Ricardo Daehn
postado em 12/03/2017 07:30
Uma biografia não autorizada, escrita pela jornalista italiana Elizabetta Pique, de quase 50 anos (dos quais 15 renderam aproximação junto ao Papa Francisco), nutriu o roteiro de Papa Francisco ; Conquistando corações, filme atualmente exibido em mais de 100 salas de cinemas no Brasil. Para além da condição de adaptação baseada em best-seller, o novo longa ; que alinhou, em coprodução com Espanha, Argentina e Itália ;, o filme do diretor espanhol Beda Docampo Feijóo chama a atenção por causa da figura pública progressista esboçada pelo papa que já se dedicou a causas controversas, como a de passar a limpo (e dar transparência) à parte dos dividendos da instituição católica, por meio de auditoria no Instituto para as Obras de Religião, e pregou exposição de responsabilidades nos casos de pedofilia no Vaticano.
Jorge Mario Bergoglio (o papa Francisco), aos 80 anos, recebe a celebração em cinema, no quarto ano de papado. No longa, o diretor Feijóo, radicado na Argentina, que, entre outros feitos, desvelou nas telas os amores de Kafka e apostou num longa com implicações políticas como Olhos que não veem (2000), sabe adotar os evidentes contornos de humanidade que cercam o sumo pontífice, capaz de adotar opções inesperadas, como a de negar a ocupação do Palácio Apostólico ou mesmo de qualquer edificação suntuosa, em desacordo com a tradição firmada desde o século 14.
Estrelado por Darío Grandinetti (de Relatos selvagens), Papa Francisco ; Conquistando corações aposta na relevância do ;líder engajado;, como é descrito pela jornalista Elizabetta Pique o personagem central do livro Papa Francisco ; Vida e revolução (em que a fita se baseia). O conhecido senso de humor do papa e um diálogo fluido, mas na contracorrente de linhas conservadoras, estão demarcados no filme que tem no elenco Silvia Abascal (de Minha mãe gosta de mulher).
Intermediando vida e obra do pontificado está o acuado olhar da autora Pique, representada na trama da fita. A mirada objetiva da antiga correspondente do jornal argentino La Nación, que chegou a acompanhar os conflitos no Afeganistão e no Iraque, transparece no longa-metragem, em nada reticente, quando desenvolve (e liberta) o religioso das acusações de ter sido ;cúmplice da ditadura argentina;. Outro tema tratado sem maiores reservas é o do conclave de 2005, quando Francisco se sentiu um joguete na disputa com o candidato alemão Joseph Ratzinger, tornado Bento 16.
Outros títulos eclesiásticos
Silêncio
Foram 28 anos até Martin Scorsese verter para as telonas os escritos de Shusaku Endo. No longa (atualmente, nas telas), dois jesuítas veem o catolicismo banido do Japão, e tentam resgatar um mestre de ambos. Quem já conferiu, se convenceu da excelência, como no caso dos redatores da TimeOut: ;A obra-prima de Scorsese pela qual todos rezávamos. Silêncio é um grito contra a injustiça que acolhe a exigência por tolerância religiosa. É de se ficar pasmado;.
The young pope
Controvérsia é palavra de ordem para a série assinada pelo italiano Paolo Sorrentino (vencedor do Oscar, por A grande beleza), a ser exibida em fins de abril pelo canal Fox Premium. Encabeçada por Jude Law (O talentoso Ripley), a produção trata do fictício papado de Pio 13, o mais jovem, arrogante, debochado e fumante pontífice representado nas artes. Completam o elenco personalidades como Diane Keaton e Javier Cámara (Segundas-feiras ao sol).
Os dez mandamentos ; O filme
Com mais de 11 milhões de ingressos comercializados, num recorde brasileiro, o longa de Alexandre Avancini recentemente voltou a ser notícia, quase um ano depois da estreia. Com lançamento na Argentina e no Uruguai, o filme obteve título de líder de público portenho. Contra o segundo colocado na estreia, o longa de M. Night Shyamalan Fragmentado, a fita brasileira ; beneficiada pela exibição da novela, pela Telefé ; emplacou quase 50 mil entradas, em termos de bilheteria.
A cabana
Com personagens que atendem por sugestivos nomes, como Papai (Octavia Spencer) e Jesus (Avraham Aviv Alush), o longa, que estreia em 6 de abril, traça o perfil algo rancoroso de um pai, a postos (ainda que meio a contragosto) para atender à jornada espiritual, depois que a filha dele é assassinada. Baseado em livro do canadense William P. Young, o longa de Stuart Hazeldine tem o respaldo de um best-seller com mais de 25 milhões de exemplares vendidos, mundo afora.
Maria Madalena
Um Jesus Cristo interpretado por Joaquin Phoenix ; sob a ;confiança de ter encontrado a pessoa certa; ; e uma Maria Madalena descolada da imagem (ou rótulo) de prostituta são algumas certezas no mais recente trabalho de Garth Davis, bastante celebrado pelo sucesso de Lion ; Uma jornada para casa. Com Rooney Mara (de Carol), no elenco, o filme rodado na Itália, segundo o diretor, terá a história ;da forma como deveria ser contada;. A estreia será neste ano.
Nada a Perder
A Paris Filmes anunciou Petrônio Gontijo (de Os dez mandamentos ; O filme) como o protagonista em cinema para a adaptação da trilogia em torno do líder de Igreja de Edir Macedo. A ser dirigido por Alexandre Avancini, o longa terá imagens em São Paulo, Rio de Janeiro, Nova York, Jerusalém e Joanesburgo. Figuras malquistas pelos leitores da Bíblia também estão na linha de frente de produções televisivas, em minisséries. Serão lembrados, entre outros, Jezabel, Judas e Caim.