Algumas palavras podem passear por vários idiomas. O trânsito dos vocábulos entre as línguas, as mudanças e o sentido final inalterado delas são os temas da exposição Palavras sem fronteiras ; Mídias convergentes, que estará disponível para visitação no Itamaraty a partir de amanhã.
A abertura da exposição ocorre hoje, a partir das 19h, no Hall do Palácio do Itamaraty. A inauguração coincide com a abertura da Semana da Francofonia. Com a Unesco, a Fundação Alexandre Gusmão (Funag) e o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), ambos vinculados ao Ministério das Relações Exteriores, promoverão mesas redondas (ainda sem datas confirmadas) para discutir a evolução da linguagem no mundo digital e a obra de Sergio Côrrea da Costa.
A exposição, que tem curadoria de Maria Eugênia Stein e Julio Heilbron, é baseada no livro Palavras sem fronteiras, do escritor e embaixador Sergio Corrêa da Costa (que morreu em 2005).
Antes de chegar a Brasília, a mostra foi exibida no Museu da Língua Portuguesa (em São Paulo) e na Academia Brasileira de Letras (no Rio de Janeiro). A exposição na biblioteca da ABL foi a primeira a utilizar os conceitos do livro de Sergio Corrêa mesclados à linguagem multimídia.
O trabalho apresenta palavras que aparecem em vários idiomas (com poucas ou sem mudanças) sem perder o sentido original. A mostra é dividida em quatro módulos, que unem imagem, palavra, som e tecnologia digital.
A base
O embaixador escreveu a obra quando, depois da aposentadoria, se estabeleceu na França. Apaixonado pelo idioma local (por herança familiar), ele teve a ideia de procurar palavras e expressões que ultrapassassem as fronteiras dos países e das línguas. A ideia inicialmente não tinha grandes pretensões, mas o estudo tomou forma e se tornou referência.
;Uma coleção de palavras que viajam pelo mundo;, era como o próprio embaixador definia Palavras sem fronteiras. O livro foi publicado inicialmente na França, em 1999 e ganhou o Grande Prêmio da Fundação Prince Louis de Polignac. No Brasil, foi publicado pela primeira vez em 2000.
A língua e a linguagem eram fundamentais para Sergio, conta o embaixador Antonio de Moraes Mesplé. ;Para Sergio, a língua é a forma mais legítima de integração cultural e social. Por isso ele dava muita importância à união dos povos de língua portuguesa. O interesse dele pelo assunto começou na França, onde esse nacionalismo pela língua é muito evidente;, explica.
Três mil palavras e 16 mil exemplos de seus empregos estão no corpo do livro, que reúne cerca de 46 idiomas. Para a exposição, o conteúdo do livro foi misturado a outras formas de linguagem, como imagem e vídeo.
O trabalho de videoartistas, por exemplo, ajudou a demonstrar como algumas palavras são capazes de transitar por vários países e idiomas sem perder o significado. ;As mídias convergentes do título são tevê, vídeos independentes e um material tecnológico;, conta o curador Julio Heilbron.
Assim como ocorreu no Museu da Língua Portuguesa e na ABL, a montagem da exposição busca, mesmo com limitações, integrar o conteúdo da mostra à concepção arquitetônica do palácio, incorporando intervenções visuais e tecnológicas. ;Nós tivemos um desafio maior nesta montagem da exposição. Como o Palácio do Itamaraty é tombado, não pudemos apoiar as obras nas pilastras ou pendurá-las no teto. Isso acabou deixando tudo mais especial;, explica o curador Julio Heilbron.
Haverá também um espaço destinado a deficientes visuais com equipamentos especiais que permitem o acesso interativo aos conteúdos disponibilizados. O projeto dessa área foi desenvolvido pela Fundação Dorina Nowill, especializada em acessibilidade visual.
A exposição terá também um acréscimo em relação à obra original. Em virtude das Olimpíadas que ocorrem no Rio de Janeiro em 2016, foram escolhidas diversas palavras relacionadas ao esporte.
Além disso, haverá depoimentos sobre o diplomata Sergio Corrêa. O curador da exposição destaca também a importância que a família do embaixador dá para a montagem da mostra na cidade. ;A família está muito emocionada com a exposição em Brasília. É uma espécie de ciclo que se fecha, porque as obras passaram por São Paulo e pelo Rio de Janeiro e agora chegam à capital;, afirma. (Colaborou Vinicius Nader)
; O autor
Além de embaixador, Sergio Corrêa da Costa foi historiador e escritor e se tornou membro da Academia Brasileira de Letras em 1983. Durante a carreira diplomática, ele foi secretário geral de Política Exterior e o ministro de Estado das Relações Exteriores, interino (1967-1968); embaixador em Ottawa (1962-66); Londres (1968-1975); Nova Iorque; e Washington (1983-1986).
Palavras sem fronteiras ; Mídias convergentes
Palácio Itamaraty (Esplanada dos Ministérios). De amanhã a 14 de abril. Visitação: de segunda a sexta, das 9h às 19h, e sábados e domingos, das 9h às 17h. Visitas guiadas: 2030-8051.