A primeira sala da exposição The art of the brick tem um cantinho no qual o artista Nathan Sawaya reproduz o próprio ateliê. Ali, rascunhos de torsos desenhados a lápis em folhas de papel dão uma ideia da simplicidade com a qual o artista americano trabalha. Sawaya não utiliza programas de computador nem tecnologia digital para construir as esculturas em Lego apresentadas na exposição. Ao contrário, o processo de criação é muito mais orgânico e envolve desde caminhadas nas ruas das cidades até a observação das pessoas.
Nessa introdução da mostra, já visitada por mais de 300 mil pessoas no Rio de Janeiro e em São Paulo, estão esculturas simples que reproduzem objetos, como violino, lápis e teclado, um exemplo do que é possível fazer com as peças de um dos brinquedos mais populares do planeta. As salas seguintes exibem o mundo além do possível, um universo cheio de curvas e expressividade improváveis diante das pecinhas quadradas dos Legos.
Sawaya atuava como advogado e foi durante as aulas na graduação na Universidade de Nova York que começou a utilizar o brinquedo para além dos esquemas propostos nas caixas. O interesse cresceu, assim como a habilidade e a criatividade. Sawaya chegou a advogar durante alguns anos, mas abandonou a profissão para produzir peças sob encomenda. Acabou famoso. Seu Yallow man, um torso amarelo com o peito aberto do qual escorrem dezenas de peças, foi utilizado por Lady Gaga no vídeo G.U.Y, de 2013.
Reproduções de rostos e corpos humanos, de bichos e vegetais ganharam destaque e o artista começou a pensar em situações e cenas. ;A forma humana é meu tema favorito. Muitos dos meus trabalhos evocam a figura humana em transição. Minha obra emana diretamente de meus medos e sucessos, como advogado, como artista, como criança ou como homem;, avisa o artista em depoimento plotado na mostra em uma das salas com esculturas de seres humanos em diversas posições e interações.
Ali estão peças como o Hugman, que vem a Brasília em duas versões: uma azul, que pode ser vista na própria exposição, e outra vermelha, que será fotografada em monumentos da cidade para divulgar o evento. Peças como Disintegration e Hands falam da condição humana e representam medos e apreensões do artista diante do ato de criar e das vicissitudes da vida.
Recriação dos clássicos
A capacidade de reprodução e a habilidade de Sawaya são o destaque na sala dedicada aos ícones da arte internacional. O artista reconstrói clássicos como o David, de Michelangelo, a Vênus de Milo e a Vitória. Para O beijo, de Gustav Klimt, ele propõe uma perspectiva em 3D como se fosse possível ver além dos limites da superfície da pintura.
Em O Grito, de Gustav Munch, a figura também salta para fora das duas dimensões. ;Parece apenas reprodução, mas se você se aproximar é um pouco mais que isso, é 3D e há uma realidade que não existe em duas dimensões;, avisa Mario Iacampo, produtor da mostra. Sem apelar para o 3D, Sawaya também reproduz a Monalisa, de Leonardo da Vinci, um autorretrato de Rembrandt e Noite estrelada, de Van Gogh.
Na sala seguinte, estão reproduções de fotos conhecidas ou realizadas pelo próprio artista. Retratos de Jimmy Hendrix, Bob Dylan e Andy Warhol aparecem ao lado do rosto da mulher de Sawaya. E como essa versão da mostra é destinada ao Brasil, Sawaya transformou uma foto de Pelé em quebra-cabeça de Lego. O efeito pixelado proporcionado pelas peças é a parte mais interessante do trabalho. A exposição se encerra com um esqueleto de um Tiranossauro Rex de seis metros de comprimento. A peça consumiu mais de 80 mil Legos e foi construída especialmente para as crianças.
300 mil
Quantidade de pessoas que visitaram a exposição de Nathan Sawaya no Rio de Janeiro e em São Paulo
;A forma humana é meu tema favorito. Muitos dos meus trabalhos evocam a figura humana em transição. Minha obra emana diretamente de meus medos e sucessos, como advogado, como artista, como criança ou como homem;
Nathan Sawaya, artista plástico
The art of the brick
Exposição de esculturas feitas com Lego por Nathan Sawaya. Shopping Iguatemi. Visitação de 29 de março a 21 de maio, de segunda a sábado, das 10h às 22h, e domingos e feriados, das 11h às 23h. Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia).