<div style="text-align: justify"><img src="https://imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/2017/03/21/582348/20170321090625562856o.JPG" alt=""Minha arte é comunitária"" /> </div><div style="text-align: justify">Um exemplo, resgatado do passado, dá a medida da arte popular do cantor e compositor paraibano Pedro Osmar. O primeiro LP, <em>Jaguaribe Carne ;; Instrumental</em>, teve 1.000 capas, por meio comunitário: ;Fizemos oficinas, em vários bairros, em várias escolas; as pessoas participaram da confecção artesanal da capa. Isso foi um momento importante;, revela Osmar. Sem muito traquejo na ;mecânica de finalizar; cada projeto, o multiartista vive momento singular. Está retratado nas telas, com o documentário <em>Pedro Osmar ; Pra liberdade que se conquista</em>, ao mesmo tempo em que bota disposição na feitura de CD duplo, sob o título de <em>Que vem lá</em>, previsto para junho.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">[SAIBAMAIS]Nas gravações, 32 faixas dele, antes cantadas por Elba Ramalho, Xangai, Zé Ramalho e Amelinha, entre outros. ;A gente tem que ter semancol e clareza; saber da qualidade daquilo que produziu até hoje. Hoje em dia, acho a produção bem razoável;, diz Pedro, que, para o álbum, ideliza participações de figuras como Zeca Baleiro e Xangai, ocasional parceiro em discos.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify">Múltiplo, Pedro Osmar explica da vida, muito antes dos avanços na publicidade em João Pessoa, em que contribuiu com projetos gráficos e logotipos. ;Desde criança, sempre desenhava e escrevia. Música era assim: juntava os meninos e ficava tocando lá, num canto, as músicas que apareciam na rádio;. As atividades desembocaram na paixão pela arte, múltipla. Dois livros dele ; Diálogos de música, com mais de 30 entrevistas com pessoas da estatura de Carlos Aranha e Livardo Alves, ao lado de Musicália, aspectos da evolução da música na Paraíba ; seguem inéditos. Para além da música, Pedro Osmar investe em poesia e dramaturgia registradas em formato de cordel (;mais barato;, diz). O suporte abriga, por exemplo, Quem é palhaço aqui?, texto teatral de Pedro Osmar, a exemplo de Fogo Prestes, encenado no centenário de Luís Carlos Prestes.<br /><br /><h3>Entrevista com Pedro Osmar</h3></div><div style="text-align: justify"><strong><br /></strong></div><div style="text-align: justify"><strong>Em termos financeiros, o que a arte te traz?<br /></strong>Sou um anarco punk: não vivo preocupado com dinheiro. Só não posso me despreocupar tanto, por ter família: sou pai de cinco e tenho seis netos. A arte tem sido um suporte desde 1970. Eu não trabalho só com música: também desenho, escrevo e dou aulas de percussão criativa. Sou um cara que não tem dinheiro guardado nem posses. Como não sou muito exigente com nada, vou levando. A arte que faço não precisa de muitos equipamentos nem é criada em viagens pela Europa. Minha arte é comunitária e de fundo de quintal. Ela se expressa na cidade e sempre coloquei minha arte a serviço disso. Tenho convivido muito com militantes da cultura, da arte, das filosofias alternativas. Meus filhos me levaram a conhecer os jovens, e percebi outras vertentes e possibilidades. Extrapolei a resposta da universidade, o público seletivo e elitista. Cheguei a um público de visão mais comunitária, mais nordestina, mais de cidade, de bairro, da rua, da praça. Trabalho com a população, com associações de moradores, de escolas e de algumas universidades públicas.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify"><strong>O filme atual ; <em>Pedro Osmar ; Pra liberdade que se conquista</em> (documentário, em cartaz) rende, com a sua exposição?</strong></div><div style="text-align: justify">Antes deste filme, rolou outro, com produção em São Paulo, chamado <em>Jaguaribe Carne: alimento da guerrilha cultural</em> (2004), dirigido por Marcelo Garcia e Fabia Fuzeti. Inclusive, para ele, também foram feitas filmagens em João Pessoa. Naquele retrato de filme faltava a música que me representa. O filme atual tem como base exatamente a música, o que é uma vantagem, para tratar de assuntos que me interessam com clareza. Quando participo dos debates sobre o filme, é a música que me deixa com um sorriso no rosto. Gosto de falar da minha trajetória, desde o papel de compositor de músicas populares até a minha transformação num pesquisador de música contemporânea e de livre improvisação.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify"><strong>No longa documental, há uma cena de arquivo que você reclama da falta de adesão das pessoas a movimentos artísticos... Isso ainda é recorrente?</strong></div><div style="text-align: justify">O movimento Fala Jaguaribe tratava de mesclar discussões de dança, artes plásticas, música e teatro. É interessante isso de estar longe do acesso das pessoas: com o tempo, acho que muitas coisas serão reveladas em relação à nossa luta. O filme atual até tem servido para que eu deixe claro resultados das minhas pesquisas. Não podemos adotar isso de, tão somente, se voltar para o mercado, querendo tirar dele uma condição de ficar rico. Não tenho interesse de tirar dinheiro de nada nem de alguém. Zé Ramalho é um cara que, 40 anos depois, mora bem, no Leblon. Chico César mora numa casa muito boa no Sumaré. São pessoas que se voltam para isso de ganhar dinheiro, mesmo.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify"><strong>Chico César, para você, é um amigo de longa data. Chega a ser uma espécie de ídolo?</strong></div><div style="text-align: justify">Um dos nossos agregados, no grupo Jaguaribe Carne, foi Chico César, que hoje tem a vida dele estabilizada. No início dos anos 80, ele tinha visto um ensaio nosso, e ficou. Trabalhamos durante uns cinco, seis anos. Ele, assim como a gente, é multimídia. Tenho admiração, mas ele não é meu ídolo. Tenho ídolos principalmente nos bairros daqui, aqueles que são voltados para a educação. Curto professoras, professores e alunos que asseguram militância. A música que faço é exatamente isso: não está preocupada com o brilho, com sucesso. Para me embrenhar nessas coisas tipo, ir para os Estados Unidos e coisas assim; teria que ser num plano muito vantajoso para as duas partes.</div><div style="text-align: justify"><strong><br /></strong></div><div style="text-align: justify"><strong>Você teve parceiros com muita projeção nacional. Seguem amigos?</strong></div><div style="text-align: justify">O Zé Ramalho, por exemplo, é uma pessoa difícil ; nos primeiros três anos da carreira dele, eu estava junto, tocando minha viola na música dele, que não é nada armorial. Com Chico César me encontro, somos amigos, a gente conversa. No disco Que vem lá, que está por sair, nós temos duas parcerias. É interessante a convivência com ele. Mesmo Chico estando noutro patamar. Ele é um cara que não deixa de gostar das músicas para dançar: ele é um sujeito muito alegre no palco. Eu não consigo isso no palco, por ser muito de ficar parado (risos). Aliás, tenho reparado muito um fenômeno na música flamenca: em toda apresentação que vou, reparo nas mulheres que fazem todas as apresentações, sentadas ; logicamente, mexendo os braços, e tal (risos). Pra mim, no palco, também é complicado: não dou um passo de dança, no palco (risos).</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify"><strong>Você não teve formação acadêmica; aliás, há uma parte no filme em que solta um ;quando a gente não sabe, a gente intui; (risos)... Isso é importante?</strong></div><div style="text-align: justify">Eu, por exemplo, nunca entrei numa universidade. Não me interessei; na hora em que tinha que prestar vestibular, eu já estava na estrada. Saí com Vital Farias (nascido em Taperoá, Paraíba), com 16 anos, e fui para o Rio de Janeiro. Entramos num grupo de teatro, o Chegança, que era dirigido pelo Luiz Mendonça, um grande mestre. Ele é da cultura popular de Pernambuco, com muita militância comunista no PCB; ele montava só repertório de teatro nordestino. Passamos três anos nas montagens dele. Viemos para o palco, com a experiência de rua. Eu me acostumei com isso e gosto dos resultados. Aprendi a fazer as coisas de modo informal.</div><div style="text-align: justify"><br /></div><div style="text-align: justify"><strong>Como vê Brasília e qual a grande saída para nossa sociedade?</strong></div><div style="text-align: justify">Estive em Brasília, pela primeira vez, em 2001, para tocar. Na primeira vez que a gente entra em Brasília, a gente fica maravilhado. Me convenci com a disposição e o discurso arquitetônico da cidade. Admiro o meio de administração pública, o alto conceito de tecnologia empregado na cidade, eu gostei muito. Acho interessantíssimo o Brasil ter um projeto como Brasília. A educação é a grande saída. Não tem outra não. Mas somos tão frágeis, como população, que ficamos à mercê, de um cara como este atual ministro da Educação (José Mendonça Bezerra Filho). Como com nosso potencial ficamos à mercê de um cara como aquele? Algo tem que ser feito! A educação traz um excelente ambiente para a população se mexer. Não podemos apenas ir para a rua. O problema é o de brasileiros não terem tanta informação como deveriam.</div>