No início deste mês, uma grande rede de livrarias anunciou uma promoção de 50% de desconto para compras feitas em 8 de março, quando se comemorou o Dia Internacional da Mulher. A ação foi aplaudida até que se constatou: a seleção de obras não incluía publicações na área de exatas, idiomas e tecnologia. Para muitas mulheres, esse pequeno episódio demonstrou o machismo com que a figura feminina ainda é vista no mercado editorial. E não apenas do lado de lá do balcão.
Ainda há quem acredite em uma literatura feminina, embora muitas escritoras condenem o termo. Para elas, a arte não precisa ser classificada de acordo com o gênero de quem a faz. E não é de hoje. Ucraniana radicada no Brasil, Clarice Lispector já enfatizava: ;Quando escrevo, não sou homem nem mulher. Sou homem e mulher.;
Este mês, muitas editoras investiram em livros que comprovam a versatilidade com que a figura feminina se vê ou pode ser abordada em uma publicação. Chegou a vez de os livros feitos por, para e sobre elas ganharem destaque. Uma dessas obras é Mulheres extraordinárias, da jornalista paulista Karla Maria.
;São reportagens sobre diferentes realidades de pessoas comuns, mas que não recebem tanta atenção da mídia porque não são celebridades. São pescadoras, quilombolas, traficadas, dependentes químicas, trans. São mulheres que estavam em situação de vulnerabilidade social, mas não só. Muitas delas, mesmo passando por dificuldades financeiras, conseguiram, por meio de determinação, fé e educação, transformar as próprias vidas;, resume.
Para a autora, esse tipo de publicação é uma lacuna de mercado da qual o público feminino poderia tomar posse. ;Existe um campo grande a ser descoberto pelas mulheres que querem escrever. É um instrumento de empoderamento, existem mulheres incríveis no Brasil que não conhecemos porque simplesmente não estão na tevê;, afirma.
A revolução das mulheres
Organizado por Graziela Schneider Urso. Boitempo editorial, 276 páginas. Preço: R$ 54
Da diagramação à edição, A revolução das mulheres é um projeto ;girl power;. Foi inteiramente concebido por mulheres, dentre as quais a organizadora, Graziela Schneider, doutora em cultura russa pela Universidade de São Paulo (USP). A obra reúne artigos, atas, panfletos e ensaios de autoras russas com foco na produção a partir de 8 março de 1917. Foi quando uma manifestação reuniu quase 100 mil mulheres no país europeu. Começava ali um levante político contrário ao csar Nicolau e que pedia melhores condições de trabalho, entre outras reivindicações. Chamada Revolução de Fevereiro, o evento culminou em uma série de ações, até que, meses depois, a Revolução de Outubro derrubou o sistema de governo e instalou a URSS.
Desbocada, desfocada e deslocada
De Bruna Louise. Buzz, 160 páginas. Preço: R$ 23,90
Menos político e mais calcado no bom humor, Desbocada, desfocada e deslocada tem assinatura da atriz e youtuber Bruna Louise. A obra é classificada pela autora como de ;anti; autoajuda pela criadora, que também participa de programas de humor no canal Multishow. Baseado em relatos de todos os tipos (de desabafos das amigas a conversas no ponto de ônibus), Bruna discorre sobre acontecimentos comuns às mulheres. Usando a mesma linguagem sem filtro que a fez conquistar mais de um milhão de assinantes no canal que comanda no YouTube, também toca em questões mais sérias, como assédio. Mas ela adianta: não tem medo da patrulha do politicamente incorreto.
Mulheres extraordinárias
De Karla Maria. Paulos, 256 páginas. Preço: R$ 21
Com 15 anos de carreira, a jornalista Karla Maria conheceu o drama pessoal de muitas mulheres. Embora não se tratassem de personalidades, definitivamente não eram pessoas comuns. Por isso, decidiu que essas vidas deveriam ser reconhecidas e reuniu algumas histórias no livro Mulheres extraordinárias. Com abordagem humanizada, desabafos de mulheres de várias estados do Brasil se unem a bastidores das reportagens, o que enriquece o material e aumenta o espectro de leitores.