Diversão e Arte

Em busca de contemporaneidade, Marcia Castro aposta em batida eletrônica

Em novo show e novo trabalho, a baiana adota o uso de sintetizadores. Ao Correio, ela fala sobre a mudança de estilo

Adriana Izel
postado em 06/04/2017 07:30
Marcia Castro: inspiração veio de Ramiro Musotto e do trabalho do Baiana System
Assim que a cantora baiana Marcia Castro se lançou no mundo da música, logo foi tachada como artista da nova MPB. Com três discos lançados ; Pedacinho (2007), De pés no chão (2012) e Das coisas que surgem (2014) ;, a sonoridade do trabalho de Marcia tem influências de diferentes ritmos, como samba, frevo, pop e jazz. Desde o ano passado, a cantora começou a inserir outra referência em sua carreira: a música eletrônica. ;Eu queria fazer experimentos da música eletrônica com ritmos brasileiros e baianos. Então, eu chamei o DJ Rafa Dias (responsável pelo projeto Àttooxxá), que tem um trabalho bem bacana de pagodão baiano eletrônico. Assim, surgiu o show Eletrobailada;, revela a cantora ao Correio.

O show desembarca amanhã, em Brasília, com edição no Outro Calaf, no Setor Bancário Sul. Mas a turnê do Eletrobailada começou em 2016 e passou por diversas cidades brasileiras em uma espécie de laboratório para o quarto álbum de Marcia Castro. ;Com o show começaram a vir as primeiras ideias de disco. Dentro do repertório eu fui começando a fazer as músicas. Foi o laboratório para dar origem ao quarto disco, que está quase todo pronto;, adianta. Uma das faixas do material estará no show da capital. É a única inédita da apresentação, que revisita o repertório de Marcia e traz versões de músicas de outros artistas.

Mudança para batida eletrônica

A aproximação com a música eletrônica era algo que Marcia Castro tinha em mente desde 2009, inspirada no trabalho do produtor argentino radicado no Brasil, Ramiro Musotto, que morreu naquele ano de câncer. ;Ele foi o grande inspirador da esfera eletrônica na Bahia. Eu queria muito ter feito algo com ele. E isso ficou na minha cabeça. Eu queria muito fazer esse disco;, diz. Tudo voltou à tona para Marcia por conta do trabalho do Baiana System. ;Esse movimento cresceu e esse desejo foi tomando conta de mim;, completa.

Dessa forma, o novo trabalho de Marcia Castro se afasta mais da MPB e se torna mais contemporâneo. ;Eu sempre desejei fazer um trabalho que fosse mais de corpo e dança, menos teatral, menos MPB, que dialogasse com a música contemporânea. Por isso, foi um desafio e também uma conquista;, analisa a artista, que acredita que o próximo disco será um divisor de águas em sua carreira. ;Mudou meu modo de fazer música e o jeito que eu estava trabalhando a música até então. Sai um pouco da MPB e vai para a área eletrônica;, classifica. Em processo de finalização, o material ainda não tem previsão de lançamento.

Marcia Castro

Outro Calaf (SBS, Qd. 5). Amanhã, às 22h. Show Eletrobailada da cantora Marcia Castro, além de apresentação do grupo Contém Dendê, discotecagem dos DJs Jul Pagul, Barata (Criolina), Linda Green e Capoeira SoundSystem, e intervenção poética de Marina Marra. Entrada a R$ 25 (primeiro lote) e R$ 30 (segundo lote). Valores de meia-entrada e sujeitos a alteração. À venda no site www.sympla.com.br. Não recomendado para menores de 18 anos.

Quatro perguntas / Marcia Castro

Por que você atua em uma vertente fora da axé music?

A axé music teve várias fases interessantíssimas. É um estilo musical muito rico. O problema é que virou uma música de comércio. O discurso ficou empobrecido. O Baiana System trouxe um novo conteúdo aproveitando a riqueza rítmica do estilo e renovando o conteúdo do discurso, mais ligado a questões sociais e mais antenado com o mundo contemporâneo. Faz com que seja revisto o olhar com a própria axé music, que acabou sendo muito demonizada por causa da natureza comercial do estilo.

Em seu novo material, você também busca esse discurso politizado adotado pelo Baiana System?
Na verdade, o disco transcende. Querendo ou não, nas músicas há um discurso, mas não uma questão feminista enquanto bandeira. Tudo isso esteve sempre muito implícito em meu trabalho e também no meu modo de viver. Isso persiste no disco, embora eu o ache mais autobiográfico.

Desde o início da carreira, você é uma artista independente. Isso é uma decisão sua?

Acho que hoje não é mais uma escolha. É uma realidade. As configurações do mercado estão mudando tanto. Por exemplo, há três anos, um disco para download era interessante, hoje, não faz sentido nenhum. Até artistas que antes eram vinculados a gravadoras saíram. Acho que a onda é todo mundo trilhar o mesmo caminho de ser independente.

Que balanço você faz da sua carreira?

Sou muito feliz com todas as minhas conquistas, digo que foi construída tijolo por tijolo. Nunca fui uma artista de rádio. Nunca tive que me vender ou falar algo que não acreditasse. Consigo hoje viver disso, mas claro que a gente sempre quer comunicar para mais e mais pessoas.

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