Diversão e Arte

Rádio-web Yandê divulga a cultura indígena e tem relação com Brasília

Projeto tem colaboração da ativista Daiara Tukano, correspondente da Yandê na capital

Rebeca Oliveira
postado em 15/03/2017 06:03

Uma equipe de três pessoas coordena as atividades da rádio, que existe desde 2013

Com mais de 300 povos e 180 línguas diferentes, as culturas indígenas ainda são inviabilizadas no Brasil. Mesmo intrínsecas às raízes do país, são constantemente alvos de ataques. Eles vêm de vários lados.. De questões geopolíticas, como a perda de territórios originais para o agronegócio, até a falta de conhecimento da população brasileira sobre a rica diversidade, palavra que melhor as resume. Muitos só se lembram desse contingente da população em 19 de abril, quando se comemora o Dia do Índio. Na rádio web Yandê, todos os dias, os indígenas são protagonistas.
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Iniciativa autônoma, a Yandê entrou no ar há três anos. O intuito é agregar os conteúdos regionais de rádios comunitárias e divulgar os músicos indígenas, além derrubar fronteiras étnicas e territoriais. ;O mais importante é que os conteúdos fossem produzidos com o protagonismo indígena;, diz Renata Machado, que idealizou a rádio com a parceria de Anapuaka Muniz Tupinambá e de Denilson Baniwa. ;Sempre tivemos muitos questionamentos internos sobre a necessidade de autonomia, rompimento do pensamento colonial, formas de empoderamento e fortalecimento das identidades indígenas;, conta.

Cultural e educativa, a programação alcança músicas tradicionais e contemporâneas, como o grupo Brô MC;s. Completa a grade da Yandê debates sobre saúde, educação, política, meio ambiente, notícias, histórias indígenas e poesias. Tudo está disponível por meio do site ou de aplicativo para celular.

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Voz de Brasília

Uma das correspondentes da Yandê tem raízes em Brasília. A militante Daiara Tukano cursa mestrado em direitos humanos e cultura de paz na Universidade de Brasília (UnB). Um dos focos de atuação da amazonense radicada no DF é o panorama político, dada a vocação natural da cidade que abriga os Três Poderes.

;Dedico parte do meu tempo a acompanhar as notícias e a pauta da política indígena em Brasília. Compartilho de diversas fontes. Acompanho eventos na Fundação Nacional do Índio (Funai) e no Congresso Nacional;, conta. ;Registro tudo pelo celular;, explica.

Duas perguntas/ Daiara Tukano

Amazonense radicada em Brasília, Daiara Tukano é uma das correspondentes da rádio Yandê

A cultura indígena é invisível no Brasil?

Primeiro, gostaria de corrigir o termo ;a cultura indígena;. Somos plurais, e é incorreto falar dessas culturas no singular. É importante mostrar que o movimento é extramente complexo, não é um grupo homogêneo. Cada povo precisa ter voz e legitimidade. Apenas um pataxó sabe o que é ser pataxó, na Bahia; e são distintos de um guarani-kaiowá do Mato Grosso. A diferença entre um e outro pode ser como a de um francês e um japonês. Os povos indígenas do Brasil foram submetidos à mesma colonização, violência e genocídio, mas cada um deles é diferente. Essa diversidade é justamente o que enriquece a luta. Por isso, a comunicação desses povos também precisa ser diversa.

Sendo tão diversos, é possível apontar conexões entre eles?

O que mais encontramos são convergências. O principal fato em comum é o fato de somos povos originais, antigos. É necessário continuar afirmando isso. E continuamos preservando nossa identidade e nosso relacionamento identitário com o espaço que ocupamos e que nos é de direito. O que procuramos é justamente autonomia. Temos diversos comunicadores Brasil afora, falta, algumas vezes, um jeito de conseguir administrar todos eles. A rádio é um esforço de um grupo que vem dedicando tempo, e dinheiro do próprio bolso, porque acreditamos no poder dessa comunicação, e para além disso, no ganho que essa comunicação nos traz.

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