Diversão e Arte

Gal Costa se apresenta em Brasília interpretando clássicos de Lupicínio

Foi ainda na fase tropicalista que a musa do movimento cantou Lupicínio pela primeira vez

Irlam Rocha Lima
postado em 01/06/2017 07:30

Foi ainda na fase tropicalista que a musa do movimento cantou Lupicínio pela primeira vez

Inventor do samba-dor-de-cotovelo, Lupicínio Rodrigues levava para as letras das músicas a melancolia de quem, constantemente abandonado, chorava a perda da mulher amada. Ele buscava em sua própria vida a inspiração para as canções, nas quais a traição e o amor andavam sempre juntos. Boêmio inveterado, tinha no balcão de uma mesa de bar o lugar onde encontrava algum aconchego.

Um dos mais importantes criadores da música popular brasileira, esse gaúcho de Porto Alegre deixou como principal legado mais de 150 composições ; muitas delas esquecidas ou à espera de quem as resgate. Esse universo, frequentado por intérpretes da importância de Elza Soares e Jamelão, tem em Gal Costa outra pesonagem de grande relevância.

Foi ainda na fase tropicalista que a musa do movimento cantou Lupicínio pela primeira vez. Ao gravar o mítico LP Índia, no qual incluiu o samba-canção Volta. Depois disso, o reverenciou outras vezes em disco e show. Em 2015, na celebração do centenário de Lupe ; como o compositor era chamado pelos amigos ; Gal potencializou sua admiração por ele.

Com o espetáculo Ela disse-me assim fez uma rápida turnê que passou pelo Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba e Salvador, interrompida pelo envolvimento da cantora com outros projetos. O show será retomado amanhã em Brasília, com apresentação, às 21h, no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães.

Dirigida por Jota Velloso e Marcus Preto, Gal sobe ao palco acompanhada pela banda formada por Guilherme Monteiro (guitarra e violão), Fábio Sá (baixo acústico e elétrico), Ricardo Prado (teclado) e Sérgio Machado (bateria). No repertório foram reunidos clássicos representativos da obra de Lupicínio, como Cadeira vazia, Esses moços, Felicidade, Nervos de aço, Nunca e as citadas Vingança e Volta, além da que dá nome ao show.

Ela disse-me assim
Show de Gal Costa, acompanhado por banda, interpretando músicas de Lupicínio Rodrigues, amanhã, às 21h, no auditório master do Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Assinantes do Correio têm 55% de desconto nos 250 primeiros ingressos, e 50%, para os restantes, mediante apresentação do cartão Clube do Assinante, no valor da inteira: R$ 70 (poltrona superior), R$ 90 (poltrona B), R$ 100 (poltrona A), R$ 120 (poltrona lateral), R$180 (poltrona golden ) e R$ 250 (poltrona front golden) ; valores referentes à meia- entrada. Pontos de venda: G2 do Brasília Shopping e Livraria Fnac (ParkShopping). Não recomendado para menores de 16 anos.

Entrevista/ Gal Costa
Gal, Domingo, que você gravou com Caetano Veloso, em 1967, marcou sua estrea em disco. Para muita gente, cinquenta anos depois, esse LP continua sendo referência de MPB de qualidade. Com o devidodistanciamento, que avaliação faz daquele álbum?
O álbum Domingo é lindo demais!! O repertório, os arranjos do Dori Caymmi, tudo soa lindo. Ainda é uma referência para todos e para mim.

A geração que surgiu à época dos festivais, na segunda metade da década de 1960, revelou os hoje consagrados Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Edu Lobo, Milton Nascimento, Elis Regina, e é tida como a mais importante da moderna MPB. Você se orgulha de estar entre eles?
Sim!! Minha geração é muito talentosa e estamos até hoje fazendo música e trabalhando com prazer.

Vivia-se naquele período sob a égide da ditadura militar. Sobrepondo a tudo, Caetano, Gil e você foram protagonistas de um momento altamente criativo da nossa música. O Tropicalismo era a resposta que queriam dar à repressão que pairava sobre todos os segmentos no país, inclusive o da cultura?
O Tropicalismo é revolucionário por essência. Aquela época da ditadura foi terrível para todos. O Tropicalismo nasceu e refletiu a cultura do mundo daquela época; o movimento hippie, a contra-cultura, as guitarras, Beatles, Rolling Stones Jimi Hendrix, Janis Joplin. Reverberamos a essência terráquea.

O Canal Brasil vem apresentando a série Dunas do Barato ; também conhecida como Dunas da Gal, por você ser a musa, que estava em cartaz no Teatro Teresa Raquel, com o espetáculo Fa-Tal. Que lembranças guarda daquele raro território de liberdade, na praia de Ipanema, para a juventude de então?
Guardo boas lembranças, pois ali era um reduto onde podíamos nos juntar e parecia ser protegido por uma aura especial.

No álbum Índia, de 1973, e no show homônimo, apresentado em Brasília, no Teatro da Escola Parque, você interpretava Lupicínio Rodrigues ; o samba canção Volta ; pela primeira vez. Depois gravou Um favor, no Caras Bocas, de 1977. Foi o centenário de nascimento do compositor gaúcho o que a levou a homenageá-lo com o show Ela disse-me assim?
A ideia de fazer esse show foi de Jota Velloso, sobrinho do Caetano. Como gravei Lupicínio na fase tropicalista, acho esse projeto totalmente coerente com meu passado. Procuramos fazer um show com arranjos modernos. Acho Lupicínio Rodrigues um gênio.

Além de a dirigirem, qual foi a contribuição de J. Velloso e Marcus Preto na criação desse show?
Jota Velloso teve a ideia do projeto e chamamos Marcus Preto para amarrarmos tudo. Gosto de trabalhar com equipe. Acho enriquecedor. Eles participaram também da escolha do repertório, participaram bastante.

Na releitura das canções do Lupicínio, qual foi a contribuição dos jovens músicos da banda que a acompanha?
Procuramos fazer arranjos modernos e mais arrojados para as músicas do Lupicínio. Olha, fizemos os arranjos em conjunto. Cada um dava a sua contribuição com ideias musicais.

O samba-canção Vingança virou um rock virulento, cheio de modernidade. Esse pode ser visto como o melhor exemplo de um arranjo arrojado?
Lembro especialmente que nesta música o Fabio Sá, baixista da banda, puxou uma levada que deu esse resultado.

Originalmente, o projeto Gal canta Lupicínio geraria um show ; com turnê por algumas capitais brasileiras ; e um CD. A turnê foi retomada agora. E o disco vai ser gravado?
Esse projeto foi feito com o programa Natura Musical, intermediado pelo empresário baiano Mauricio Pessoa. O projeto se resume em sete shows e um CD para a Natura com poucas cópias. Mas esse show é bonito e pode dar um bom caldo.

Em 7 de outubro de 2016, você e Gil fizeram um show para convidados no Teatro da Unip, aqui em Brasília, embrião da turnê que iniciam em breve. Esse espetáculo vai ser reapresentado na capital?
Vamos fazer alguns shows, sim. A agenda está sendo fechada.

O Brasil vive um momento conturbado. Temer recorreu às Forças Armadas, em nome das garantias institucionais. Que país é esse que vivemos atualmente?
Acho que o Brasil e o mundo vivem momentos perigosos. É preciso ter tolerância e honestidade.


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