Diversão e Arte

Encontro de João Bosco e Hamilton de Holanda mostra o entrosamento

Em outubro de 2016, eles voltaram a estar juntos em cena ao tomarem parte do Mimo Festival, no Rio de Janeiro e em Olinda

Irlam Rocha Lima
postado em 29/06/2017 07:30
João Bosco e Hamilton de Holanda

Músicos de diferentes gerações, João Bosco e Hamilton de Holanda têm em comum o fato de, mesmo sendo intérpretes virtuosos de ritmos brasileiros, utilizarem elementos do jazz na criação de arranjos em seus trabalhos. Como ambos são dados a improvisos, costumam propor, a cada apresentação, novas nuances para uma mesma canção.

Os dois tiveram alguns encontros no palco nas duas últimas décadas. Em 2006, João foi convidado de Hamilton em show pelo projeto Cultura em Conjunto, na Sala Villa-Lobos. Três anos depois, o bandolinista e compositor carioca-brasiliense participou do DVD Obrigado gente!, do cantor, compositor e violonista mineiro, gravado no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.

Em outubro de 2016, eles voltaram a estar juntos em cena ao tomarem parte do Mimo Festival, no Rio de Janeiro e em Olinda. O que mostraram naquele evento serviu de base para o Eu vou pro samba, show que fazem de hoje a domingo, no Teatro da Caixa. Em duo, passeiam por repertório que inclui clássicos da obra de mestres da MPB, como Ary Barroso, Dorival Caymmi, Moacyr Santos e Milton Nascimento, além, é claro, das consagradas criações de João.

Na visão do artista mineiro, Hamilton é um músico de extraordinários recursos. ;Intérprete de gêneros diversos, faz isso com uma competência peculiar. Ele vem do choro, uma escola rica melódica e harmonicamente, o que o faz ser instrumentista extremamente criativo, que foge da repetição, até porque, assim como eu, tem no improviso uma possibilidade a mais;, afirma. ;Dividir o palco com o Hamilton nesse show, para mim ,é um privilégio;, acrescenta.

João, recentemente, cumpriu temporada no Birdland, tradicional jazz club de Nova York, onde, em outros tempos, o saxofonista Charlie Park era a maior atração. Nas duas semanas em cartaz, teve casa lotada todas as noites. Em setembro, o cantor volta à Alemanha para uma série de shows com a big band NDR. ;Em 2012 estive lá e gravamos um disco, intitulado Senhoras do Amazonas, lançado no mercado europeu;, conta.

Ao voltar ao Brasil, João concluiu a produção do Mano que zuera, álbum de músicas inéditas, que havia gravado antes da viagem. O disco tem 13 músicas, compostas com parceiros diversos. ;Duro na queda é um samba que fiz com Aldir Blanc. Pé de vento é outro samba, com letra do baiano Roque Ferreira, que me foi apresentado por Maria Bethânia. Tem também Ultraleve, no qual o Arnaldo Antunes fala na letra de um outro Rio de Janeiro, fugindo um pouco de Copacabana, Ipanema e Leblon;, adianta. ;Há ainda o choro Nenhum futuro, no qual meu filho Francisco Bosco retrata bem, como uma polaroide, o Brasil de agora. É dele, igualmente, a letra da música que dá título ao CD;, antecipa.

Agenda movimentada

Hamilton de Holanda, cada vez mais, tem marcado presença no circuito internacional do jazz. Neste mês, o bandolinista participou de quatro eventos nos Estados Unidos voltados para esse estilo musical. De 1 a 3, subiu ao palco prestigiado da Sala Rose Teather do Lincoln Center, em Nova York. Ali, ao lado do trompetista Winton Marsalis ; seu anfitrião ; prestou tributo ao lendário pianista Thelonious Monk.

Uma semana depois, tocou no tradicional Playboy Jazz Festival, no anfiteatro do Hollywood Ball, em Los Angeles; na sequência, fez show no Dazzel, clube de jazz de Denver, no Colorado. ;Encerrei esta breve estadia nos EUA, em Jones Beach, um balneário próximo a Nova York, fazendo uma apresentação ao lado da Dave Matthews Band, que faz uma mistura de pop, rock e jazz em seu trabalho.;

Ao voltar ao Brasil, Hamilton comandou no Rio de Janeiro o Baile do Almeidinha, gafieira que mantém há quatro anos no Circo Voador, na Lapa. No último domingo, foi uma das atrações do concerto que marcou o encerramento da 19; edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, na cidade de Goiás, sendo assistido por plateia de 5 mil pessoas.

Sobre a temporada que cumpre de hoje a domingo no Teatro da Caixa, na companhia de João Bosco, Hamilton fala com entusiasmo. ;Além de voltar a tocar em casa, vou ter ao meu lado um nome icônico da MPB, de quem sou fã de carteirinha. Autor de incontáveis clássicos, cantor de interpretação singular, João é, ainda, um exímio violonista. O balanço e o suingue que ele cria com a mão direita é algo especial. Não conheço nenhum outro violonista que faça igual. Estar novamente no palco com ele me traz uma grade satisfação.;

Finalista da 28; edição do Prêmio da Música Brasileira, na categoria Instrumental, ele concorre aos troféus de melhor disco e melhor instrumentista, pelo CD Alegria, voltado para o público infantil. ;Não poderei é ao Theatro Municipal (Rio de Janeiro), no dia 19 de julho, pois já estarei na Europa em nova turnê. Entre os compromissos que terei, estão a participação no Umbria Jazz Festival, show com o pianista Stefano Bollani, Egberto Gismonti e a cantora caboverdiana Mayra Andrade em Perugia, também na Itália; e apresentação no Mimo Festival, em Amarante, cidade histórica de Portugal;, anuncia.


Eu vou pro samba
Show de João Bosco e Hamilton de Holanda hoje, amanhã e sábado, às 20h e domingo, às 19h, no Teatro da Caixa (Setor Bancário Sul). Ingressos a R$ 20 e R$ 10 (meia). Classificação indicativa livre. Informações: 3206-9450.

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