Diversão e Arte

No dia de São João, conheça a cena do forró no Distrito Federal

Luiz Gonzaga trouxe o ritmo a Brasília nos primórdios da construção

Irlam Rocha Lima
postado em 24/06/2017 07:00

O forró, ritmo que surgiu no Nordeste, se popularizou nacionalmente a partir do início da década de 1950, quando Luiz Gonzaga começou a propagá-lo em todo o país, por meio dos discos que gravava e de shows em todo o país. Foi ele quem trouxe o gênero musical para Brasília, nos primórdios da construção da nova capital.

Ceilândia, onde há uma grande concentração de nordestinos, tornou-se o principal reduto do forró no DF. Em outros tempos, porém, era a mítica Cidade Livre que acolhia músicos originários daquela região. Foi lá que, em meados de 1962, aportou o paraibano José Torres da Silva, o Torres do Rojão, que 10 anos depois criou o Trio Siridó, o mais antigo representante do chamado forró pé de serra, entre os grupos brasilienses.

Torres, embora tenha nascido em Campina Grande (PB), foi criado em Caruaru (PE). Lá, no começo da adolescência, conheceu artistas que entraram para a história da música popular brasileira, como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Trio Nordestino e foi aluno de Jacinto Silva. Com eles aprendeu a cantar coco e xaxado. Aos 16 anos, trocou Pernambuco pelo Rio de Janeiro e lá, mesmo trabalhando numa serralheria, encontrava tempo para acompanhar Bezerra da Silva num forró de gafieira, no subúrbio de Parada de Lucas.

Antes de chegar a Brasília e se instalar no Núcleo Bandeirante, o cantor e tocador de triângulo passou por Belo Horizonte. ;Para me manter, tinha dois ofícios. Durante o dia era gráfico, e à noite era forrozeiro. Até que, em 1972, decidi viver só de música, após criar o Trio Siridó. Era uma época boa para o forró. O trio tocava em Taguatinga, Cidade Livre, Sobradinho e também no Plano Piloto, contratado por restaurantes e casas noturnas como Cachopa, Camisa Listrada e Panela de Barro, na Galeria Novo Ouvidor, no Setor Comercial Sul;, recorda-se.

Na formação original do Trio Siridó Torres tinha a companhia de Deja (sanfona) e Mocó (zabumba). ;Com a morte de Mocó e a saída de Deja, o grupo passou a ter nova formação. Houve algumas mudanças de zabumbeiro, mas o Tico do Acordeon, que entrou no lugar Deja, se mantém até hoje. Agora, quem toca zabumba é o Fabiano;, relata.

Da discografia do trio constam oito LPs e nove CDs. O mais recente é Velho namorador, lançado em 2016, que tem músicas como Menino boliçoso, de Torres do Rojão; Flor mulher (Edgar Dinis) e Querida Asa Branca (Damião Galdino). ;Em outros discos gravamos Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos, Cecéu e Flávio José, entre outros mestres;, diz.

É no período das festas juninas que o Trio Siridó costuma ter uma agenda maior de compromissos, com apresentações em Brasília e no entorno da capital. ;Neste sábado, vamos tocar no arraial da Casa do Ceará, na 910 Norte. Já fizemos show no Sudoeste, no Arraiá da Acadimia, Abadiânia (GO) e vamos também ao Valparaíso;, relaciona Torres. Ele, porém, faz uma ressalva: ;Infelizmente, durante outros meses do ano, a frequência de shows tem sido bem menor. Não temos, por exemplo, sido convidados para eventos promovidos pela Secretaria de Cultura;.

Origem


Na visão do filólogo pernambucano Evanildo Bechara, o termo forró é uma redução de forrobodó, variante do antigo vocábulo galego-português forbodó, originário da região noroeste da Península Ibérica. Já na etimologia popular é frequente associar a origem da palavra forró à expressão da língua inglesa for all ; para todos ; trazida pelos norte-americanos, que no período da Segunda Gurra Mundial, instalaram uma base militar em Parnamirim (RN).

Os novos grupos surgidos após o advento do chamado forró universitário, que tem como referência os paulistanos Falamansa e Rastapé, tendem a ter uma postura mais flexível em relação à tradição. Quem age assim, costuma incorporar ao ritmo elementos de outros estilos musicais, sem nenhum sentimento de culpa.

Forrozeiro brasiliense, filho de família originária de Paracatu, cidade mineira a 240 quilômetros da capital, Thiago Vinicius de Carvalho criou, em 2004, o Forró Lunar. Durante sete anos o grupo teve atuação destacada na cena musical da cidade e mesmo fora dos limites do Distrito Federal, chegando a fazer algo em torno de 1,2 mil shows.

;Em 2012, com a experiência acumulada no Forró Lunar, decidi partir para carreira solo, buscando alçar voos maiores. Formei uma banda para me acompanhar e segui fazendo shows, uma média de 90, nos últimos três anos. Me preparei também para gravar meu primeiro disco que, com o título de Outras fases, foi lançado no ano passado;, destaca o cantor, que adotou o nome artístico de Thiago Lunar.

Segundo ele, é no mês de junho, em função das festas juninas que faz um número maior de shows. Há lugares, como o Forró Ispilicute (Cota Mil), Bar Brahma, em que costumo me apresentar com maior frequência. Faço muitas festas particulares e eventos corporativos;, conta. ;Brasília tem muitos forrozeiros bem-intencionados, que lutam para manter a cena viva e forte. A renovação do público, no entanto, tem sido lenta;, complementa.

Em abril, Thiago Lunar esteve na Europa e fez alguns shows em Portugal e na Holanda. ;Descobri que, ao longo do ano, existem cerca de 50 festivais de forró na Europa. Foi muito bom poder sentir que os europeus gostam e valorizam o forró e a música brasileira. Espero que o bom momento do gênero naquele continente possa impulsionar melhores momentos aqui em nosso país;, torce Thiago, que tem como principais referências Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Gilberto Gil e Caetano Veloso.

Forró de resistência

A cultura do forró em Brasília tem como principal reduto o Ispilicute (expressão originária do vocabulário ;cearencês;, que se refere à mulher bonita e arrumada). Trata-se de um espaço de festa que funciona há 11 anos, às sextas-feiras, no Cota Mil, no Setor de Clube Sul, oferecendo sempre uma atração por semana.

O local acolhe também o Circuito de Profissionais de Academias de Dança, com aulas gratuitas às 20h30. O Ispilicite, tido como ponto de resistência do forró na capital, possui ainda o Bar JK, serviço de chapelaria, estacionamento interno, com segurança. Quem está no projeto desde o início é a produtora Cristiane Dias, com profundo conhecimento do gênero.

;Nosso foco principal no Ispilicute é o forró tradicional, também conhecido como forró pé de serra, mas há espaço para variações como o forró universitário. Já recebemos aqui como atrações os grupos paulistas Rastapé e Bicho do Pé, o pernambucano Cezzinha do Acordeon e o ator e cantor Marcelo Mimoso, que deu vida a Luiz Gonzaga no filme Gonzagão, a Lenda e o Os 3 do Nordeste;, lembra Cristiane. ;Mas os forrozeiros brasilienses, como Thiago Lunar, Trio Balançado e Trio Balalaica estão entre os nossos convidados mais frequentes;, ressalta.

Desde a abertura, o Ispilicute tem o DJ Lêu no comando das picapes. ;Embora eu busque dar vez ao forró de novos grupos, revelados pelo Festival Nacional de Forró de Itaúnas (ES), não podem faltar os clássicos dos mestres Gonzagão, Jackson do Pandeiro, Dominguinhos e de Marinês, a nossa rainha.;

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