Diversão e Arte

Festival Varilux leva o cinema francês a 56 cidades

Filmes tratam, principalmente, de histórias de amor

Nahima Maciel
postado em 07/06/2017 07:30
Tour de France, com Gérard Dépardieu e o rapper Saddek, fala sobre o abismo entre duas gerações
Há pouca política e muito amor na seleção de filmes do Festival Varilux 2017. Boa parte da seleção de 19 longas que começam a circular hoje por 56 cidades brasileiras tratam de relações amorosas e afetivas entre pais e filhos, homens e mulheres, amigos e casais.

Dedicada exclusivamente ao cinema francês produzido nos últimos dois anos, a oitava edição do festival vai ocupar três cinemas de Brasília com uma seleção que faz verdadeiro panorama da produção recente daquele país. São quatro filmes a mais que a edição de 2016 e uma ambição: se tornar o festival de filmes franceses mais importante do mundo.

;Hoje, o festival que consideramos mais importante em termos de festival francês no mundo acontece na Austrália e atrai 174 mil pessoas. E nós, no Brasil, atingimos 150 mil no ano passado. Esperamos aumentar para ultrapassar o festival australiano; avisa Christian Boudier, diretor do Varilux.

Segundo Boudier, não há exatamente um perfil dos filmes, mas a partir da seleção é possível chegar a algumas constatações. Em tempos de Brexit, Trump, terrorismo, refugiados e xenofobia, poucos filmes tratam de temáticas políticas e sociais.

;Acho que a realidade é tão pesada e tóxica na França, com atentados, eleições, imigração, refugiados e corrupção, que as pessoas estão cheias disso e talvez os cineastas queiram sair um pouco disso porque acham difícil convencer as pessoas a ir ao cinema ver as mesmas histórias e imagens que invadem a casa deles pelos telejornais;, diz o diretor.

Isso não quer dizer, ele pondera, que o cinema francês atual não trate dessas temáticas, mas que os distribuidores não se interessam muito por esse tipo de filme.
Juliette Binoche está em filme sobre a relação entre mãe e filha
Diversidade
O amor é, de fato, tema mais tratado nos longas, com alguns bons momentos de drama, comédia e tragédia. Perdidos em Paris é um das revelações do festival. A história surreal de uma sobrinha que vai do Canadá a Paris em busca da velha tia depois de receber uma carta preocupante é também uma história de amor delicada. O longa de Fiona Gordon e Dominique Abel é o último no qual a atriz Emmanuelle Riva atuou antes de morrer, em janeiro. O festival traz também Frantz (François Ozon), a história de um amor perdido durante a guerra. O longa tem toda a carga teatral típica dos filmes de Ozon. Em Um instante de amor, Marion Cotillard vive ancorada a uma paixão imaginada. A atuação marcante da atriz, que ficou conhecida por interpretar Edith Piaf, merece destaque.

O amor entre pais e filhos está em Um filho uruguaio, de Olivier Peyon, sobre uma mãe em busca do filho sequestrado pelo pai, Tal mãe tal filha, comédia na qual Juliette Binoche encara a maternidade de forma desleixada mas amorosa, e Na vertical (de Alain Guiraudie), história bonita entre um pai e seu bebê, ambos abandonados pela mãe. A guerra também aparece em forma de ficção, mas com referências históricas na trajetória de uma menina de 12 anos que lidera grupo de crianças durante uma fuga da França ocupada em A viagem de Fanny, de Lola Doillon. De Jacques Doillon, pai de Lola, o Varilux traz Rodin, filme mais recente de um dos cineastas mais cultuados do cinema de autor francês.

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Drama contemporâneo
Talvez o único filme realmente político do Varilux, Tour de France, de Rachid Dja;dani, traz para as telas um drama já bem conhecido da França contemporânea: o encontro entre um rapper de origem árabe da periferia parisiense e um aposentado de direita, xenófobo e irascível. Interpretada pelo rapper Sadek e por Gérard Depardieu, a dupla precisa encarar uma viagem pelo país em um pequeno caminhão caindo aos pedaços. É a chance de encontro entre duas gerações que há muito não conseguem se entender. Este ano, houve ainda espaço para um documentário. Amanhã é o resultado de pesquisa dos diretores Cyril Dion e Mélanie Laurent. A dupla saiu em busca de soluções pontuais para a catástrofe climática que ameaça o planeta e encontrou diversos personagens cujas ideias ajudam a criar um universo mais sustentável. O filme foi visto por um milhão de pessoas na França, número expressivo e difícil de atingir quando se trata de documentários. ;São pessoas que falam com a geração de amanhã, dizendo que não é possível mais ficar de braços cruzados, que é necessário cuidar do planeta. Esse filme mostra que há soluções, que algumas pessoas já tomaram iniciativa. É um filme extraordinário, que deixa a gente feliz;, garante Boudier.

Criado para divulgar a cultura francesa no mundo, mas também para alimentar o mercado de distribuição no Brasil, o Varilux funciona como uma amostra de filmes que podem entrar em cartaz ao longo do ano. Christian Boudier lembra que os distribuidores são atores estratégicos desse mercado e que a seleção de filmes costuma ser feita em parceria com eles. ;Essas pessoas que vão comprar os filmes franceses nos festivais assumem riscos, compram direitos para o filme, fazem legenda, divulgam e lançam o filme no cinema. São essas pessoas que fazem viver a diversidade cultural do cinema brasileiro. E nós queremos ajudá-los. Então fazemos a seleção com eles, nós os consultamos, vemos o que eles compraram para o ano;, explica.

Veja a programação completa

Festival Varilux de Cinema Francês 2017
De 7 a 21 de junho, no Cine Cultura LIberty Mall, Cinemark Pier 21 e Espaço Itaú de Cinema Casa Park




19
filmes serão exibidos em

56
cidades no Festival Varilux


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