O violonista Álvaro Henrique pensou que a melhor forma de homenagear Heitor Villa-Lobos seria ensinar ao público quem é o autor das Bachianas brasileiras tocando nada menos que 23 peças do compositor. Com a intenção de fazer um verdadeiro perfil da produção do carioca, Henrique criou o FestVilla, um pequeno festival em cinco concertos durante os quais vai tocar boa parte da obra de Villa-Lobos escrita para violão. E como os concertos acontecem no auditório do Instituto Cervantes, o instrumentista decidiu incluir correspondências de origem hispânicas, então vai tocar também compositores que, como Villa, trouxeram para a música mistura de referências populares e eruditas.
A empreitada começa hoje, com um pequeno passeio pelos cinco prelúdios do compositor, que dividem o repertório com Hommage pour le tombeau de Debussy, do espanhol Manuel de Falla. Compostos em 1940, os prelúdios foram a última obra para violão solo composta por Villa-Lobos. ;É uma obra da maturidade, quando ele já era consagrado. Ele decidiu dedicar cada prelúdio a um elemento da cultura brasileira, então tem homenagem ao sertanejo, ao índio, ao carioca;, explica Henrique, que decidiu fazer de cada apresentação uma experiência didática.
Durante o recital de hoje, as conversas com o público estarão em plano tão importante quanto a música. O violonista vai explicar a dinâmica e a melodia contida em cada peça, seu significado, em que parte se conectam com o tema homenageado e o que representam na obra do compositor. ;Quero que seja uma oportunidade de ouvir, mas também de saber mais sobre a música dele;, avisa. ;Vão ser recitais didáticos. É uma forma de as pessoas terem contato com a música do nosso maior compositor e voltarem para casa com alguma informação que elas não tinham antes.;
Marcado para junho, o segundo concerto traz os choros da Suite popular brasileira, uma das obras mais delicadas de Villa-Lobos, na qual conversa com a MPB e traz para a tradição clássica e barroca de valsas, gavottas e mazurkas o compasso melancólico do chorinho. No programa deste recital, Henrique incluiu duas peças cujas partituras estavam perdidas ou esquecidas e foram redescobertas há pouco mais de uma década. É o caso da Valsa choro, terceiro movimento da Suite popular brasileira. A peça é bastante conhecida e uma das mais populares da obra, escrita entre 1908 e 1920.
No entanto, em 2006, o violonista francês Fréderic Zigante encontrou uma primeira versão do trecho durante um trabalho de revisão da Suite. É essa versão que Henrique vai executar no palco do Cervantes. Ele também incluiu no repertório a Valsa concerto n; 2, descoberta pelo pianista e pesquisador Amaral Vieira em um sebo de partituras em São Paulo. A intimidade de Villa-Lobos com o choro e o violão era praticamente de uma vida inteira. O compositor foi introduzido ao instrumento durante a infância, por volta dos sete anos, e cresceu ao som de seresta e choro. Jovem, chegou a tocar em um grupo e, mais tarde, escreveu mais de 40 peças para violão solo.
Para uma terceira temporada, Henrique programou os 12 Estudos, uma das ;primeiras obras de concerto significantes;, segundo o pesquisador e violonista Orlando Fraga. Seriam, de acordo com análise publicada por Fraga em 2007, ;uma síntese do pensamento estético de Villa-Lobos;. Os estudos são obrigatórios para violonistas que mergulham na obra de Villa-Lobos e são peças muito tocadas em concertos de violão erudito no mundo inteiro.
A melodia é a estrela do terceiro recital, cujo programa será dividido com peças de Astor Piazzola. Obras bem conhecidas, como Canção de amor, Modinha e a Ária da Bachiana n; 5, que contará com a voz de Denise Tavares, entraram para o repertório ao lado de Night club, Café e Bordel, de Piazzola. Para a última apresentação ficaram as peças orquestrais, como as Bachianas brasileiras n; 1, 4 e 9, Introdução ao choros e Choros n; 1, com participação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro (OSTNCS) e da Orquestra metropolitana. Entra aqui também o Sexteto místico, peça rara em repertórios dedicados a Villa-Lobos e partitura controversa, escrita originalmente em 1917 e reescrita mais de quatro décadas depois. É um repertório bastante completo que o violonista propõe nesses cinco concertos. ;A gente quer, mais que homenagear Villa-Lobos, mostrar o legado e a influência dele;, avisa Henrique.
FestVilla ; 1; TEMPORADA
Recital com o violonista Álvaro Henrique. Repertório: Cinco Prelúdios (Heitor Villa-Lobos) e Hommage pour le tombeau de Debussy (Manuel de Falla). Hoje (dia 25 de maio), às 20h, e domingo (dia 28), às 17h, no Auditório do Instituto Cervantes (707/ 907 sul). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia).