Diversão e Arte

Artista plástica Lygia Pape é tema de exposição em novo polo de arte

Expoente do neoconcretismo, as obras serão expostas em Nova York

Elizeu Chaves Jr - Especial para o Correio
postado em 20/05/2017 07:30

A artista plástica Lygia Pape e  a  hora Tecelar 1: representações geométricas


O Met Breuer, filial do Metropolitan Museum dedicada à arte moderna e contemporânea, tem se destacado, desde sua inauguração, por contar com uma cuidadosa curadoria de exposições de artistas do século 20. É, portanto, digno de nota que o museu esteja dedicando até 31 de julho um andar inteiro à vida e à obra da brasileira Lygia Pape (1927-2004). Intitulada Multitude of forms (Múltiplas Formas, em tradução livre), trata-se da primeira exposição monográfica nos Estados Unidos dedicada ao trabalho da artista, lembrada pelos organizadores como uma figura-chave no desenvolvimento da arte moderna brasileira.

A exposição retrata o estilo peculiar de Lygia, que traz amplo emprego de figuras abstratas e representações geométricas em gravuras simbolizando as ideias de tempo e espaço e o uso de múltiplas formas de expressão: esculturas, instalações, fotografias, filmes e vídeos com performances cênicas. O caráter intuitivo da produção da artista ficou patente em uma das obras presentes na mostra ; a apresentação do primeiro balé neoconcreto no teatro do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, em 1958, inspirada em um poema concreto de Reynaldo Jardim, em que palavras são representadas por meio de estruturas de madeira.

Sobre o neoconcretismo que tem Lygia Pape como um dos principais expoentes, Mário Pedrosa observou, com acuidade, que a arte neoconcreta era ;a pré-história da arte brasileira;. Tal definição não pode ser entendida em termos literais e sublinha o caráter radical do movimento neoconcreto: pré-histórico, na medida em que questiona os fundamentos da linguagem artística vigente e propõe uma volta ao ;começo; da arte, sem as amarras das categorias convencionais.

Na escultura, por exemplo, a ideia era destruir a base e construir objetos que pudessem ser expostos em qualquer posição. Já na pintura, não haveria moldura, a obra avançaria no espaço. Uma das várias obras de Lygia Pape, seu Livro da Criação, onde se narra a criação do mundo sem limites de palavras, mas por meio de artes plásticas.

A polivalência e intensidade da artista estão presentes na mostra, incluindo parcerias com expoentes do Cinema Novo, como Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos, design de posters de produção e uma série de curta metragens experimentais. Em um dos curtas Catiti-Catiti (1978) em preto e branco é possível ver figuras de Tarsila do Amaral, imagens de Ipanema e textos sobre o processo de descolonização do Brasil. Em la nouvelle creation de 1967, a figura de um astronauta caminha pelo espaço por meio de uma linha que remete à ideia de um cordão umbilical.

Pode-se dizer que o curta encontra paralelos com 2001: Uma odisseia no espaço, de Kubrick, que surgiria um ano depois e viraria uma das maiores obras de ficção científica de todos os tempos. Em ambos, é a perplexidade humana perante a grandiosidade do cosmo e aludida na figura de um bebê, ainda que, obviamente, com estéticas e abordagens singulares. Essa é apenas uma das inúmeras demonstrações da riqueza e extensa pertinência do trabalho de Lygia Pape, apropriadamente valorizados na exposição.

Elizeu Chaves Jr. é sociólogo.

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