O mercado de arte brasiliense não chega a ser incipiente, mas é pequeno para uma leva de jovens artistas pertencentes a uma geração cujo desejo é expandir fronteiras e experimentar desafios. A quantidade reduzida de espaços ; há cerca de seis galerias independentes e três institucionais, de grande porte ; limita as oportunidades. Boa parte da geração de artistas tem idade entre 25 e 30 anos e trabalho reconhecido, que circulou por praticamente todos os espaços expositivos da cidade. Agora, é hora de explorar outros territórios.
Nos últimos três anos, David Almeida, Alice Lara, Pedro Ivo Verçosa, Virgílio Neto, Renato Rios e Camila Soato trocaram Brasília por São Paulo. Além do ateliê, levaram na bagagem a certeza de que precisam adquirir experiência em mercado maior. Formados na capital, acostumados ao circuito de galerias independentes e institucionais da cidade, eventualmente listados em prêmios como o Pipa e Marcantônio Vilaça, eles encaram o universo paulistano das artes plásticas como um terreno capaz de garantir um lugar no cenário nacional.
Premiada no Arte Pará de 2012 e no 22; Salão Anapolino de Arte, Alice Lara, 29 anos, percebeu que, se não saísse de Brasília, o trabalho não ganharia mais visibilidade. ;Você vê artistas mais jovens com o trabalho menos maduro, mas que alcançam essa visibilidade por estarem em um lugar que permite isso;, explica. Alice começou a fazer uma disciplina como aluna especial na Universidade de São Paulo (USP), uma forma de manter contato e colaboração com artistas da cidade. ;Aqui existe muito mais profissionalismo na área, as pessoas entendem com mais facilidade que nós somos profissionais e que precisamos de recursos para executar isso;, garante Alice.
Para David Almeida, 27, sair de Brasília foi um movimento natural. Há oito meses em São Paulo, ele já tem ateliê e frequenta um grupo de estudos. Ainda não fez nenhuma exposição, mas acredita que, na capital paulista, as oportunidades são mais numerosas e o mercado, mais movimentado. ;Aqui é muito mais amplo;, explica. ;Tem mais oportunidade de se encaixar num espaço que tenha a ver com você. Em Brasília, o circuito é determinado, fechado, e você fica dando voltas nos mesmos lugares.; O artista aponta o mercado brasiliense como novo demais e, por isso, ainda sem condições de absorver a quantidade de artistas com boa produção na cidade. ;E é protecionista, fica todo mundo indo para o mesmo espaço. Em São Paulo, o circuito é amplo o suficiente para entender as manifestações individuais de cada artista;, diz David. Ele acredita que, devido ao tamanho da cidade, à maior variedade de espaços de todos os tipos, dos institucionais aos independentes, e à quantidade maior de artistas, as trocas são mais frequentes e proveitosas.
Ateliê
Virgílio Neto, 30, e Pedro Ivo Verçosa, 31, fizeram o mesmo movimento. Alugaram um espaço juntos com a intenção de dar sequência à experiência coletiva que desenvolviam em Brasília. Num galpão na Barra Funda, funcionará um misto de ateliê e espaço de movimentação cultural destinado a exposições, grupos de estudo e cursos. Verçosa está na cidade há dois anos. Em Brasília, tinha visibilidade e vendas razoáveis, mas sentia que o mercado era restrito. ;Sentia isso, mas sem ter vivido de perto outro mercado. Então, resolvi vir para São Paulo;, conta. ;Cheguei e me assustei com o tamanho das estruturas. O mercado não é melhor ou pior, é muito diferente. Brasília não oferece tantos desafios e aqui é um desafio todo dia.;
Com uma cena mais estruturada de galerias e instituições, o artista acredita que seu trabalho será melhor compreendido e apresentado. ;Tem uma coisa mais de nicho, eles entendem qual a minha colocação. Levei um tempo para entender como queria trabalhar e optei por não ir atrás de galeria e por montar um espaço;, garante. Além de Virgílio, o Vão, na Barra Funda, terá ainda o ilustrador Julio Lapagese, que também trocou Brasília pela cidade da garoa.
A vontade de ter o trabalho visto por um circuito diferente e maior levou Virgílio Neto para São Paulo. Em 2016, ele terminou o mestrado e realizou duas residências, uma na capital paulista e outra na Bahia. Passou boa parte do ano circulando e, ao voltar, sentiu que o espaço estava reduzido. O mercado de Brasília, ele constatou, é pequeno e limitado. ;Ele está crescendo, com colecionadores mais novos que estão comprando e, inclusive, meu trabalho tem uma boa saída em Brasília. A vantagem em São Paulo é que as galerias têm outros contatos, com curadores e pessoas de outras instituições. É um leque mais amplo e com outra circulação;, constata.
Residência artística
Um programa de residência artística na Faap também fez Renato Rios acalentar a ideia de deixar a cidade natal. A possibilidade de contato e troca artística para além das fronteiras do Distrito Federal despertou a certeza de que era hora de tentar. Um amigo achou uma casinha com aluguel acessível na Vila Mariana, perto do Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC/USP).
Em maio do ano passado, Rios estava instalado bem ao lado de um dos acervos mais importantes da América Latina. ;Decidi ficar porque, em Brasília, já tinha feito todos os circuitos;, justifica. ;Não estava mais motivado. Aqui, o contato com o meio artístico é mais plural, mais ligado à arte contemporânea global. Isso foi importante para situar meu trabalho um pouco fora de Brasília.;
O mais curioso da experiência, que completou um ano em maio, foi a maneira como o trabalho de Rios foi identificado em São Paulo. ;Muita gente me pergunta de onde vem;, revela. O artista acabou por concluir que o fato de ter uma formação visual numa cidade como Brasília, nascida de um pensamento estético muito claro, influencia a produção local.