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Autora do hit 'Despacito' diz que música fala de sexo com 'bom gosto'

Hit mundial de 2017 é de autoria de Luis Fonsi, Daddy Yankee e da panamenha Erika Ender

Marina Simões
postado em 03/06/2017 17:00
A artista é filha de mãe brasileira e mantém vínculo com o país. Apesar de fazer carreira em espanhol, os ritmos brasileiros estão presentes na sua música
O fenômeno Despacito, composto por Luis Fonsi, Erika Ender e Daddy Yankee, rompeu fronteiras e chegou no topo das paradas mundiais em 2017. Surpresa com repercussão positiva da faixa, a compositora panamenha Erika Ender, que é filha de mãe brasileira, aponta que um dos trunfos da letra é ser envolvente e clássica, na medida certa. "Despacito acompanha a tendência, mas foi feita com classe. Prova que é possível falar de sexo com delicadeza e bom gosto, até porque é uma coisa tão bonita", afirma. "Hoje em dia as músicas urbanas, como o reggaeton e o funk, estão agressivas. Elas deveriam ter a mensagem mais bem cuidada", acrescenta a artista em entrevista. Erika surpreende ao falar com sotaque baiano. "Adoro quando dizem isso. Minha família está toda aqui. O Brasil é uma parte importante de mim. Minha segunda casa", conta a artista que sempre passa as férias em Salvador.

[SAIBAMAIS]Em temporada no Brasil, a cantora de 42 anos divulga a versão mais lenta de Despacito. A faixa faz parte do novo disco Tatuaje, lançado em maio, que está disponível no Spotify. A projeção mundial veio coroar a carreira de 25 anos da cantora e compositora que nasceu no Panamá e se instalou em Los Angeles. Pouco conhecida pelo público brasileiro, Erika escreve músicas para artistas do mercado latino e já gravou cinco discos. Ela assina a faixa Quero acender teu fogo, gravada pelo sertanejo Leonardo em 2003. No ano passado, Erika ganhou o Grammy Latino de melhor canção regional mexicana com a faixa Ataúd. Em feveiro, foi indicada como membro do Hall da Fama de Compositores Latinos, uma comissão que inclui artistas como Erasmo Carlos e Caetano Veloso.

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A artista canta em espanhol mas prefere não se enquadrar em apenas um estilo de musical. "Sou uma artista de fusão. Ouço música do Brasil e principalmente da Bahia. Amo Gal Costa, Caetano Veloso, Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Elis Regina, Tom Jobim e Roberto Carlos", explica. "Cada disco meu tem algo em português. O Brasil está semre dando voltas na minha música. Quem me ouvir vai sentir o batuque baiano". A compositora de Despacito planeja estreitar os laços com o país e até ser gravada por outros artistas brasileiros. "Com essa aproximação profissional pode abrir as portas mais rápido", acredita.

Despacito

A música do porto-riquenho Luis Fonsi com Daddy Yankee é apontada como o hit mundial de 2017. Despacito ganhou ainda mais impulso com versão de Justin Bieber. O remix em inglês foi uma das maiores estreias da música latina no Spotify, e a que ficou por mais tempo na primeira posição da playlist As 50 mais tocadas no mundo. A faixa também conquistou o número 1 da lista Hot 100 da Billboard. A última música latina a conseguir grande alcance foi Macarena, em 1996. O clipe original de Despacito acumula mais de 1,7 bilhão de visualizações no YouTube e figurou por várias semanas como o vídeo mais visto da plataforma. Tamanho sucesso inspirou a versão eletrônica dos DJs Major Lazer & Moska. A banda de brega recifense Sedutora também fez a versão pernambucana, batizada Necessito. Na web, o reggaeton inspirou centenas de paródias, como as de Whindersson Nunes e Tirullipa e Kéfera Buchmann.

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ENTREVISTA // ERIKA ENDER

Você esperava essa repercussão?
Ninguém esperava isso. A gente fez uma coisa bem orgânica, entre amigos. O empenho de todos fez surgir essa energia. Despacito foi resultado de muito trabalho. Meu, do Fonsi, Daddy (Yankee) e até do Justin (Bieber), que adicionou um plus a mais e nos levou ao número 1 no mundo. Estou muito grata ao universo por esse momento e por fazer parte desse sucesso.

Em que prateleira sua música se encaixa?
Eu não tenho um estilo. Canto o que sinto. Não posso dizer que sou a mesma Erika de 20 anos atrás. Meus fãs acreditam no que estou fazendo e gostam do resultado. Cresci num lar multicultural que me permitiu ver a música como linguagem universal. Aprendi a decodificar em todos os gêneros. Não acredito no limite.

Como avalia a entrada da música latina no Brasil?
A porta está se abrindo cada vez mais. Mas é fato que os artistas só conseguem entrar depois de conquistar o mercado norte-americano. Poucos são os exemplos que conseguiram antes disso, como Julio Iglesias, Shakira, Luis Miguel e Alejandro Sanz. Vejo que são duas culturas diferentes e próximas ao mesmo tempo. São vizinhos que não se dão açúcar. Mas acredito que está no momento disso se transformar e adoraria ser parte do processo.

O sertanejo é o ritmo mais ouvido no país atualmente. Há chances de agradar o público internacional?
Quando se fala em Brasil o samba é o ritmo mais popular mundialmente. Depois se pensa em carnaval, futebol e as praias. Mas o Brasil é mais do que isso. Acredito que tem chances, desde que faça em uma linguagem natural. Se ficar forçando não consegue. O único Brasileiro que fez isso com maestria foi Roberto Carlos. Quem não conhece Roberto Carlos no Brasil, pode jurar que ele é latino.

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