Amparada pela memória que recria os registros de imagens e tesouros que guardou para a escrita, a poeta Carla Andrade lança, hoje, seu quarto livro, Caligrafia nas nuvens, pela editora Patuá. A mineira de Belo Horizonte fez carreira literária em Brasília e, apaixonada por poesia, tem três livros publicados: Conjugação de pingos de chuva (LGE), Artesanato de perguntas (7Letras) e Voltagem (7letras). Entre as páginas, a ficção se mistura com o tom das poesias confessionais da autora, que fala da natureza, do erotismo, da família e da rotina.
O início e o fim dos amores, além do frescor das novas relações e as frustrações do cotidiano servem como ponto de inspiração para a poeta. ;Falo, principalmente, das minhas memórias de Belo Horizonte e da infância. No último ano, eu senti muita falta da família, andei nostálgica e muitos poemas revelam isso. A efemeridade de tudo é bem marcada na escrita. O título traz bem essa ideia;, destaca. Em seu quarto livro, a preocupação pela imagem na escrita permanece a mesma. Carla conta que busca imagens desconcertantes, estranhas e cortantes para reunir nas páginas.
A vontade de inovar é constante, assim como a busca pela utilização de diferentes estilos de escrita, tamanhos de versos e nuances entre as palavras. ;Eu estou mais preocupada com a forma, em testar novas maneiras, em não me acomodar com um estilo fixo. Até poesia rimada, que nunca gostei, ando tentando fazer, para dar mais ritmo aos versos;. Para ela, criar é ser livre, no momento em que se cria, o ser é potência. Enquanto isso, a preferência é pela escrita na primeira pessoa, passeando entre o estilo imagético e confessional, a autora lembra que se encontra em vários eu líricos, afinal, o poeta não cabe no poema.
O livro, que veio com a necessidade de fechar um ciclo, é um apanhado de memórias e de poesias recolhidas nos últimos dois anos. Em seu processo criativo, Carla busca imagens guardadas, pedaços de papéis e cadernos espalhados. O acúmulo de pequenas escritas cotidianas se ordena ao final das semanas para costurar os novos versos, combinando palavras, imagens e sensações. Para ela, a escrita acontece, principalmente, em seus momentos de solidão. ;O título Caligrafia das nuvens traz bem essa ideia. Acho que trago desenhos para a memória;, afirma.
Leitora fiel dos poetas e escritores locais, Carla Andrade conta que gosta de ler autores vivos, tendo a oportunidade de conhecer uma pessoa e transpassá-la por meio da leitura de suas obras. O espaço para autores independentes e para editoras menores é construído entre as feiras, as indicações pessoais e a visibilidade on-line. A autora destaca que a internet é o melhor mercado para novos autores e que encontra poetas e inspirações para a escrita na rede.
Caligrafia nas nuvens
Quarto livro da poeta mineira Carla Andrade. Editora Patuá, 108 páginas. Preço sugerido: R$ 38. Lançamento no Martinica Café (303 Norte), hoje, às 19h.