Diversão e Arte

Pablo Marquine grava obra de Claudio Santoro para piano

A produção é a estreia de seu projeto que faz grande pesquisa sobre o compositor

Deborah Novais - Especial para o Correio
postado em 19/06/2017 07:31

Pablo Marquine: longa pesquisa de mestrado e doutorado em torno da obra de Santoro

Desde a infância, Pablo Marquine se destacou no campo musical. Influenciado pela avó a ter aulas de piano, não tardou a perceber que era aquilo que gostaria de fazer pelo resto da vida. Aos 12 anos, teve o primeiro contato com a obra de Claudio Santoro, a quem dedicaria parte de sua carreira, em um recital de homenagem aos 10 anos de falecimento do compositor e maestro amazonense. Como resultado dessa dedicação, o pianista lança Prelúdios, o primeiro volume da coletânea que levará a obra completa do maestro para piano solo. Raffaello Santoro, filho do maestro, foi o engenheiro de som.


Para o lançamento do álbum, Pablo Marquine faz três concertos na cidade. O primeiro ocorreu no último dia 7, na Casa Thomas Jefferson. Hoje, às 20h, a Escola de Música de Brasília sedia o segundo encontro do brasiliense. Em 5 de julho, é a vez do Teatro de Sobradinho. Depois de Brasília, o pianista segue em turnê nacional, por Rio de Janeiro e São Paulo, e também se apresenta nos Estados Unidos e na Europa.

A dedicação maior ao estudo da obra de Claudio Santoro veio quando Pablo iniciou o mestrado na Universidade de Brasília, período em que teve a ideia do projeto. A coletânea, que apresentará mais de 170 composições (algumas até então desconhecidas), é dividida por tipologia, sendo a primeira dedicada aos prelúdios. A ideia é que o segundo seja constituído por obras seriadas, enquanto o último será dedicado às sonatas. A conclusão dos volumes ocorrerá com o término do doutorado, também dedicado a Claudio Santoro.

[SAIBAMAIS]

As composições do primeiro volume são divididas por ordem cronológica. Segundo Pablo, ;os prelúdios são o único conjunto de obras de Claudio Santoro que conseguem oferecer ao ouvinte uma mostra das sete fases estéticas que ele teve como compositor;. De acordo com o pianista, são elas: impressionismo; serialismo dodecafônico; período de transição para uma fase mais nacionalista; neofolclórica; serialismo idiossincrático; experimentalismo; e um período de maior maturidade, que faz uma síntese dos estilos anteriores.

Segundo o pianista, o maestro é a principal personalidade que influenciou a música erudita na capital. ;Basicamente, o que nós temos de música erudita hoje é marcado pela presença dele;, afirma. As fundações da orquestra sinfônica da cidade e do departamento de música da UnB fazem parte do legado de Claudio Santoro. ;Ele foi um compositor multifacetado em termos de estilos. A importância histórica dele para o nosso país tem a ver com o fato de que ele praticamente se embebedou das principais tendências estéticas do século 20. Ele é quase um resumo da música erudita do século 20 no Brasil;, completa Pablo Marquine.


Concerto de lançamento do volume Prelúdios, da coletânea Claudio Santoro: Obra completa para piano solo
Escola de Música de Brasília (602 Sul) Hoje, às 20h. O pianista brasiliense Pablo Marquine apresenta os prelúdios de Claudio Santoro em piano solo. Entrada franca. Classificação indicativa livre. O disco pode ser adquirido pelo e-mail pablomarquine@gmail.com . Preço: R$ 20.

; Duas perguntas // Pablo Marquine


O que você pretende fazer com a pesquisa?
Como um observador ativo, é importantíssimo você ser um transmissor daquilo que apreende da realidade. É muito importante que a pesquisa traga resultados tangíveis. Às vezes, muitas das pesquisas no Brasil, principalmente nas ciências humanas, só ficam na parte retórica. Pretendo fazer essa reflexão de apreensão fenomenológica ou epistemológica para trazer algum material que não resuma à minha pesquisa, mas que seja produto dela, e o CD e as partituras fazem parte dessa intenção. Hoje, eu vejo a importância de produzir uma bibliografia anotada do compositor, coisa que Santoro ainda não tem.

O que você pensa sobre o futuro da cultura no país?

A gente vive em um momento, talvez a crise da história moderna do Brasil, em que precisa se perguntar o que é ser brasileiro. Trabalhos como esse vão inspirar as pessoas a terem atitudes. Se a gente não tiver esse amor, essa oferenda, dificilmente teremos uma mudança. Um país é tão grande quanto os seus artistas e, se a gente continua a nossa história somente com ressignificação de convenções e sem lastro da tradição, o país não tem direção. Isso reflete na própria identidade e psiquê de cada indivíduo como brasileiro.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação