Diversão e Arte

Elza Soares retorna à capital e reforça o discurso de empoderamento

A cantora mostra o show do disco mais recente, A mulher do fim do mundo, sucesso de crítica e público

Irlam Rocha Lima
postado em 02/04/2017 07:32

A cantora é protagonista da luta contra qualquer tipo de agressão à mulher

;Você vai se arrepender de levantar a mão pra mim;. O brado de Elza Soares, ouvido repetidas vezes em Maria de Vila Matilde, a música mais simbólica do álbum A mulher do fim do mundo, não soa apenas como um alerta em relação à violência doméstica. A cantora, hoje, protagonista da luta contra qualquer tipo de agressão à mulher, não esconde que, em outros tempos, foi vítima em situações semelhantes ; mas sem nunca abaixar a cabeça.

Essa diva da música popular brasileira, e cidadã empoderada, se apresenta hoje, às 19h, no Teatro da Caixa, fechando a curta temporada em Brasília. O espetáculo que traz no título o mesmo nome do premiado e elogiadíssimo CD, lançado em 2015, foi visto anteriormente na cidade, em setembro do ano passado, como destaque do festival Satélite 061, na praça da Torre de TV.

No show, Elza tem a companhia em cena de Guilherme Kastrup (bateria e direção musical, que também assina a produção do disco), Kiko Dinucci (guitarra e violão), Rodrigo Campos (guitarra), Marcelo Cabral (baixo acústico e elétrico), Felipe Rosano e DaLua (percussão). O cantor brasiliense Rubi faz participação especial em duas músicas.

A cantora mostra o show do disco mais recente, A mulher do fim do mundo, sucesso de crítica e público


A estrela ocupa um trono metálico, em meio ao cenário concebido por Ana Turra ; responsável ainda pela luz e projeções ;, para interpretar músicas como a que dá título ao projeto, Benedita (Celso Sim, Pepê Mata Machado, Joana Barossi e Fernanda Diamant), Firmeza?, (Rodrigo Campos), Maria de Vila Matilde (Douglas Germano) e Pra fuder (Kiko Dinucci). Ao repertório foram incorporados antigos sucessos da cantora, entre os quais A carne (Seu Jorge, Marcelo Yuka e Wilson Capellette) e Malandro (Jorge Aragão).

Com A mulher do fim do mundo, Elza foi aclamada pelo público em várias capitais brasileiras e também em cidades da Europa, como Lisboa, Berlim e Londres. ;Esse projeto é um marco em minha carreira. Com ele, pude chegar aos jovens, que têm me acolhido com carinho em todos os locais por onde passei. Da crítica recebi tantos elogios que nem sei se os mereço;, diz em tom de agradecimento.

No exterior
Para a ;Cantora do Milênio ; de acordo com a BBC de Londres ;, a proposta do disco e do show teve perfeita compreensão da mídia. ;Pude perceber, lendo os comentários emitidos em jornais, como o londrino The Guardian, e em órgãos de imprensa de Portugal, Alemanha e Holanda. O A mulher do fim do mundo, que conquistou o Grammy Latino e o Prêmio da Música Brasileira, em 2016, foi incluído entre os 10 melhores discos do ano pelo New York Times;, comemora.

Motivos para celebração não faltam Elza. A começar pelo convite recebido em 2015 do coletivo de compositores e músicos da nova geração paulistana para embarcar no projeto que deu origem ao A mulher do fim do mundo. ;Eu já conhecia Guilherme Kastrup, Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Marcelo Cabral, todos muito talentosos e bem-sucedidos em carreira solo. Eles deixaram tudo de lado e criaram, com a participação de outros jovens artistas, algo inovador, com músicas e letras fortes. Surpreenderam-me, particularmente, os arranjos tão modernos e arrojados;, elogia.

;Sem titubear, aceitei de cara me jogar nessa adorável aventura. Logo depois de me apresentarem o repertório, juntos, escolhemos as músicas que vieram a ser gravadas. Há uma unidade entre elas. Todos os elementos que citei contribuíram para que o álbum viesse a ser tão bem avaliado. Outras músicas ficaram de fora, mas, com certeza, vamos incluí-las em outro disco, porque são igualmente de muita qualidade;, destaca.

Engajamento
Maria de Vila Matilde, que recebeu o troféu de ;canção do ano;, no Prêmio Multishow do ano passado, é tida como símbolo do projeto. Elza a toma como uma denúncia. ;Chega de sofrer calada, escondida. Temos que botar a boca no trombone e denunciar as agressões que as mulheres sofrem. Para mim ela é autorreferente. Já fui vítima desse tipo de violência, mas, mesmo sabendo me defender, não denunciei o agressor;, revela.

Embora, para muitos, com seu trabalho e sua postura, enquanto artista e cidadã, dê visibilidade ao empoderamento feminino, modestamente, Elza se vê ;pequenina;, apenas como uma colaboradora. ;Precisamos de mais vozes para alcançar nossos objetivos e conquistar espaços maiores, em todos os segmentos. Essa luta pode ser um processo longo, mas não podemos esmorecer. Veja o que ocorre no âmbito da administração federal. Só depois de muitas críticas e cobranças é que convocaram uma mulher para um cargo de alguma relevância. O que é muito pouco.;



A mulher do fim do mundo
Show de Elza Soares e banda hoje,às 19h, no Teatro da Caixa (Setor Bancário Sul). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia). Não recomendado para menores de 12 anos. Informações: 3206-6456.

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