Alexandre de Paula
postado em 21/03/2017 08:25
Os horrores da Segunda Guerra e do nazismo foram tema para muitas obras. No teatro, no cinema ou nos livros, o período sempre despertou o interesse do público, que queria entender e compreender melhor o que se passou. O diário de Anne Frank é um das obras que apresenta a guerra e o nazismo por outra ótica, vistos pelo olhar de uma menina privada de liberdade. O diário chega agora aos quadrinhos com uma adaptação brasileira, publicada pela editora Nemo.
Ilustradora e artista plástica, a mineira Mirella Spinelli foi a responsável para adaptar aos quadrinhos a história de Anne Frank. Mirella conta que o livro a emocionou desde a primeira leitura, ainda na adolescência. ;Fiquei extremamente impressionada com as privações que as duas famílias passaram, com a rotina de viver trancafiados, com a privação da liberdade e, primordialmente, com os horrores da guerra;, lembra.
Ao ler o livro novamente mais tarde, no entanto, Mirella explica que descobriu outras nuances. ;Ao realizar uma nova leitura, percebi que o texto é muito mais rico, permitindo outras leituras, outras dimensões. Fiquei fascinada e me aventurei no trabalho.;
Todo o texto selecionado para o roteiro da HQ segue fielmente o que foi escrito por Anne Frank, sem acréscimos de diálogos, personagens ou cenas. ;Essa adaptação para HQ tenta se manter mais próxima possível do texto original. Ou seja, não tomei liberdades literárias ;criando; falas ou situações. Foi um grande esforço de síntese e naturalmente de pesquisa de imagens;, revela Mirella.
O diário de Anne Frank
Para a adaptação, Mirella preferiu basear o roteiro nos trechos mais relacionados à própria Anne Frank, aos pensamentos dela sobre o que acontecia ao redor. ;Esta adaptação está focada na menina, nos seus pensamentos, no processo de amadurecimento ;à força;, nos conflitos de uma adolescente. Selecionei trechos do diário em que estão presentes reflexões dela acerca do momento vivido, sua visão sobre as pessoas, sobre os comportamentos das pessoas, sobre a degradação das relações pessoais à medida que o tempo ia passando;, explica.
Para a ilustradora, a análise adulta sobre os horrores do nazismo já foram exaustivamente explorados e são bastante conhecidos. A originalidade de O diário de Anne Frank está em apresentar uma visão totalmente diferente daquele momento. ;O que me cativou foi a visão de uma menina e sua inocência e sua personalidade inteligente e otimista sobre a situação, que ela sempre considerava transitória, e como ela e família enfrentaram as dificuldades e a degradação;, comenta.
Mirella acredita também que a maneira como Anne e a família lidaram com todas as dificuldades é outro fato que impressiona a quem lê o diário. ;Outra coisa que acho admirável é a dignidade (neste caso, evidentemente uma orientação dos adultos do esconderijo) que as pessoas mantiveram na luta pela sobrevivência. Isso fica evidente, na postura, no estabelecimento e manutenção de uma rotina de atividades e estudos, na busca de equilíbrio e sobriedade;, ressalta.
O diário de Anne Frank em quadrinhos
Mirella Spinelli. Editora Nemo. 96 páginas. R$ 37,90.