Rebeca Oliveira
postado em 29/04/2017 07:30
;Aqui estamos nós, começando a questionar se vivemos o momento ou filmamos pra guardar. Aqui estamos nós tentando não chorar. Muito novos pra crescer, muito velhos pra mudar.; Os versos de Manu Gavassi em Aqui estamos nós, faixa que integra o disco Manu, lançado na última semana, sintetizam dilemas comuns à geração Z. Prestes a entrar na vida adulta, são jovens que enfrentam o conflito de uma rotina sem o peso de tantas responsabilidades versus as cobranças de quem já sabe andar com as próprias pernas. Nascidos entre a década de 1990 e 2000, são ultraconectados. Pouco separam as vidas on e off-line.
É para eles que artistas como a cantora paulista têm dedicado parte da carreira. Não à toa, o serviço de streaming Spotify criou uma categoria de conteúdo, a TeenZ. A própria Manu Gavassi foi convidada para compartilhar as músicas preferidas na seção de convidados, a Guest list. A ela se juntam outros artistas, como o DJ Alok, além de curadores como a revista Capricho e vlogueiros nacionais.
Assim como Manu, uma dezena de artistas brasileiros se firmam entre os preferidos dos adolescentes. Mas qual seria a diferença, na prática? Eles começam na forma como se posicionam. Mais que cantores, são também influenciadores digitais. Afinal, é lá que o público está. Sozinha, Manu tem mais de 11 milhões de seguidores nas redes. Com letras autorais, o novo álbum da artista chegou à web no mesmo dia em que foi lançado no formato convencional. Uma semana antes, o clipe do single Hipnose instigou quem a acompanha e rapidamente atingiu 2 milhões de visualizações no YouTube. Na plataforma, Gavassi foi assistida outras 23 milhões de vezes.
Nua na capa de Manu, a cantora escancara uma nova fase da carreira. Como fez Miley Cyrus, ex-estrela da Disney, ao chocar o público com a nudez no clipe Wrecking Ball. Mais pop e menos folk, o disco é nitidamente influenciado pela música eletrônica. A faixa Mentiras bonitas, por exemplo, foi produzida pelo Tropkillaz (duo formado pelos DJS Laudz e Zegon). A direção musical é assinada pela artista com Felipe Simas, que também gerencia o músico Tiago Iorc e a dupla Anavitória ;outros cantores que figuram entre os queridinhos dos teens.
Duas perguntas Manu Gavassi
Manu Gavassi está na mídia desde os 16 anos. Cresceu em frente às câmeras. É, em comparação rasa, a Sandy da nova geração. Inclusive, o último EP, Vício (2015), tem produção de Junior Lima, que marcou gerações de adolescentes na década de 1990, cantando em dupla com a irmã. As semelhanças param aí. A postura da paulista é bem diferente da atmosfera angelical de Sandy.
Aos 24 anos, o status de cantora teen a incomoda?
De maneira alguma. Quando se começa muito jovem a carreira, tem aquela galera que te segue, promete gostar para sempre. Há um pouco de preconceito. Sandy, Justin Bieber, Taylor Swift, Miley Cyrus e Serena Gomez passaram por isso. Mas é um público fiel, carinhoso e que sente que te conhece de verdade. Eu divido minha vida com eles porque ela está nas minhas músicas. Tenho orgulho desse público. Eles estão crescendo comigo. Uma galera que ia aos meus shows com 12 anos, com as mães, agora leva as namoradas. Viram-me crescer e agora eu os vejo crescer.
Qualquer conteúdo voltado aos adolescentes, caso da série 13 Reasons Why, exige certo cuidado na abordagem. Você tem esse tipo de preocupação ao compor e cantar?
Eu assisti a série e acho bem complicado falar sobre ela, porque atingiu as pessoas de formas completamente diferentes. Eu penso nisso, sim, mas não carrego a responsabilidade de ser exemplo. Não sou exemplo para ninguém, não piro nessa história. Acho legal ter pessoas que admiram minha carreira e minha conduta. Tenho tido e compartilhado algumas reflexões, por exemplo, sobre o uso excessivo das redes sociais. Estamos on-line muito mais tempo do que deveríamos. Nossa vida gira em torno da internet, e não sei as consequências disso a longo prazo. Se você souber usar, continua sendo uma plataforma que te conecta com pessoas que curtem seu trabalho. Tento usar essa influência da melhor maneira possível.
Manu
Terceiro disco de Manu Gavassi. Universal, 13 faixas. Preço: R$ 24,90
Outros destaques
Quatro artistas queridinhos dos adolescentes brasileiros
Luan Santana
O astro sertanejo canta desde os 15 anos. Desde então, mantém-se no topo dos ícones teens, mesmo que tenha atingido um público de diferentes gerações. É considerado um dos primeiros ídolos do gênero. O comum, até então, era que artistas pop ou do rock ocupassem o posto.
Tiago Iorc
Assim como Luan, o cantor, que transita entre o pop autoral e o folk, tem um público vasto. Os adolescentes o amam, sobretudo pelas letras românticas (aos moldes de Amei te ver, do disco Troco likes).
Anavitória
Junto a Iorc, com quem gravou a faixa Trevo (tu), faz enorme sucesso com os teens dessa geração. Com público na casa dos 18 anos, Ana Caetano e Vitória Falcão conseguem estourar nas rádios, veículo mais tradicional, ao mesmo tempo em que explodem na web. A música mais famosa, Agora eu quero ir, teve 13 milhões de views no Youtube.
Sophia Abrahão
Como Manu Gavassi, a cantora e atriz esteve no elenco do folhetim Malhação, o que alavancou sua popularidade, há 10 anos. Mas ela não parou no tempo. Lançou discos, criou um canal de sucesso no YouTube e virou apresentadora global. Aos 25 anos, apareceu na lista da Forbes de influenciadores com menos de 30 anos.