Diversão e Arte

Estudo revela baixa presença feminina em produções hollywoodianas

No Brasil, cenário é semelhante. Onde estão as mulheres?

Alexandre de Paula, Rebeca Oliveira
postado em 05/06/2017 07:32
Cena do filme Estrelas além do tempo
Ganhadora do Oscar de melhor atriz coadjuvante, Geena Davis sempre questionou por que a presença das mulheres em produções audiovisuais era tão menor que a dos homens. Para tentar responder a questão, ela criou o Instituto Geena Davis e juntou uma série de pesquisadores que analisavam filmes para medir o quanto as mulheres estavam representadas ali. Mas havia um problema: o processamento humano era limitado e permitia apenas que uma quantidade não muito grande de longas fossem analisados.

[SAIBAMAIS]Em parceria com o instituto, porém, o Google desenvolveu uma solução que fez com que tudo se tornasse mais fácil de analisar. Um software desenvolvido pela empresa é capaz de identificar e quantificar a presença e a fala de mulheres em filmes. Para começar, o projeto analisou os 100 filmes americanos de maior bilheteria produzidos entre 2014 e 2016.

;Isso foi revolucionário;, disse Davis na divulgação do projeto. ;Ninguém conseguiu fazer isso antes com qualquer precisão;. Com o sistema, tudo aquilo que levaria meses para ser quantificado agora poderia ser acessado praticamente em tempo real.

36%
Tempo de tela de mulheres nos filmes analisados
35%
Tempo de fala de mulheres nos filmes analisados
32%
Tempo de tela nos filmes que venceram o Oscar em 2015
27%
Tempo de fala nos filmes que venceram o Oscar em 2015

Se o avanço tecnológico do projeto é animador, os números revelados por ele, no entanto, mostram que ainda há muito para evoluir. A presença feminina é esmagadoramente menor do que a masculina nas produções analisadas, ainda que os filmes protagonizados por mulheres, segundo o estudo, rendam 16% a mais em bilheteria do que os em que homens ocupam os papéis principais.

O tempo de tela, calculado em relação à duração das produções, das mulheres é de apenas 36% nos 100 filmes analisados. Já o tempo de fala é de 35% e é calculado com o tempo total em que os personagens falam nos longas.

A pesquisa também separou os dados por gênero. O único em que as mulheres aparecem mais do que os homens, com 53%, é o terror, categoria em que personagens femininas costumam ser retratadas como histéricas e desesperadas. O terror é seguido pelo e romance e pela comédia, que contam, respectivamente, com 45% e 40% de tempo de tela para as mulheres.

O estudo analisou ainda filmes que foram premiados com o Oscar em 2015, em todas as categorias. O resultado, assim como o geral, revela a disparidade. O tempo de tela das mulheres nos vencedores é de apenas 32% e o de fala fica na marca de 27%.

Paula Sacchetta, diretora do documentário Precisamos falar do assédioOs dados apontados pelo Google comprovam um questionamento que dura anos e é levantado por mulheres envolvidas em produções cinematográficas nacionais. Seja dentro, seja fora das telas, a visibilidade feminina segue em baixa quando comparada à masculina, mesmo com movimentos sociais como a Primavera Feminista, que deu fôlego a essas reivindicações. Paula Sacchetta, diretora do documentário Precisamos falar do assédio, exibido na última edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, acredita que, usado em títulos brasileiros, o software traria números tão discrepantes quanto os hollywoodianos.

;Que tipo de mulher querem que a gente seja? A que está na tela, muitas vezes, é a que fala menos que os homens, ou que só aparece falando sobre eles. Precisamos inverter essa lógica. Que a mulher possa ser o que quiser;, ressalta.

Para a paulista, que criou um filme sobre o assédio em diferentes esferas, é importante, também, que essa cobrança se estenda a áreas específicas, como a de festivais. ;Quando lancei Precisamos falar do assédio em Brasília, meu filme estava em uma mostra paralela. Eu e Dea Ferraz, outra diretora que fala sobre o feminismo, questionamos se havia mulheres na mostra competitiva. Como aceitaríamos estar em uma mostra se não tivesse representatividade da mulher?;, relembra.

Malu Andrade, gestora cultural e criadora do grupo Mulheres do Audiovisual no Brasil no Facebook, com 12,7 mil participantes inscritas, emenda que a pesquisa do Google em parceria com o instituto Geena Davis poderá futuramente ser agregada a outras iniciativas. ;O curioso é que a maioria esmagadora dos filmes não recebem o selo de aprovação. As exceções são os dirigidos ou codirigidos por mulheres, ou roteirizados por elas;, critica.

Entretanto, Malu argumenta que, em um cenário futuro, possam haver mudanças. Sobretudo pela presença da produtora paulista Debora Ivanov na Agência Nacional do Cinema (Ancine), como diretora-presidente. ;O que buscamos é uma diversificação do olhar. Não temos só homens brancos na sociedade, então por que os juris de festivais, por exemplo, outros protagonistas de filmes, ainda são apenas eles?;, indaga.

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