Diversão e Arte

Palestra celebra os 50 anos de 'Cem anos de solidão'

Especialista na obra de García Márquez fala sobre o romance mais famoso do colombiano

Nahima Maciel
postado em 17/05/2017 07:30
Gabriel García Marquez e Ariel Castillo Mier:  a importância do jornalismo para chegar até a obra-prima Cem anos de solidão

A experiência jornalística foi fundamental para Gabriel García Márquez chegar à intrincada trama de Cem anos de solidão. Muita pesquisa e, sobretudo, a necessidade de se comunicar com o leitor, coisa que o colombiano já havia compreendido como vital durante a prática jornalística nos anos 1940, guiaram a confecção de um dos romances mais famosos da literatura latino-americana. Foi esse processo de criação da obra que Ariel Castillo Mier, professor da Universidade do Atlântico, em Barranquilla (Colômbia), e especialista na obra do Nobel, escolheu esmiuçar em palestra marcada para hoje, como parte do Ciclo e Encontros Literários Latino-Americanos.

Traduzido em 35 idiomas, o romance foi publicado em maio de 1967 por uma editora argentina, em Buenos Aires. Até hoje, vendeu mais de 50 milhões de exemplares, o que faz da saga de Márquez o maior sucesso da literatura latino-americana no século 20. Por isso, faz todo sentido, aos olhos do professor Mier, comemorar os 50 anos de nascimento da obra, um dos propósitos da palestra de hoje.

;A ideia é mostrar o processo formativo de García Márquez para chegar a Cem anos de solidão. Minha fala vai voltar às raízes jornalísticas do romance;, avisa Mier. Ele parte do assassinato de José Eliécer Gaitán, escritor e líder político cuja morte deu início a longo período de violência conhecido como Bogotazo, para mostrar como García Márquez mergulhou nos estudos para o romance.

Após o assassinato, o escritor precisou se afastar de Bogotá e se instalou em Cartagena, onde se concentrou na escrita de Cem anos de solidão. ;Foi a volta dele à costa colombiana. Essa volta foi como uma viagem simbólica e permitiu que reencontrasse suas raízes e mudasse o rumo de sua literatura para orientá-la para o que se tornou;, explica o professor. ;Muita gente que vê García Márquez com sua vestimenta um pouco erética e desordenada poderia pensar que é um escritor sem maior formação, mas é um escritor cuja obra é resultado de um trabalho muito cuidadoso e muito árduo.;

Contemporâneo

O jornalista, Mier defende, mudou os rumos do escritor. Cinquenta anos depois de ter sido publicado, Cem anos de solidão segue atual e pode ser lido como um guia para compreender parte da história da América Latina. Macondo, povoado no qual se passa boa parte da história, nunca existiu geograficamente, mas se tornou uma das metáforas mais precisas (e uma das maiores especulações) da história do continente.

;Macondo é como uma síntese de muitos povos. Há 100 anos de história ali, desde a comunidade indígena, a chegada dos conquistadores espanhóis, as lutas de independência e, por último, a visita desastrosa dos Estados Unidos com a Companhia Bananeira, que submeteu o povo de Macondo à ruína total. Esses 100 anos condensam toda a histórias da América Latina, com seus governos ruins frequentes e com um grande problema de comunicação entre seus habitantes;, acredita.

Para quem se aventura à leitura do romance hoje, a postura deve ser a mesma daquela praticada pelos primeiros leitores. Ler o livro hoje, 50 anos após sua publicação, continua sendo um exercício de sonho e fantasia. Ariel Mier sugere que os novos leitores encarem o romance com a mesma inocência que se ouve as histórias narradas pelos avós.

;Temos que estar abertos a que a obra nos emocione, nos assombre e nos devolva essa espécie de felicidade da infância que desfrutamos com um conto como se fosse a experiência mais importante da vida;, diz. Ajuda também deixar um pouco de lado o fato de o romance ser um dos maiores livros já escritos no continente latino-americano. Antes disso, ele lembra, é uma obra agradável até nas situações mais dramáticas e tristes. E a literatura, vale lembrar, é um jogo capaz de levar o leitor a desfrutar até mesmo do que é trágico e inevitável.

"Macondo é como uma síntese de muitos povos. Há 100 anos de história ali, desde a comunidade indígena"

Ariel Castillo Mier, pesquisador

3 obras essenciais


Especialista na obra de García Márquez fala sobre o romance mais famoso do colombiano

Cem anos de solidão; (1967)

É considerada a obra-prima de Garcia Marquez e chegou a ser definido comparado com o clássico Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Traduzido para 35 idiomas, já vendeu mais de 50 milhões de exemplares. A narrativa em tom de realismo fantástico acompanha a trajetória de uma família na mítica cidadezinha de Macondo.


Especialista na obra de García Márquez fala sobre o romance mais famoso do colombiano

O amor nos tempos do cólera (1985)

Nessa ficção, o escritor colombiano reconstitui a paixão de seu pai, também chamado Gabriel, por sua mãe, Luiza. A trama é impregnada de lances dramáticos, pois o pai de Luiza não tinha a menor simpatia pela relação e fazia de tudo para atrapalhar o romance.


Especialista na obra de García Márquez fala sobre o romance mais famoso do colombiano

Viver para contar (2002)

Nesta autobiografia, García Marques evoca o início de carreira, a infância, as origens do realismo fantástico e suas aventuras jornalísticas, laboratório e manancial de muitas das histórias narradas pelo escritor.


SERVIÇO

Gabriel García Márquez: o errante sem fim de um Nobel caribenho Palestra com Ariel Castillo Mier. Hoje, às 19h, no Anfi 09 (Campus Darcy Ribeiro ; Universidade de Brasília)

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