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Saudades da Jovem Guarda? Relembre histórias do movimento musical

Jovem Guarda revelou nomes como Roberto e Erasmo Carlos, Wanderléa, Wanderley Cardoso e Jerry Adriani, que morreu recentemente

Alexandre de Paula
postado em 01/05/2017 08:59

Pessoal da Jovem Guarda marcou a história da música brasileira

Os americanos tiveram Elvis; os ingleses (e o mundo todo), os Beatles; o Brasil teve a Jovem Guarda. Ao som deles, pairava sobre alguns jovens, naquela época, a vontade de cantar o amor, de dançar e de aproveitar, quase que ingenuamente, o lado bom da vida (mesmo que por aqui, por exemplo, os canhões e as armas da ditadura marchassem sobre as ruas). O iê-iê-iê brasileiro arrastou multidões, arrasou corações e ainda hoje deixa saudade em muita gente.

Pesquisador musical e autor do livro Jovem Guarda ; Em ritmo de aventura, Marcelo Fróes conta que, de fato, os garotos e garotas daquela geração não estavam muito preocupados com nada além de aproveitar o momento. ;Eles não tinham preocupações ideológicas, até porque eram muito novos. Não eram universitários como os tropicalistas... Eles tinham outras ambições e a realidade deles era muito diferente;, explica.

Fróes também garante que eles nunca se enxergaram como um movimento ou algo do tipo. ;Nunca foi visto assim por eles. Não era um movimento. Hoje é que historicamente passou a se falar que era. A Tropicália foi um movimento, a Jovem Guarda, não. Não havia manifesto nem nada;, completa.

Para relembrar aqueles tempos, o Correio selecionou alguns dos principais personagens que marcaram os anos do iê-iê-iê.

O Rei e o Tremendão

Visto como o líder da turma da Jovem Guarda, Roberto Carlos era o mais badalado de todos. À época, ele recebia cerca de 300 cartas por semana e onde estivesse causava tumulto e frenesi. O assédio era tanto que o Rei chegou a dar declarações sobre isso no período. ;As garotas são meu maior problema;, disse.

Marcelo Fróes confirma que, de fato, Roberto Carlos sempre foi o principal entre os artistas daquela geração. ;Ele sempre foi o líder, era o Rei, mas depois ele jogou a coroa fora, saiu do movimento e deixou a turma um pouco perdida, mas todos continuaram trabalhando;, observa.

Parceiro de Roberto, Erasmo Carlos, o Tremendão, também era alvo do assédio das fãs. Na autobiografia Minha fama de mau, ele escreveu sobre o tema. ;A multidão, ávida por atenção, aguardava na saída, exigindo dos artistas um beijo, um olhar, um gesto, um sorriso ou alguma lembrança material, que poderia ser pulseiras, autógrafos, colares ou chapéus. Se bobeássemos, éramos rasgados e puxados pelos cabelos;, contou Erasmo.

Os galãs

A Jovem Guarda também tinha seus galãs, os rapazes bonitos que arrancavam suspiros do público. Cheios de estilo e com visual e penteados afiados, Jerry Adriani e Wanderley Cardoso arrasavam o coração das fãs. Romântico, Wanderley Cardoso ficou famoso com as canções Preste atenção e O bom rapaz.

Adriani começou a carreira cantando em italiano, mas logo enveredou pelos caminhos do pop e do iê-iê-iê. Ele substituiu Wanderley Cardoso no programa Jovem Guarda, da Record. Inclusive, isso gerou uma disputa entre eles, estimulada por gravadoras e fãs. Anos depois, eles garantiram que se tornaram amigos.

Jerry morreu no último dia 23 e deixou escrita uma biografia que será lançada em breve pela editora Sonora, do próprio Marcelo Fróes. O pesquisador foi o escolhido de Jerry para auxiliá-lo na produção do livro. ;Ele me entregou tudo o que precisa. A parte que ele tinha que fazer já está pronta. O resto será feito. O projeto está de pé;, garante Fróes.

As divas

Ao lado de Roberto e Erasmo, Wanderléa era uma das principais estrelas da Jovem Guarda. O modo irreverente de se apresentar atraía a atenção do público e fez dela um ícone. Além do sucesso com as músicas, ela influenciou o estilo de muitas mulheres da época, com minissaias, botas, calças bocas de sino, pernas de fora e os famosos cabelos jogados ao vento. Recentemente, Wanderléa estreou o espetáculo 60! Década de arromba ; Doc. musical, que trata justamente do período da Jovem Guarda.

Outra diva do período foi a cantora Martinha. Pianista clássica, ela foi apadrinhada por Roberto Carlos, que a apelidou de Queijinho de Minas. Ela fez sucesso com Eu daria a minha vida, mais tarde gravada pelo Rei. Em entrevista ao Correio em 2013, ela falou sobre a despretensão do movimento: ;A gente fazia tudo de modo muito infantil e, sem querer, isso amenizava um pouco aquele estado político tenso;, justificou.

Em outro canal

Eduardo Araújo também tinha um programa na televisão. Porém, ao contrário dos colegas que se apresentavam na atração Jovem Guarda, na Record, ele trabalhava na Excelsior. O bom, mesmo nome de seu maior sucesso, era transmitido aos sábados e também contava com números musicais.

Pela rivalidade, porém, ele não podia receber artistas da outra emissora. ;Tivemos muita dificuldade no começo, pois o pessoal da Record proibia os artistas de tocarem em outro canal. Eu tinha que inventar;, disse em entrevista ao Correio, em 2013. A rivalidade, garantiu, era só entre os canais.

Algumas bandas como Renato e seus Blue Caps, The Fevers e Golden Boys também fizeram sucesso na época e agitaram a juventude brasileira na década de 1960.



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