Rachel Sabino *
postado em 05/07/2017 07:30
;Onde havia folia, lá estava o João.; Assim define Erbene Costa, viúva do agitador cultural e poeta João Roberto Costa Júnior, o Joãozinho da Vila, falecido na última segunda-feira. De acordo com os familiares, o animador cultural sofreu um acidente de moto por volta das 18h, na altura da 402 Norte. Segundo relatos de parentes, era provável que Joãozinho estivesse voltando para casa.
;O João era um folião desde que o conheci. Ele adorava produzir cultura, ajudar quem estava perto, e, principalmente, ensaiar com os Vilões;, relembra Erbene ao se referir ao bloco de carnaval de rua criado pelo marido.
A Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro (Aruc) se pronunciou diante da morte do poeta e sambista. ;A diretoria da Aruc envia o abraço solidário da família cruzeirense aos familiares e amigos. Hoje o céu o receberá em festa. Descanse em paz!”, disse Moacyr Oliveira Filho, presidente da associação.
Amigos e companheiros de carreira de João da Vila também se expressaram nas redes sociais. Renio Quintas postou uma homenagem ao amigo. ;Nos resta desejar que seja recebido pelas boas energias do universo. Vá com Deus, João! Que te acompanhem em outra dimensão a sua alegria, irreverência e poesia;, declarou.
Legado de alegria
Nascido em Unaí (MG), Joãozinho mudou-se para Brasília no ano da inauguração da cidade, em 1960. Aos 16 anos, João da Vila colocou em palco sua primeira peça O último rango de Jota Pingo, a qual teve participação especial da banda Aborto Elétrico.
Há seis carnavais, João da Vila criou o Bloco Vilões da Vila na cidade. Ao lado de Yuli Hostensky, os amigos decidiram presentear Brasília com um bloco de carnaval que levasse o lema: quem sobe o morro e não desce a ladeira, o melhor carnaval está nas ruelas da vila. O grupo ensaiava rotineiramente às manhãs de sábado debaixo de uma mangueira na Vila Planalto.
Além da música, João Roberto era ativo na escrita. Começou a publicar seus livros a partir de 2005, quando se mudou para a Vila. O livro 50 anos de obra em apenas um volume, que reúne 50 poesias do autor, tornou o poeta uma figura constante em saraus nas escolas públicas do DF. Meu masculino é feminino, lançado em 2014, também é uma coletânea marcante do poeta.
Ainda sem horário definido, o velório ocorrerá nesta quarta-feira, no Cemitério Campo da Boa Esperança.
*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco
Poema
Feminino
Eu quero ser o feminino
que nunca fui,
eu quero ser o feminino
que sempre existiu em mim,
eu quero ser o feminino
que penetrou o meu
útero imaginário.
(assim como feminino
poeta Reynaldo Jardim),
desejar ter outro feminino.
Ficarei vulgarmente
conhecido
como
sapatão.
JoãoZinho da Vila, do livro Meu masculino é feminino