Isabella de Andrade - Especial para o Correio
postado em 11/05/2017 17:38
Nascido a partir da investigação e dos processos experimentados pelo universo feminino, o espetáculo Copo de leite abre amanhã sua temporada no Plano Piloto. Os artistas criadores são integrantes da cia. (Ex) Ordinária de teatro e o texto foi construído colaborativamente pelo grupo. No elenco, Gabriela Correa, atriz que marca presença no Cena Contemporânea de 2017 com a peça Duas gostas de lágrimas num frasco de perfume. Para ela, é preciso abrir espaço para as mais diversas narrativas na produção atual.
;Ultimamente, tenho trabalhado com peças que voltam o olhar do espectador para experiência feminina, seja ela qual for e onde for. É fundamental dar voz às minorias, que historicamente têm sido caladas, interpretadas e representadas erroneamente;, afirma. Para ela, esse é o momento mais propício para o questionamento no palco. ;Vivemos um período de radicalizações e retrocessos, então, é sempre hora de mostrar que o diálogo precisa acontecer;. Em cena, diferentes momentos da vida de uma mulher ganham destaque, com percepções e vivências diversas.
A direção fica por conta de Gustavo Gris e o assistente de direção Deni Moreira. Gustavo conta que o texto tem caráter autobiográfico e leva grande participação das atrizes em sua dramaturgia. ;Entramos mais para dirigir como um maestro que ajuda a harmonizar as diferentes nuances da obra;, afirma o diretor. O texto inclui confissões das atrizes, experiências pessoais e relatos criados para o espetáculo.
A ideia é dizer ao público que todas as mulheres importam, propondo o fim da idealização de cada uma. Com ampla diversidade e pensamentos diferentes em cena, Copo de leite se desafia a mostrar aquilo que une todas as mulheres em uma mesma batalha. É esse o olhar que seus criadores querem mostrar.
Duas perguntas para Gabriela Correa
Como é atuar em um espetáculo em que fantasia e elementos autobiográficos se misturam no texto?
Há muito de nós mesmas em cena, embora falemos de muitas outras coisas que não necessariamente vivemos em nossas vidas. Mas a verdade é que emprestamos muito de nossas próprias vivências para o texto e para a encenação, isso era uma proposta de criação desde o princípio no grupo. Ao mesmo tempo que focamos em determinadas mulheres e determinadas experiências, todas ainda fazem parte do nosso universo.
Como foi o seu processo criativo para o espetáculo em relação ao texto e ao trabalho de interpretação?
Optamos por construir uma dramaturgia que não tivesse compromisso com cronologia ou linearidade. Foi mais interessante ir descobrindo como as cenas iam se desenrolando, qual era o fio da meada. O texto veio principalmente de conversas nossas, questionários, momentos em que a gente se abria; mas também nos alimentamos de documentários, livros e outras fontes de inspiração. Pra mim, colocar esse material em cena foi um exercício de tentativa e erro. Íamos tateando, sentindo a forma que a encenação fluía melhor, sempre com muita liberdade de proposição. Nosso diretor Gustavo Gris e o Deni Moreira, como diretor-assistente, sempre nos deram muita liberdade para investigar, propor. É muito legal sentir essa liberdade. Na peça, por exemplo, tem uma cena que canto uma parte da Habanera, de Carmen, enquanto falo um texto. Mas eu nunca consigo fazer bonito, eu sempre desafino e fico muito cansada.O Gustavo então me propôs que eu desistisse de buscar a afinação e mostrasse pro público minha dificuldade, com muita honestidade. Isso é muito interessante.
Serviço
Espetáculo Copo de leite, com a cia. (Ex) Ordinária, de 12 a 14 e 19 a 21 de maio, na TAO Filmes (SCLRn 711 Bl. C lj. 5), às 20h30. A entrada é franca e a classificação indicativa é de 16 anos.