Diversão e Arte

Novo livro do misterioso escritor Thomas Pynchon chega às prateleiras

Em mais de 500 páginas, 'O último grito' mescla suspense, comédia e cultura punk

Alexandre de Paula
postado em 04/07/2017 07:02

Thomas Pynchon em um dos únicos registros de sua imagem, na juventude

A figura do escritor recluso, que prefere se manter distante de tudo, não é rara na literatura. Ermitões e casmurros sempre estiveram presentes entre os grande autores. Ninguém talvez tenha levado isso tão a sério quanto o aclamado escritor norte-americano Thomas Pynchon.

Autor de livros extensos e cultuados com fervor, Pynchon decidiu se isolar desde que lançou o primeiro romance, V, em 1963. Sem conceder entrevistas e sem aparições públicas, as únicas imagens realmente confirmadas de Pynchon são fotografias de sua juventude. Hoje, ele tem 80 anos.

Pela aura misteriosa criada em torno da figura e pela importância que a obra dele ganhou (Pynchon é considerado um dos maiores autores norte-americanos vivos), o escritor se tornou um ícone da cultura pop. Tanto que acabou participando de episódios do seriado Os Simpsons, dublando a si mesmo. Nos episódios, ele (sua representação em desenho animado, na verdade) aparece com o rosto coberto.

O romance mais recente de Pynchon, O último grito, acaba de ser lançado no Brasil pela Companhia das Letras. A trama mistura história de detetive, comédia e tons cyberpunks em 544 páginas e se passa meses antes do atentado terrorista contra as Torres Gêmeas.

Em O último grito, Pynchon apresenta Maxine, uma especialista em fraudes fiscais, que é contratada para investigar uma startup. As pistas levam a diversas situações, algumas bastante bizarras. Um novo videogame que transforma a deep web em um lugar habitável (por realidade virtual), o financiamento de terroristas e o contrabando de sorvete russo proibido são algumas delas.


Thomas Pynchon em um dos episódios de Os Simpsons

Os livros de Pynchon, em geral, são bastante extensos. Uma de suas principais obras, O arco-íris da gravidade, por exemplo, tem 792 páginas na versão brasileira. A mistura de situações, como a sinopse de O último grito sugere, é uma de suas marcas. As narrativas do autor podem ter centenas de histórias paralelas e de personagens, o que as torna, muitas vezes, extremamente complexas.

Outra característica notória da literatura de Pynchon é a mistura de temas e áreas. Física, matemática, química, filosofia, história, mitologia, ocultismo, música pop, quadrinhos, cinema, drogas são assuntos que podem aparecer em um livro do autor. Tudo batido em um caldeirão que junta erudição, cultura pop e humor.

Essas características aliadas à reclusão de Pynchon fizeram com que muitos dos fãs do autor se tornassem obsessivos. Listas de discussões e fóruns na internet debatem, em milhares de mensagens, trechos e personagens de cada uma de suas obras. A Pynchonwiki (uma enciclopédia só para o autor) tem verbetes com diversas informações para todos os seus romances.

Em 1997, a CNN fez uma extensa investigação sobre o paradeiro de Pynchon. A equipe da rede de televisão chegou a localizá-lo e a filmá-lo. Pynchon ligou para a emissora e pediu que mantivessem o vídeo com sua imagem em segredo. Na conversa, declarou: ;Recluso é uma palavra inventada por jornalistas que significa: não gosta de falar com repórteres;. Posteriormente, as imagens foram exibidas, mas a CNN apenas mostrava um aglomerado de pessoas e dizia que o autor estava entre elas.

Uma figura envolta de mistério como Pynchon obviamente geraria teorias da conspiração. Com ele, foram muitas. Bob Dylan e Jim Morrison foram alguns dos apontados como o verdadeiro Pynchon. Ao que tudo indica, no entanto, o autor não é nenhum deles e apenas decidiu se manter distante de todos os holofotes possíveis.

Outros autores reclusos


No início, Pynchon chegou também a ser apontado como um pseudônimo de J. D. Sallinger. Isso porque o autor de O apanhador no campo de centeio também escolheu a reclusão. Depois do sucesso de O apanhador, Sallinger passou a fugir de fãs e de aparições públicas. Morto em 2010 aos 91 anos, Salinger passou mais de 50 anos isolado na cidadezinha de Cornish, em North H ampshire.

A poeta Emily Dickinson é outro caso de reclusão na literatura. Autora de obra reverenciada na poesia norte-america, Dickinson sempre preferiu distância do mundo exterior e passou anos com contato apenas com familiares. Não por acaso, a maioria de seus poemas só foi conhecida depois de sua morte.

[SAIBAMAIS]O Brasil também tem casos de autores que escolheram a reclusão. Dalton Trevisan, um dos mais importantes contistas e escritores do país, escolheu levar uma vida distante de fãs, entrevistas e aparições públicas. Vencedor do Prêmio Camões de 2012 e conhecido como Vampiro de Curitiba, Trevisan mantém-se distante da fama na cidade paranaense.

Rubem Fonseca só faz raras aparições em eventos específicos

Mesmo que menos recluso do que os colegas, Rubem Fonseca também preferiu se manter longe dos ares da fama. Avesso a entrevistas e a falas em público, o escritor também manteve uma personalidade reservada e misteriosa. Morando no Rio de Janeiro, as aparições públicas do autor se resumem a raros eventos específicos, como a cerimônia do Prêmio Literário Casino da Póvoa, em Portugal, quando discursou sobre a sua obra.


SERVIÇO
O último grito
Thomas Pynchon. Companhia das Letras. 584 páginas. R$ 79,90.

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