Dramas familiares com raízes profundas abastecem grande parte do circuito de estreias na cidade. Além de dois longas-metragens nacionais, A Glória e a Graça e Eu te levo, o mais recente filme da consagrada diretora alemã Margarethe von Trotta, O mundo fora do lugar, que concorreu ao Urso de Ouro do Festival de Berlim, também abraça enredo de cisão familiar. O assunto igualmente se espalha, de modo cômico, em Mulheres do século 20, e até atravessa dimensões, embutido na ficção científica O espaço entre nós.
No caso deste último, o diretor Peter Chelsom constrói a relação entre os jovens Tulsa (Britt Robertson) e Gardner (Asa Butterfield), dando sequência ao interesse romântico impresso em filmes anteriores dele, como Dança comigo? e Escrito nas estrelas. O maior diferencial é que a fita extrapola a realidade, pelo roteiro concentrado no desejo de busca pelas origens familiares, brotado num menino nascido em Marte.
Um realinhamento na relação de duas irmãs, vividas nas telas por Carolina Ferraz e a vencedora, há nove anos, do prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes, Sandra Corveloni, dá liga para o enredo de A Glória e a Graça, outra estreia de hoje. Afastada, há mais de uma década, da convivência com os sobrinhos e com a irmã, a travesti Glória (interpretada com muita naturalidade por Carolina Ferraz) fica reticente quanto à reaproximação com a irmã, no filme dirigido por Flávio Ramos Tambellini.
A reelaboração da vida e das origens das personagens Sophie e Caterina Fabiana rende as coordenadas de O mundo fora do lugar, em cartaz, a partir de hoje. Completamente desconhecidas, ambas serão praticamente forçadas à interação, uma vez que Paul, o pai de Sophie, praticamente obriga a filha a viajar, diante da espantosa semelhança entre a falecida mulher dele e Caterina, uma renomada cantora de ópera, projetada em apresentações pela Europa. Vale reforçar que O mundo fora do lugar foi dirigido por Margarethe von Trotta, uma engajada realizadora de filmes como Rosa Luxemburgo (1986) e A promessa (1995). Sempre detida em tramas que reflitam a história da Alemanha, ela também assinou o recente sucesso Hannah Arendt, fixado na vida da importante filósofa. O novo filme é estrelado por Katja Riemann e Barbara Sukowa.
Libertação
Com uma experimentação mais acentuada, mesmo que nos limites da narrativa clássica, o longa nacional Eu te levo é outro título que coloca em xeque as relações familiares. Marcelo Müller, o diretor, faz a estreia, depois de assinar o roteiro de longas como O outro lado do paraíso. Rogério (Anderson Di Rizzi, da novela Êta mundo bom!), o protagonista do drama em preto e branco vive um luto, ao lado da mãe Marta (Rosi Campos), no filme que é ambientado em Jundiaí (SP). O desejo de realizações pessoais, junto com a renovação de ares, pelo contato com o jovem vizinho Cris (Giovanni Gallo), leva Rogério a encarar novas possibilidades, fora do universo maternal.
Finalmente, com um filme produzido, em média, a cada seis anos, o diretor Mike Mills tem a estreia do novo longa, Mulheres do século 20, liberado para o Brasil. Protagonizada por Annette Bening, a fita foi candidata ao Oscar de melhor roteiro original e indicada ao Globo de Ouro (categorias atriz e melhor comédia). A exemplo dos anteriores Toda forma de amor e Impulsividade, Mike Mills aposta em famílias disfuncionais.
Outras estreias
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O poderoso chefinho
Aos sete anos de idade, o menino Tim, narrador deste longa de animação da empresa DreamWorks, tem a mente absolutamente fértil. De certa forma, Tim promete acompanhar a criatividade do diretor Tom McGrath, o mesmo de Megamente. No enredo, um bebê bastante hábil pretende combater um vilão empenhado em frear valores universais ligados a amor e fraternidade.
Os belos dias de Aranjuez
Tendo participado do clássico Asas do desejo (1987), de Wim Wenders, o cantor australiano Nick Cave entra em cena, neste novo filme de Wenders. O autor das trilhas sonoras de fitas como Cinco graças e Os infiltrados participa como coadjuvantes da trama em torno de um escritor alemão que, entre temas como memórias, amor e infância, molda os futuros personagens de romance, a partir de passagem pelo norte francês.
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O ornitólogo
Há 17 anos, o diretor português João Pedro Rodrigues apresentou ao mundo o choque estético e de conteúdo assentado na rara história de fundo homoerótico de O fantasma. Agora, aos 50 anos, o realizador crava uma também rara coprodução entre Portugal, França e Brasil. Num caso de lida com situações extremas, o protagonista Fernando (Paul Hamy) é um ornitólogo à procura por cegonhas, que, ao acaso, conhece integrantes de grupo a caminho de Santiago de Compostela (Espanha), mas, acima disso, tropeça em inesperado caso de amor.