Diversão e Arte

Setores de Oficinas Sul e Norte se consolidam como espaços culturais

As iniciativas vão de boates a cervejarias e movimentam a noite da cidade

Rebeca Oliveira
postado em 11/03/2017 07:32

As iniciativas vão de boates a cervejarias e movimentam a noite da cidade

Cidade desenhada e milimetricamente planejada, Brasília nasceu como a capital onde a diversão deveria ter endereço fixo. A área designada para essa função, entretanto, não vingou como se esperava. Embora haja um levante que busca ressuscitar o Setor de Diversões Sul (como o pungente movimento Dulcina Vive), os produtores, empresários e público local precisaram subverter a geolocalização para ver a cultura pulsar. Mais uma vez, a Lei do Silêncio (n; 4092/2008) é apontada como uma das razões para a procura por cantinhos undergrounds, onde eventos dos mais diversos pilares acontecem até o dia amanhecer sem que ninguém seja multado por isso. Atualmente, os setores de Oficinas Sul e Norte aparecem como pontos efervescentes.

Mais que vendas de peças de automóveis e troca de óleo, a área serve de suporte a iniciativas de valorização da cena local. Afinal, quem precisa de estar preso às asas Sul e Norte quando se tem enormes galpões disponíveis? Esse foi o pensamento da equipe da Corina Cervejas Artesanais ao decidir expandir os trabalhos para além do beer truck, a kombi personalizada em que vendem breja. ;O Plano Piloto está mais careta. Aqui, temos a sorte de implementar outro modelo de consumo. Muita gente nem sabia o que era esse espaço. Na semana passada, fizemos um festival de cervejas só com rótulos da cidade e recebemos um pessoal de Brazlândia que jamais tinha vindo ao SOF Sul. É uma experiência informal, diferente;, conta Eduardo Golin, diretor de marketing da Corina.

Satisfeito com a localização, Golin reconhece que é possível haver melhorias, como o transporte público, insuficiente durante o dia e, principalmente, no período da noite. ;As opções escassas são um dos fatores que dificultam a presença de pessoas aqui. Estamos em busca de parcerias para minimizar um pouco esse problema;, avalia.

Embora fique situada no Setor de Armazenagem e Abastecimento Norte, a boate Victoria Haus também vive, do lado positivo e também do negativo, as mesmas questões. Ricardo Lucas, um dos sócios, explica que é justamente por isso que as festas começam às 22h e só acabam às 6h. ;É a hora em que muita gente vai embora para pegar o primeiro ônibus do dia;, conta.

Antes de migrar para o SAAN, a Victoria Haus funcionou no SOF Sul. Precisou mudar de endereço quando o locatário vendeu o espaço para a construção de um edifício residencial. À época, há cerca de três anos, surgiam mais prédios do Park Sul, bairro em crescimento que divide a ;fronteira; com o Setor de Oficinas. Um dos temores é de que a especulação imobiliária se repita nesses endereços, o que acontece nos bares, cafés e restaurantes do Plano Piloto. Quanto mais moradores ao redor, maior a chance de alguém sentir que a música ou até o som de pessoas conversando está atrapalhando. ;Há, sim, o risco de que essa especulação os afete. Nada resiste a ela, ou porque atrapalham alguém, ou porque os terrenos são vendidos para a construção de edifícios;, lamenta Ricardo Lucas.




Mapa da mina

Conheça espaços culturais situados no Setor de Oficinas Norte e Sul (e também no SAAN)

Corina Cervejas Artesanais

Onde? SOF Norte, Qd. 1, Conj. B, Lote 11.


Desde que abriram o Galpão da Corina no SOF Norte, os responsáveis pela marca promovem aulas, festas, shows, venda de cervejas para garrafões (chamados growlers), curso de cultivo de lúpulo, degustações gastronômicas e toda a sorte de eventos relacionados ao mundo das cervejas artesanais. Geralmente, acontecem às sextas, a partir das 18h; e sábados, das 10h às 18h. A mais recente novidade foi o projeto Pontapé, de fomento à cena cervejeira local. Eduardo Golin, diretor de marketing, conta que a ideia é diminuir as barreiras de mercado, servindo como porta de entrada para produtores caseiros, que nem sempre têm boa estrutura para fazer do hobby um negócio. ;Brasília ainda é insipiente em relação às empresas do tipo. Nosso Plano Diretor impede que haja várias fábricas aqui, e percebemos que havia uma galera fazendo cerveja em casa, boas, e precisando dessa oportunidade;, afirma.


Victoria Haus

Onde? SAAN, Qd. 01, Lt. 930.


A valorização da cultura LGBT e drag é o ponto alto da casa, em funcionamento há cinco anos e meio. E por lá não há preconceito sob nenhum aspecto. Inclusive, artistas do mainstream são bem-vindas. Anitta, Preta Gil, Valesca, Gaby Amarantos e Ludmilla já passaram pelos palcos da Vic, como é chamada pelos fiéis frequentadores. Os eventos mais bombados recebem até duas mil pessoas, algo quase impossível se estivessem localizados no Lago Sul, ou nas Asas Sul e Norte. ;Nas regiões nobres de Brasília, a Lei do Silêncio funciona até durante o carnaval. Enquanto o país inteiro tem licença poética, nós precisamos nos calar às 22h. Por termos essa característica de cidade do poder, de pessoas envolvidas com a administração distrital e federal, temos que procurar espaços onde não tenhamos vizinhos poderemos;, afirma Ricardo Lucas, um dos sócios da Victoria Haus. Hoje, a festa #Alocka mistura sertanejo e funk. Na semana seguinte, dia 17, a drag Aretuza Lovi se apresenta no mesmo dia em que a paulista Glória Groove sob aos palcos da cidade pela primeira vez.

Usina Centro de Arte e Entretenimento

Onde? SOF Norte, Qd. 1, Conj. B Lote 12.


É um centro cultural que une arte e entretenimento, com inauguração em dezembro de 2014. O espaço pode ser alugado para outros produtores. Durante a semana, há aulas de circo, de dança, de teatro. De quarta a domingo, por sua vez, acontecem os espetáculos. Nas noites de quarta, a partir das 21h, acontece o Usina do Som, projeto que engloba shows de música autoral com curadoria do músico e produtor Jorge Brasil. Sexta, é a vez dos shows burlescos, que começam às 21h30. Todo domingo, a programação se alterna entre baile de zouk e show de forró com a banda Thiago Lunar ao vivo. ;Brasília tem poucas áreas destinadas ao lazer. Temos muito problema de zoneamento na cidade, também por conta do tombamento. O Setor de Oficinas é uma área em que se pode fazer grandes eventos. Somos um dos primeiros a fazer esse movimento;, diz Giovane Aguiar, diretor artístico e proprietário.



Espaço Secreto

Onde? SOF Sul, Qd. 9, Conj. A, Lt. 5/8.


O Espaço Secreto conta com uma estrutura invejável. São 1600m; divididos em três ambientes, deck externo, pista interna e camarote. As festas são diversas. Na sexta que vem, por exemplo, a casa recebe a funkeira Valesca, que toca sucessos antigos do grupo Gaiola das Popozudas, no qual iniciou a carreira. Este mês, a maior parte da programação engloba a comemoração de um ano de abertura. Anteriormente, funcionou por lá o Disel Lounge e a boate Kathedral.



Cervejaria Criolina

Onde? SOF Sul, Qd. 1, Conj. B


Nova empreitada do coletivo por trás de uma das festas mais longevas e animadas de Brasília, a Cervejaria Criolina engrossa a lista de casas que investem em endereços fora do eixo. ;Por enquanto, estamos funcionando em esquema de soft opening, ou em fase de testes;, explica Rodrigo Barata, um dos responsáveis pela empreitada. Apesar disso, alguns eventos estão acontecendo, como os encontros gastronômicos nas noites de quintas. Amanhã, das 11h às 17h, a casa entra nas celebrações do Dia Internacional da Mulher. Em parceria com a Associação dos (as) Cervejeiros (as) Artesanais do Distrito Federal (Acerva) será realizado o Big Boots Brew, uma brassagem (uma das etapas decisivas na fabricação de cerveja artesanal) coletiva feita apenas por mulheres. A iniciativa acontece no mundo inteiro e, em Brasília, finca os pés no aprazível endereço.

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