Diversão e Arte

Fagner se apresenta neste sábado em Brasília

Cantor estará acompanhado de orquestra. No repertório, clássicos de várias gerações, como Borbulhas de amor, Canteiros, Deslizes e Revelação

Irlam Rocha Lima
postado em 27/05/2017 07:30

Fagner se apresenta com Orquestra Brasília Sinfônica, sob a regência do maestro Joaquim França

Com ênfase, Raimundo Fagner costuma reafirmar a importância de Brasília em sua vitoriosa trajetória artística. Como é sabido, foi aqui, em 1971, que ele iniciou a carreira musical, ao vencer o 1; Festival do Ceub, com Mucuripe, dele e do parceiro Belchior. A canção viria a se tornar um clássico da MPB, após ser gravada por Roberto Carlos e Elis Regina.


O cearense de Orós, filho de um imigrante libanês, chegou à capital federal um ano antes, vindo de Fortaleza. Matriculado no curso Pré-Universitário, preparou-se para o vestibular da UnB. Aprovado, foi por dois semestres aluno do curso de administração, interrompendo-o ao decidir radicar-se no Rio de Janeiro. Ali, a partir da gravação de Manera Fru Fru, manera, o disco de estreia, se fez conhecido nacionalmente.

Quarenta e cinco anos depois, nome consagrado da canção brasileira, com mais de 30 títulos em sua discografia, Fagner mantém relação afetiva com a cidade que o projetou, onde conserva grandes amizades e se apresenta frequentemente. Em seu retorno, vive uma nova experiência, hoje, às 21h, ao subir o palco do auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, para ser acompanhado pela Orquestra Brasília Sinfônica, sob a regência do maestro Joaquim França.


[SAIBAMAIS]


Entrevista/ Raimundo Fagner


Qual sentimento você vive, quando vem a Brasília?
É o de voltar para casa. Brasília mudou minha vida, pois era um jovem sem grandes perspectivas. Morava na casa da minha irmã, me preparava para o vestibular no curso Pré-Universitário, onde conheci pessoas de quem me tornei amigo. Era próximo de Ricardo e do Roberto Torres e costumava frequentar o apartamento dos pais deles na 114 Sul. Foram os dois que inscreveram minhas músicas no Festival do Ceub. Com Mucuripe foram inscritas Cavalo ferro (em homenagem a Brasília), Moto 1 e Manera Fru Fru, manera. Além de ter vencido o festival com Mucuripe, ganhei prêmios como arranjador e intérprete.


Como foi a repercussão da vitória no festival?
A repercussão maior foi na UnB, onde eu estudava. Não podia andar pelo Minhocão, pois era parado pelas pessoas, que vinham falar comigo sobre o festival. Mas isso demorou pouco, pois logo fui para o Rio. O Belchior, que foi a Brasília pegar a parte dele do prêmio, convenceu minha família, que eu deveria vir para o Rio e virou meu tutor.


Você conheceu o Clodo Ferreira naquela época?
Só vim a conhecê-lo no segundo festival do Ceub, do qual fui jurado. Clodo foi vencedor, com Placa luminosa. Rodger Rogério, Fausto Nilo, que eram ligados à UnB, me falaram bem dele. Eu me lembro que, naquele tempo, ele era ainda mais tímido do que hoje. Mas, desde então, somos amigos e, além de parceiro, o tenho como um irmão.


Quando ele te mostrou Revelação, que veio a ser um dos seus maiores sucessos?
Sempre vinha a Brasília para visitar minhas irmãs. Certa vez, ele foi ao meu encontro na casa da Elizeth, no Lago Sul, e me mostrou Revelação. De cara achei uma canção muito bonita, de bela melodia e letra bem construída, com começo, meio e fim. Na gravação, toquei piano, e veio aquela guitarra diferenciada do Robertinho do Recife, com aquele som pop, diferente do que se ouvia.


Consta que essa foi sua primeira música a tocar nas rádios AM. É isso mesmo?
Vivia-se na época um namoro com as FMs, mas eu queria ter música tocada nas AMs, pois meu perfil era outro, mais elitizado. Quando os programadores das AMs ouviram Revelação, uma música em que eu soltei a voz, mostrando mais vigor na interpretação, passaram a tocar sem parar, e aí cheguei a todos os segmentos do público, pois viam ali uma leitura diferente da MPB. Desde então, Revelação nunca mais saiu do repertório dos meus shows.


Que outras músicas do Clodo você gravou?
Gravei, por exemplo, Cordas de aço, Meio dia, além de Se o amor vier, que é uma parceria nossa. Sempre que me encontro com ele, logo começamos a compor. Temos muita coisa que não foi concluída. Agora estou compondo também com o Climério (irmão de Clodo). Ele me mandou um poema, já musiquei e devolvi para ele.


Agora, na volta a Brasília, você faz um concerto acompanhado por uma orquestra sinfônica. Havia tido essa experiência?
Gravei dois DVDs com uma orquestra sinfônica, em Curitiba; e certa vez, numa apresentação no Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza, fui acompanhado por uma orquestra. Gostei dessa experiência, pois é uma maneira interessante de fazer nova leitura de minha música. Para o concerto em Brasília, o maestro Joquim França criou com os músicos da orquestra arranjos para músicas como Borbulhas de amor, Canteiros, Deslizes, Revelação e Quem me levará sou eu, além de algumas lados B.


Na sua avaliação, qual foi a contribuição de Belchior para a música brasileira?
Belchior era uma pessoa culta, com um grande conhecimento literário. O via como o maior poeta da minha geração. No começo da minha carreira, quando cheguei ao Rio, ele tomou conta de mim, como um paizão. Além de Mucuripe, fizemos poucas músicas juntos e não foi por falta de vontade dele. Quando nos conhecemos, em 1968, num festival no Teatro José de Alencar, em Fortaleza, eu ainda era adolescente. Venci o festival com Nada sou e ele concorreu com Espacial. Na noite seguinte, nos falamos pela primeira vez no Bar do Anísio, na Avenida Beira Mar. Foi lá onde surgiu nossa parceria em Mucuripe. Como passar do tempo, nos víamos muito pouco, até porque ele foi morar em São Paulo e ia pouco a Fortaleza. Aliás, aqui, ali, Belchior sumia de todo mundo, mas nunca foi esquecido pelos cearenses.


Fausto Nilo é o seu parceiro mais constante?
Gravei mais de 30 músicas que fizemos em parceria. Agora mesmo estamos preparando músicas para um segundo álbum com Zeca Baleiro.


A música que se ouve atualmente nas diferentes mídias lhe chama a atenção?
Prefiro te responder de outra forma. Cada vez mais tem gente que me procura para reclamar da qualidade da música que ouve hoje em dia. Mas, democraticamente, acho que deva ter espaço para todos.


Quem você destaca entre os compositores e intérpretes da nova geração?
Gosto do trabalho da Roberta Campos, com quem estou iniciando parceria; e vejo a Céu como uma intérprete interessante.


Expert em futebol, que expectativa forma em relação a Seleção Brasileira que vai à Copa do Munda da Rússia?
Acredito que temos boas chances para conquistar a Copa da Rússia. Com o Tite no comando, a Seleção vem tendo atuações convincentes. Outras candidatas, como Alemanha, Espanha e Holanda vivem processo de renovação e não tem o poderio de antes. França e Itália sempre estão entre os favoritos, mas não sei como chegarão a 2018. Não acredito muito na Argentina.


Como vê o momento conturbado que o país está vivendo?
É o esgoto. Chegamos ao fundo do poço e vemos ratos para todos os lados. Estamos todos no mesmo barco, e temos que, sem partidarismo, ajudar o Brasil a sair desse situação caótica.



Brasília in Concert
Show do cantor e compositor, acompanhado por banda e pela Orquestra Brasília Sinfônica, hoje, às 21h, no auditório master do Centro de Convenões Ulysses Guimarãeas (Eixo Monumental). Ingressos: R$ 200 (poltrona premium), R$ 160 (poltrona vip lateral), R$ 120 (poltrona especial), R$ 90 (poltrona especial lateral), R$ 60 (poltrona superior), R$ 50 (poltrona superior lateral). Pontos de venda: rede de lojas Cia Toy e Belini Pães e Gastronomia (113 Sul). Classificação indicativa livre. Informações: 4101-1121 4101-1230

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