Nahima Maciel
postado em 07/05/2017 07:30
No prefácio de Bob Dylan ; Letras (1961-1974), Caetano Galindo avisa que passou longe da tradução poética das letras do Prêmio Nobel. Não queria ; nem podia ; se concentrar no ritmo e na métrica porque o conteúdo literário dos versos se impunha. É, portanto, uma versão literária das letras do primeiro período de produção de Dylan que aparece traduzida nesse primeiro volume publicado pela Companhia das Letras.
A vertente narrativa da música do norte-americano influenciou na decisão de fazer uma tradução literária. ;Foi uma decisão da editora, desde o princípio. Ele é também um contador de histórias. E pareceu interessante fornecer essa leitura do ;conteúdo; das letras, especialmente em se tratando de uma bem cuidada edição bilíngue;, avisa. Fotos do cantor e anotações de próprio punho intercaladas às letras das canções dão um toque leve à edição.
Galindo aprendeu inglês tardiamente. Nunca estudou a língua nem morou fora. Aprendeu, como gosta de dizer, ;por osmose;, comparando as legendas dos filmes, ouvindo música e cantando. ;Até que, em 1993, logo antes de fazer 20 anos, precisei comprar, num show de Pat Metheny, uma camiseta da turnê e o pessoal só falava inglês. E aí eu descobri que falava (inglês)!”, conta. O aprendizado descompromissado e o acaso do show acabaram por levar Galindo para o mundo das traduções, do qual tem saído com trabalhos de peso assinados por gente como David Foster Wallace, James Joyce e Thomas Pynchon.
Dylan foi um caso, digamos, mais complicado. Galindo nunca gostou muito do cantor até receber a encomenda da editora. E sabia que traduzir coisas das quais se desgosta podia ser uma tortura. À medida que destrinchava a obra de Dylan, a postura mudou. ;Foi uma coisa cumulativa, mas a tradução de Visions of Johanna foi um momento marcante;, explica. O tradutor ficou pasmo com alguns aspectos da obra do cantor e compositor. ;(Como) a permanente reinvenção. O imenso repertório de imagens e vozes;, diz.
Quando Dylan ganhou o Nobel, em dezembro de 2016, Galindo achou bom o reconhecimento da canção. Em seguida, matutou: a academia sueca costuma ser sovina com prêmios dedicados a americanos e agora, com um americano premiado, levaria décadas para voltar a laurear alguém dos Estados Unidos. Mesmo assim, Dylan mereceu o prêmio e tem a seu favor o fato de fazer músicas atemporais. Foi, também, uma das coisas que Galindo descobriu enquanto trabalhava na tradução: ;Acho que elas sobrevivem muito bem. E vejo que foi muito acertada a decisão dessa tradução quase ;prosaica;. É no que elas têm a dizer que elas se mostram mais atuais;. O segundo volume já está pronto e entregue, embora ainda sem data para ser publicado. O lançamento, Galindo especula, deve ser em 2018.
Bob Dylan ; Letras (1961-1974)
Letras de Bob Dylan. Tradução: Caetano Galindo. Companhia das Letras, 640 páginas. R$ 89,90.
A vertente narrativa da música do norte-americano influenciou na decisão de fazer uma tradução literária. ;Foi uma decisão da editora, desde o princípio. Ele é também um contador de histórias. E pareceu interessante fornecer essa leitura do ;conteúdo; das letras, especialmente em se tratando de uma bem cuidada edição bilíngue;, avisa. Fotos do cantor e anotações de próprio punho intercaladas às letras das canções dão um toque leve à edição.
Galindo aprendeu inglês tardiamente. Nunca estudou a língua nem morou fora. Aprendeu, como gosta de dizer, ;por osmose;, comparando as legendas dos filmes, ouvindo música e cantando. ;Até que, em 1993, logo antes de fazer 20 anos, precisei comprar, num show de Pat Metheny, uma camiseta da turnê e o pessoal só falava inglês. E aí eu descobri que falava (inglês)!”, conta. O aprendizado descompromissado e o acaso do show acabaram por levar Galindo para o mundo das traduções, do qual tem saído com trabalhos de peso assinados por gente como David Foster Wallace, James Joyce e Thomas Pynchon.
Dylan foi um caso, digamos, mais complicado. Galindo nunca gostou muito do cantor até receber a encomenda da editora. E sabia que traduzir coisas das quais se desgosta podia ser uma tortura. À medida que destrinchava a obra de Dylan, a postura mudou. ;Foi uma coisa cumulativa, mas a tradução de Visions of Johanna foi um momento marcante;, explica. O tradutor ficou pasmo com alguns aspectos da obra do cantor e compositor. ;(Como) a permanente reinvenção. O imenso repertório de imagens e vozes;, diz.
Quando Dylan ganhou o Nobel, em dezembro de 2016, Galindo achou bom o reconhecimento da canção. Em seguida, matutou: a academia sueca costuma ser sovina com prêmios dedicados a americanos e agora, com um americano premiado, levaria décadas para voltar a laurear alguém dos Estados Unidos. Mesmo assim, Dylan mereceu o prêmio e tem a seu favor o fato de fazer músicas atemporais. Foi, também, uma das coisas que Galindo descobriu enquanto trabalhava na tradução: ;Acho que elas sobrevivem muito bem. E vejo que foi muito acertada a decisão dessa tradução quase ;prosaica;. É no que elas têm a dizer que elas se mostram mais atuais;. O segundo volume já está pronto e entregue, embora ainda sem data para ser publicado. O lançamento, Galindo especula, deve ser em 2018.
Bob Dylan ; Letras (1961-1974)
Letras de Bob Dylan. Tradução: Caetano Galindo. Companhia das Letras, 640 páginas. R$ 89,90.