramento, R$ 89,90

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