Diversão e Arte

Muito além da Disney: mercado de animação autoral cresce no DF e no Brasil

Mercado de animação autoral cresce na capital e no país. Nem é preciso mirar apenas em grandes estúdios. Produções independentes, como as realizadas pelo Anim'all, garantem a longevidade da arte

Rebeca Oliveira
postado em 21/06/2017 06:01

Parceria entre Gomez e o estúdio Anim'all tem feito sucesso na internet

Este ano, a primeira animação brasileira completou o primeiro século de vida. Data de 1917 o longa animado Kaiser, dirigido por Álvaro Martins, cartunista conhecido por dar o pontapé a um mercado que não para de crescer em Brasília e em todo o país. Uma comprovação deste argumento foi a compra pelos estúdios Fox de Lino, filme animado da produtora paulista Startanima. Dublado por Selton Mello, Paolla Oliveira e Dira Paes, o longa de Rafael Ribas estreará em 7 de setembro em mais de 400 salas do Brasil. O espaço, grandioso para a empresa paulista, é um recorde nacional do setor. Isso sem esquecer de O menino e o mundo, de Alê Abreu, que levou o Brasil ao Oscar em 2016.

A boa nova é que Lino ou O menino e o mundo não são casos isolados. Cresce o número de profissionais que investem em criações autorais, um reflexo da valorização desta arte em terras tupiniquins. Criativos e dinâmicos, diretores de arte e animação procuram por identidade, fugindo da hegemonia e da temática infantil de gigantes como a Disney. Mesmo que não tenham o mesmo espaço em circuito exibidor comercial, produções independentes não param de surgir.

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Criado pelo diretor de animação Jhonatan Luiz e pelo diretor de arte Caius Cesar (à dupla, se somou também o sonoplasta Vinícius Acioli), o estúdio brasiliense Anim;all tem feito sucesso nas redes sociais desde que começaram a animar tirinhas do quadrinista Caio Gomez, da editoria de Arte do Correio. Os vídeos são curtinhos e, justamente por isso, têm causado burburinho no Facebook. Com teor de crítica política, um deles foi visto mais de 150 mil vezes, um reflexo da aprovação do público local. Antes disso, os meninos da capital percorreram festivais mundo afora com o curta Doce ipê amarelo, mais uma produção que dialoga com a cidade onde vivem.

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O trio produz esse tipo de animação em paralelo a trabalhos comerciais, que ainda são necessários para pagar as contas no fim do mês. Por enquanto. ;A questão do tempo de realização, geralmente longo, dificulta a produção autoral. Por isso chegamos até o Caio Gomez, por exemplo. Com as ilustrações já prontas, podemos fazer vídeos mais curtos, mais rápidos, e terminá-los com mais facilidade, garantindo a mesma qualidade;, explica Caius Cesar.

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Por mais que tenha abraçado recursos multimídias, a animação permanece como um trabalho essencialmente artesanal. Exige método e organização (leia, abaixo, como nasce uma animação). Cada quadro de 1 segundo pede até 24 desenhos diferentes, com a sutileza de dar uma leve diferenciação de um ponto a outro. Para exemplificar, basta lembrar que o primeiro filme de animação brasileira (Sinfonia Amazônica, de 1953) contou com 500 mil desenhos feitos à mão por Anélio Latini.

;Aquela versão infantilizada do desenho animado ainda está na cabeça de 60% da população. Muita gente pede um ;desenhozinho;, associa ao lúdico e acha que um vídeo de 30 segundos é feito de um dia para o outro;, lamenta Jhonatan Luiz. Apesar do tom crítico, o profissional é otimista e avalia que, nos últimos anos, houve evoluções. ;Não vejo necessidade de sair da capital para ir para outros países. Há muitos editais para o setor e ótimas animações rolando por aqui. Inclusive, uma das séries mais assistidas no Cartoon Network no ano passado foi a brasileira Irmão do Jorel;, comemora, citando a primeira produção original da América Latina a ser exibida no famoso canal.

Lá fora

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Além de canais nacionais manifestarem maior interesse nas produções nacionais, há também uma boa quantidade de artistas brasileiros convidados a integrar equipes de filmes de alcance mundial. Atualmente, um dos nomes mais lembrados é o de Matias Liebrecht, paulistano que trabalhou com o londrino Tim Burton em Frankenweenie (filme da Disney de 2012) e, atualmente, roda o longa Isle of dogs, do americano Wes Anderson. Com previsão de lançamento em 2018, o filme terá as vozes de Edward Norton, Bill Murray, Tilda Swinton e Scarlett Johansson, dentre outros nomes estrelados.

Matias Liebrecht, paulistano que trabalhou com o londrino Tim Burton em 'Frankenweenie':

;No caso de Frankenweenie, eles estavam procurando gente nova. Por acaso, naquela época, havia pelo menos três longas-metragens sendo rodados ao mesmo tempo. Eu estava na hora e no lugar certo, mas conhecia pessoas que estavam envolvidas na produção, não foi um convite que surgiu do nada;, conta o animador, um dos convidados da Campus Party, evento de tecnologia que movimentou Brasília na semana passada.


Animou-se?
Se no circuito comercial as produções estrangeiras ainda dão o tom, no mercado de trabalho animadores brasileiros têm o que comemorar. Tanto no mercado 2D quanto no 3D surgem vagas e oportunidades de emprego. Em Brasília, existem algumas escolas que formam quem se interessa pelo segmento.

;O jovem de hoje acha que com tutorias do YouTube vai virar um profissional, mas essa área aumenta a cada ano, assustadoramente, e pede por uma boa formação. Há ramificações bem interessantes, de quem cria os bonecos a quem os colore digitalmente;, comenta Swamir Paes Júnior, coordenador pedagógico da Saga, escola de animação localizada em Taguatinga. Segundo ele, com um ano de estudo é possível tirar projetos da gaveta. O investimento começa com R$ 450 mensais.

No DF

Assim como o Anim;all, outros estúdios do Distrito Federal fortalecem o cenário de animação e diversificam o mercado. Veja mais nomes para ficar de olho:

  1. IMG
  2. Mandril Filmes
  3. Balacrava Estúdios
  4. Gurei
  5. Gravidade Zero


Onde aprender

  • Animatic
Escola de Animação e Arte (616 Sul, Bl. B, lj. 3, Edifício
Linea Vitta, L2 Sul; 3363-3366 e 99901-3366). O curso de animação em 2D, ideal para iniciantes, tem como base o software Toon Boon Harmony, um dos mais usados no Brasil e no mundo. Já no curso em 3D, os módulos se dividem em animação 3D, modelagem 3D e design de personagem.

  • Saga

Qd. C07, Lt. 2, Sala 101 / 201, Taguatinga Centro; 3561-6155). O curso start, por exemplo, é focado em computação gráfica para iniciantes para o mercado de publicidade, design, animação, 3D e efeitos visuais de vídeo (VFX).

Como nasce uma animação

Roteiro
É, basicamente, um briefing escrito do que aquela animação virá a ser. Da gênese da história ao detalhamento de cada personagem.

Storyboarding
Como em uma história em quadrinhos, os desenhos sequenciais mostram detalhes como enquadramento, de que maneira a câmera mostrará cada personagem e o que será preciso acontecer em cena.

Animação
O diretor de arte envia as ilustrações (finalizadas com ajuda de programas como o PhotoShop e o Ilustrador) e o diretor de animação as monta, em sequência. Todo o processo, na maioria dos estúdios, é feito digitalmente com ajuda de softwares como o Toon Boon. Na sequência, entra em cena o sonoplasta, que insere a trilha.

Finalização
Correção de cor, inserção de sombras, tratamento de imagens. É nesta etapa que a animação ganha um acabamento mais refinado. Antes de ser enviado aos clientes ou disponibilizado nas mídias digitais, é preciso, por fim, renderizar o curta, média ou longa.

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