Diversão e Arte

Designers e editores criam um circuito independente para trabalhos

Projeto de oficinas e palestras na Caixa trata do tema

Nahima Maciel
postado em 03/07/2017 07:30

Jornalista João Varella

A produção gráfica brasileira vive um de seus melhores momentos. As crises econômicas que atingiram os mercados, inclusive o editorial, e o avanço das tecnologias de impressão deram suporte a uma espécie de movimento independente. O resultado são as dezenas de feiras que se espalham pelo país para divulgar outra dezena de editoras independentes surgidas nos últimos anos. É um pouco em consequência disso e para entender o fenômeno que o projeto S %2b Dobras leva à Caixa Cultural, a partir de terça-feira (4/7), uma série de palestras e oficinas de design gráfico com profissionais que fazem parte dessa cena.

Jornalista com passagem por veículos como IstoÉ Dinheiro, Gazeta do Povo e portal R7, João Varella é também um dos fundadores e editores da Lote 42. Criada em 2012, a editora tem um catálogo de 22 livros e seis fanzines, todos produzidos com a ideia de não colocar barreiras quando se trata de suportes. Impresso ou digital, em disco ou acompanhado de música, os livros da Lote 42 nascem de uma total liberdade criativa. O produto mais recente é Modo avião, assinado pelo quadrinista Rafael Coutinho, pelo escritor João Paulo Cuenca e pelo compositor Lucas Santtana. O livro está em suporte papel, mas vem com CD, tem música, poesia e também é um disco.

Na palestra marcada para quinta-feira, João Varella vai dar um panorama sobre as engrenagens do mundo do livro. ;Vou pegar desde o conteúdo, o processo antes da gráfica, o processo depois da gráfica e um panorama das publicações independentes no Brasil;, explica Varella. ;Vivemos um momento empolgante.; O editor lembra que, há alguns anos, houve uma grande aposta no e-book, mas os números mostraram a estagnação na venda desse tipo de produto e um aumento na comercialização dos livros impressos. ;A verdadeira revolução, que a gente não viu, foi a impressão em pequena escala;, avisa Varella. Impressoras digitais permitem a produção de poucos volumes e isso abriu possibilidades para os criadores. ;A consequência disso são as feiras. São muitas. É uma rede com um calendário de feiras de publicação independente;, aponta. O mais complicado, hoje, não é achar uma editora e sim distribuir e divulgar o material, por isso, as redes e feiras que unem coletivos e pequenos criadores ganharam tanto espaço.
Produção independente

O designer Paulo Chagas se juntou a dois sócios para montar o escritório Bloco Gráfico depois de sair da Cosac Naify. A editora especializada em livros de luxo foi encerrada em 2015, após seu proprietário, Charles Cosac, constatar a falência do negócio. Chagas ficou na Cosac por sete anos e levou a experiência para um modo de produção independente. Na Bloco Gráfico, ele realiza projetos encomendados por várias editoras do país. ;A demanda de livros com maior qualidade gráfica aumentou. As editoras buscam os designers para tomar decisões mais efetivas em relação à capa e ao livro. E hoje tem uma coisa de chamar o designer para fazer o livro todo e não apenas a capa. Isso é importante porque o livro não é só a capa;, constata.

Elaine Ramos também adquiriu boa parte da experiência na Cosac Naify, na qual foi diretora de arte durante 11 anos. Quando a empresa faliu, ela se juntou a Florência Ferrari e Gisela Gasparian para fundar a Ubu, editora que herdou alguns títulos do catálogo da Cosac e mantém a mesma linha, mas em escala de produção bem menor. No S Dobras, ela quer mostrar aos participantes que, antes de tudo, é preciso ser propositivo no mercado de design gráfico. ;O mercado, de fato, é pequeno no Brasil, mas acho que faz parte da profissão você inventar e abrir oportunidades;, garante. ;Um designer que queira trabalhar com livros hoje dificilmente vai ter um emprego fixo numa editora, boa parte das editoras não trabalham com equipe interna. Mas acho que isso te dá a possibilidade de inventar projetos e maneiras de viabilizá-los. A gente, obviamente, está num momento muito complicado do Brasil em relação a tudo e à cultura também. É uma situação de exceção e não temos nem muito como saber onde vai dar, por isso é importante que o designer tenha uma visão ampla da situação e se envolva não só com o conteúdo, mas com a produção de conteúdo também.; Durante a oficina, Elaine vai apresentar um texto e pedir aos participantes que desenhem um projeto para o material. Para a designer, o projeto S Dobras é uma das criações de oportunidades que ela acredita ser fundamental para a sobrevivência da produção gráfica brasileira. Além de Elaine, Chagas e Varella, estarão também no S Dobras as designers e arquitetas Marcia Signorini e Luciana Facchini.

Terça-feira, das 10h às 12h30
Palestra de abertura ; O Design e a produção de publicações impressas no Brasil / História e mercado atual ; com Elaine Ramos

Sexta-feira, das 14h às 16h30
Palestra de encerramento - Produção gráfica para objetos especiais ; com Marcia Signorini

S Dobras
De 4 a 7 de julho, no teatro da CAIXA (SBS Quadra 4 Lotes 3 e 4 - Edifício anexo à matriz da Caixa) Entrada gratuita, mediante inscrição prévia no site www.salazz.cc/sdobras. Vagas esgotadas.

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