Diversão e Arte

Cena underground de Brasília mostra força com festas e eventos

Coletivos da cidade são responsáveis por movimentar o cenário alternativo da música eletrônica

Adriana Izel
postado em 27/06/2017 07:00

O grupo Crazy Cake Crew foi um dos pioneiros da nova geração de coletivos que valorizam a música eletrônica

Nos últimos cinco anos, a cena eletrônica underground de Brasília voltou a mostrar sua força. Tudo isso graças a DJs e produtores da cidade que se uniram e criaram coletivos com o intuito de valorizar o cenário. Esses grupos promovem festas e eventos no Distrito Federal de forma independente, em que compartilham pesquisas e experiências de forma intimista e democrática.

"Hoje (o cenário eletrônico) é um mercado muito movimentado. A cena da cidade já é bem heterogênea e há som para todos os públicos. O real problema é a falta de investimento, patrocínio e incentivos financeiros à cena independente. Mas a noite da capital evoluiu muito em diversos aspectos e esse nicho sempre fez a capital figurar entre as referências brasileiras do estilo", define Tonny Carvalho, o DJ Tonny Rocks, que é um dos integrantes do coletivo Crazy Cake Crew.

O grupo, que também é conhecido pela sigla CCCP, completou quatro anos em 2017 e é um dos pioneiros dessa nova geração de coletivos. O projeto surgiu como um podcast, em que o coletivo, formado por nove integrantes (Ahmed, Brooks, Tonny Rocks, Rodrigo Gazola, Weirdo, Daniel Sam, Keylero, Nanda Picorelli e Thay Moura), aproveitava os encontros semanais para propagar o som eletrônico. "A música é o foco, sempre foi. Tocar é um caminho natural para quem gosta e quer se envolver de fato com música eletrônica", explica Tonny.

Assim, o Crazy Cake Crew passou de apenas um podcast para aumentar sua atuação produzindo festas na cidade e movimentando o cenário. Atualmente, o grupo está criando suas próprias faixas, com o intuito de acrescentar bagagem ao coletivo. "A produção de eventos é a parte que faz o trabalho ser sustentável. Acaba que uma parte é artística e a outra une divulgação e o lado comercial", completa o DJ.

Cenário mais firme


Há três anos, a cena noturna brasiliense viu aparecer outros dois coletivos, que fazem parte desse cenário até hoje: HO Audio Company e Parque Sonoro. O primeiro, criado por quatro integrantes (Broken, Edd, Freeky e Poeck), surgiu com a intenção de apresentar novas sonoridades aos estilos que já eram mostrados exaustivamente na noite candanga. "O nosso principal foco é o drum;n;bass. Um estilo que sempre foi presente nos grandes festivais de Brasília nos anos 2000 e que funciona muito bem por ser totalmente para cima. Nossa intenção também sempre foi mostrar nossas diversas influências, nossa pesquisa musical e revelar que existe música de qualidade fora do que é tocado nas festas, além de valorizar a cultura do DJ e da discotecagem", conta Anderson Freeky.



Souza (Lethal) e Kaster João, do coletivo Parque Sonoro, fizeram o projeto para criar espaços democráticos

O grupo Parque Sonoro também nasceu no DF com uma ideologia parecida e que vai um pouco mais além. Os DJs e produtores Kaster João e Lethal, moradores de Taguatinga, tiveram a ideia de ocupar áreas verdes da cidade unindo preservação, cultura e educação, por meio de eventos democráticos em que estilos como break, dub, ragga, reggae, hip-hop e house tivessem espaço. "Em Brasília, temos dificuldade de espaços democráticos para a execução de projetos como Parque Sonoro. Nossa primeira edição foi há três anos e colocamos um som, tivemos dança e MCs se apresentando e, a partir daí, só crescemos;, conta Kaster João. O evento que começou com 200 frequentadores, hoje reúne mais de 4 mil pessoas. ;Fazemos uma análise positiva de crescimento, em que atuamos fora do mainstream e conseguimos arrebatar adeptos", defende Kaster.

Coletivos embrionários


De olho nessa tendência e, talvez, animados com a consolidação dos grupos na praça, em dois anos, novos coletivos, com objetivos parecidos, apareceram no cenário brasiliense. Um deles é a Sintra, que, assim como CCCP, surgiu primeiramente como outro projeto: um webrádio, a SintraFM, até aumentar sua área de atuação para a realização de festas. "A ideia surgiu da vontade de tocar e disseminar o som que gostamos. Víamos festas apresentando expressões minimalistas da house music e do techno em outros lugares e sentíamos falta disso em Brasília", conta Rayssa Coimbra, que atua no coletivo ao lado de Arthur Biage, Diones Penteado e Hugo Coimbra. Para Rayssa, a cidade vive um momento revigorante para a música eletrônica underground e independente. "Novas festas têm gerado uma renovação do público e também sentimos que a música eletrônica conceitual vem ganhando mais força. Trabalhamos para intensificar esse movimento", analisa.

Esse é também o objetivo do projeto Bolha, formado por Pedro Oliveira (Torch), Hibys de Farias, Igor Severo e Hélio Matos (Weirdo), que realizou o seu primeiro evento em abril de 2016 passeando por vertentes da música eletrônica, como drum;n;bass. A festa surpreendeu ao não ter line-up divulgado previamente. "Convidamos o público a deixar de se preocupar com quem está tocando para curtir o que está sendo tocado e viajar nas texturas visuais e imagens geradas por VJs;, explica Igor Severo. ;Nossa intenção era de aproximar um pouco mais os diferentes públicos dessa nova cena com um pouco do saudosismo das primeiras festas na capital, em que vertentes múltiplas da eletrônica possam conduzir uma mesma pista", completa Severo.

Diversificar o estilo nas pistas de dança também foi a ideia do coletivo Cause Org, que surgiu em março deste ano na cidade, com seis integrantes (Alan Bergmann, Carlos Pires, Marcelo Vidal, M0Fx, PH e Phyl Rocha). "Nossa intenção é dar mais opções ao público de Brasília nesse nicho da e-music. Estávamos ficando sem opções de festas graças ao boom de estilos mais populares, como o brazilian bass e EDM;, afirma Phyliph Rocha. O DJ acredita que o fato de Brasília ser uma cidade nova fas com que as próprias manifestações culturais sejam recentes e acabem ficando atrás de estruturas de locais como São Paulo e Rio de Janeiro. ;Como os produtores e donos de casas noturnas no DF ficam reféns dos estilos mais populares, é um processo natural surgirem coletivos para suprir esse mercado", acrescenta.

Do ano passado para cá, a cidade ainda contou com os nascimentos dos coletivos Vapor, que tem foco um estilo mais underground, que vai da house music até deep techno; Sujo, que coloca em evidência um lado mais subversivo da música com cinco integrantes (Ana Ramos, Fernanda Cajú, Cesar Bosi, João Duarte e Stickone xvx); e ÍMÃ (que possui 13 integrantes, entre DJs, cineastas, artistas, músicos e designers), que buscou trazer elementos que não estavam contemplados em festas da cidade, como criar experiências em eventos, exposições e apresentações.

Conheça outros coletivos do DF

Crazy Cake Crew - https://www.facebook.com/crazycakecrew/
Ho Audio Company - https://www.facebook.com/HOAudioCompany/
Parque Sonoro - https://www.facebook.com/parquesonoro/
Cause Org - https://www.facebook.com/ColetivoCauseOrg/
Sintra - https://www.facebook.com/sintrafm/
Bolha - https://www.facebook.com/bolhabsb/?hc_ref=SEARCH
SUJO - https://www.facebook.com/sssujo/
Vapor - https://www.facebook.com/vaporbsb/
ÍMÃ - https://www.facebook.com/ima.info/

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