Diversão e Arte

Novos Baianos se apresentam hoje em Brasília

O grupo vem para a capital com a turnê comemorativa dos 45 anos do disco acabou chorare

Irlam Rocha Lima
postado em 01/07/2017 07:34
O Icônico grupo se apresenta hoje na cidade
;Televisão, festivais/ Teatro, literatura/ Jovens quebrando tabus/ No tempo dos generais/ Da repressão, da tortura/Exílio e urutus/ Foi dentro desse contexto/ Que uma tribo Paz e Amor/ Tramou a sua viagem/ O sonho como pretexto/ E no lugar do temor/ Talento e muita coragem/ A luta não foi em vão/ Contrariando o regime/ Vingaram sim nossos planos/ Com cara de campeão/ Chamado Novos Baianos...;

Os versos do cordel A história dos Novos Baianos e outros versos, livro lançado há 10 anos por Moraes Moreira, é uma síntese da saga de um grupo que, ao surgir na cena musical brasileira, no início da década de 1970, ocupou de forma revolucionária o vácuo deixado pelos tropicalistas, com o exílio de Caetano Veloso e Gilberto Gil em Londres.

Em maio de 2016, Baby do Brasil, Moraes Moreira, Luis Galvão, Paulinho Boca de Cantor e Pepeu Gomes voltaram a se reunir e botaram o pé na estrada para celebrar os 45 anos da trupe com a turnê Acabou chorare ; Os Novos Baianos se encontram. O show que tem por base o LP homônimo ; escolhido por meio de uma enquete feita pela revista Rolling Stone Brasil, com jornalistas, críticos musicais e estudiosos, como o melhor lançado no país em todos os tempos ;, finalmente chega a Brasília.

Hoje, às 22h, o grupo se apresenta no Ginásio Nilson Nelson, palco de um raro show anterior, em 1973, quando foi lançado outro LP histórico, o Novos Baianos Futebol Clube. No concerto, o quinteto tem a companhia de músicos com os quais conviveram à época: o baixista Dadi Carvalho (integrante da formação original), Didi Gomes, também baixista, o baterista Jorginho Gomes, além do tecladista Gil Oliveira.
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A motivação do reencontro dos Novos Baianos veio após o convite para o show de reabertura da Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador, em maio. ;Não tínhamos planos para retomar a trajetória do grupo. Mas o convite feito pela direção do Teatro Castro Alves para participar da reabertura da Concha Acústica mexeu com a gente. A repercussão do show e os muitos convites para novas apresentações nos fizeram pensar nessa possibilidade;, conta Moraes Moreira.

Parceiro de Galvão na maioria dos clássicos dos Novos Baianos, Moraes diz que a iniciativa para a realização da turnê foi de Baby do Brasil. Por meio da sua produtora, ela começou a fazer contato com os contratantes e, logo depois, teve início a excursão. ;Em todos os locais onde nos apresentamos, tivemos acolhida calorosa do público, com destaque para a participação de jovens, apaixonados por nossa música;, comemora.

Serem recontratados pela Som Livre, da qual fizeram parte do cast no início da carreira, foi determinante para a gravação do primeiro DVD dos Novos Baianos, em março último, no Rio, com o repertório do álbum Acabou chorare e alguns acréscimos. São músicas que o brasiliense vai apreciar no show desta noite, como A menina dança, Besta é tu, Brasil pandeiro, e, claro, a que dá nome ao projeto. A elas se juntam, por exemplo, O samba da minha terra (Dorival Caymmi) e Chega de saudade (Tom Jobim e Vicicius de Moraes), com a qual é feita uma homenagem a João Gilberto.

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Acabou Chorare ; Os Novos Baianos se encontram
Show com Baby do Brasil, Moraes Moreira, Luis Galvão, Paulinho Boca de Cantor e Pepeu Gomes hoje, às 22h, no Ginásio Nilson Nelson (Eixo Monumental). Ingressos: R$ 50 (cadeira superior), R$ 80 (cadeira de setor), R$ 120 (cadeira pista lateral), R$ 130 (Camarote Balako), R$ 150 (cadeira pista central), R$ 150 (cadeira vip lateral) e R$ 200 (cadeira vip) ; valores referentes a meia entrada. Pontos de venda: G2 do Brasília Shopping, FNAC (ParkShopping). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 4003-6860.


Entrevista// Baby do Brasil


Como foi o encontro, em Salvador, com Moraes Moreira, Luis Galvão e Paulinho Boca de Cantor, lá na década de 1970?
Eu fui para Salvador aos 16 anos. Mas aos 14 anos eu tive uma visão de que a música seria a minha profissão e nessa revelação de Deus, fiquei sabendo que o meu nome mudaria para Baby. A minha ida para a Bahia foi completamente matrix... Quando cheguei lá, tudo aconteceu! Conforme a revelação!



Que acolhida você recebeu deles num primeiro momento?
Foi muito bom o nosso primeiro encontro. Eles me acharam muito louca por causa das calças rasgadas e do espelho na testa que eu usava.



Que ligação você tinha com a música naquela época?
A música estava na minha vida desde criança, pois meus pais e toda minha família sempre cantaram e tocaram instrumentos bem variados, como violão, piano, acordeom, bandolim, violino... Ganhei da minha mãe um violão quando tinha uns 9 anos e, daí pra frente, peguei confiança em cantar e tocar.



O entendimento entre vocês se deu de forma imediata?
Sim. As nossas roupas e cabelos se comunicaram antes (risos). Percebemos de imediato que éramos da mesma tribo!



Como Ferro na boneca, o LP de estreia do grupo, foi recebido pelo público e pela crítica?
Foi um susto para muitos, escândalo para outros e grande alegria para tantos outros que estavam quase órfãos do tropicalismo, pois Caetano e Gil tinham saído para o exílio e todos estávamos tristes.



Em 1971, Gal Costa fazia o show Fa-Tal, no Teatro Teresa Raquel, em Copacabana, e os Novos Baianos, ocupavam o palco depois, na ;sessão maldita; da meia-noite, com o Desembarque dos bichos depois do dilúvio universal. Como foi a recepção dos cariocas para o grupo nessa estreia no Rio de Janeiro?
Com a galera mais louca foi delírio total! A mais careta demorou a absorver a criatividade do grupo, mas vencemos com eles na musicalidade. Todos ficavam apaixonados pelo nosso som. E Gal Costa, bombadíssima, maravilhosa e incrível, foi como uma embaixadora de Novos Baianos naquela época!



Com o LP clássico Acabou chorare, o Brasil inteiro tomou conhecimento dos Novos Baianos. Como receberam o sucesso e a fama?
Recebemos como um presente abençoado de Deus, pois havíamos passado por muitas necessidades, incluindo prisões, naquele tempo de ditadura. Ficamos sem grana várias vezes e nos uníamos como família para que conseguíssemos chegar ao sucesso e nos manter dignamente. Foi a bênção que esperávamos!



Que lembranças guarda do apartamento de cobertura de Botafogo e do Cantinho do Vovô, o sítio em Jacarepaguá, onde viveram comunitariamente?
As melhores lembranças possíveis, pois foi ali, naqueles lugares separados, a minha escola de vida e de música. Foi extraordinário! O maior e melhor laboratório de música que se pode almejar! Nos éramos um povo,uma tribo, um país à parte de tudo o que acontecia: no Brasil e no mundo, nada parava a arte que estávamos produzindo! E no meio daquela confusão toda, daquela prisão política, nós já éramos livres.



O disco Novos Baianos Futebol Clube pode ser visto como uma extensão do Acabou chorare?
Cada disco marca uma fase e cada uma delas falam dos momentos que estávamos vivendo . As letras eram personalizaras e tudo estava muito integrado .Na verdade cada CD teve a identidade própria, porém com a presença da continuidade.



Em 1978, já fora dos Novos Baianos, você se tornou a primeira cantora de trio elétrico. Como foi a experiência?
Não houve intenção, mas a ousadia me fez puxar aquele microfone do bumbo que eu tocava, porque não aguentei mais, e cantei : ;quem é o campeão dos campeões?; e o povo gritou: ;é o Bahia!” Aí não teve mais jeito! No ano seguinte, seu Osmar Macedo, que aprovou a ideia, pai de Armandinho do Bandolim, colocou voz no trio elétrico deles com Moraes Moreira à frente.



O que guardou da fase em que gravou discos e se apresentava ao lado de Pepeu Gomes?
Pepeu,é um dos maiores músicos do mundo. Ele foi uma grande bênção na minha carreia solo desde o início. Nossa parceria musical é composta por grandes hits e uma grande quantidade de músicas que englobam vários CDs, das nossas carreiras, de muito sucesso. Ele fez arranjos antológicos e solos inesquecíveis. Hoje ele é meu irmão querido, meu ex-marido e o pai dos meus 6 filhos. E para coroar tudo isso eu e Pepeu acabamos de fazer depois de anos uma música nova que estará no meu próximo CD e fará parte do meu novo show, Baby do Brasil experience.



Antes desse novo reencontro, no show de reabertura do Teatro Castro Alves, em Salvador, que gerou a atual turnê, vocês se reuniram para gravar o CD Infinito particular. Como tem sido esse novo retorno dos Novos Baianos?
É como se o tempo não tivesse passado! Damos muitas risadas todo o tempo, nos divertimos lembrando das nossas histórias de vida... O retorno aos palcos tem sido gratificante, pois estamos nos revisitando, nos amando, crescendo musicalmente, e recebendo do público dos filhos e dos netos daqueles que caminharam com a gente nos anos 1970 ; todo o amor, admiração o respeito e o carinho que qualquer artista almejaria receber em sua carreira.



Que lembranças tem de Brasília, onde se apresentou duas vezs com os Novos Baianos, outras com Pepeu e mais recentemente com o show Baby sucessos?
Brasília é uma cidade única! Tão jovem, já conta com grandes músicos nascidos na terra, como o grande guitarrista, violonista, arranjador Nelson Faria. Sempre que fizemos um show em Brasília foi caloroso e marcante. É um público que está antenado com tudo o que acontece no Brasil e, quando a música de outros estados chega, é recebida calorosamente. Estamos muito felizes em reencontrar esse público.

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