Diversão e Arte

Exposição de Pedro Alvim tem inspiração na capital

Brasília e seus terrenos baldios servem de inspiração para o pintor na série Lugares e ficções

Nahima Maciel
postado em 09/07/2017 07:32
Paisagens isoladas, terrenos baldios e horizontes de Brasília entram no repertório visual de Pedro Alvim, que gosta de retratar a cidade
Pedro Alvim é um pintor à moda antiga. Gosta de sair por aí com o material debaixo do braço, se instalar em algum ponto discreto e com boa perspectiva, e desenhar ou pintar a paisagem. É fruto dessa peregrinação boa parte das 45 obras expostas em Lugares e ficções, em cartaz no Museu dos Correios. Produzidas entre 2007 e 2016, as obras tratam de dois temas que Alvim costuma encarar como complementares e interligados.

Lugares, na maioria das vezes, são paisagens. Ou, na concepção do artista, o presente, embora os lugares troquem e mudem de acordo com o tempo. ;As paisagens são registros do presente muito aleatórios, é o que me impressiona no momento;, explica. Terrenos baldios sempre impressionam Alvim. Em alguns dos quadros, ele retrata o pouco que resta de locais marcados pelo vazio, como terrenos do Setor Bancário Norte ou os trilhos abandonados atrás da Rodoferroviária. Mas ele também gosta do contraste, caso do barro que convive com o lustre dos prédios espelhados em tempos de chuva na região dos anexos dos ministérios, paisagem traduzida para a pintura. E do isolamento, ainda possível de ser encontrado em regiões centrais de Brasília, como o cartódromo. ;O terreno baldio tem esse aspecto de ruína, com aquelas escavações que vão desenterrando coisas, quase uma coisa de escavação arqueológica mesmo;, explica.


Já as ficções, Alvim avalia, são situações de maior estabilidade. ;É uma tentativa de dar sentido, como se fossem memórias que se misturam. A ficção cria uma liga de estabilidade, enquanto as paisagens são momentos, saltos no tempo;, compara. As pinturas intituladas de ficções muitas vezes trazem pequenos personagens, figurinhas que insinuam uma história qualquer. São variações em torno de gêneros temáticos que Alvim tomou emprestados da própria história da arte, como a paisagem histórica e as cenas de marinhas e de boemia. As primeiras, por exemplo, podem trazer personagens da mitologia ou da própria história.
[SAIBAMAIS]

Na exposição, ficções e lugares estão misturados. Pedro Alvim não as separa nem diferencia, embora haja uma maneira diferente de trabalhar com cada tema. ;A exposição foi pensada um pouco como um salão de pintura imaginário, à maneira dos salões de arte antigos. Nesses salões as obras expostas se referiam a histórias que, às vezes, não eram muito fáceis de identificar, e circulavam ;libretos; com textos explicativos e gravuras reproduzindo as obras;, conta o artista, que contou com a ajuda do também artista e amigo Zuca para criar poemas-resenhas sobre as pinturas expostas em um salão fictício que seria a própria exposição. ;Editei um libreto com desenhos e textos meus e do Zuca, e fragmentos de autores como Baudelaire e Diderot, que escreviam críticas dos salões;, explica.

As pinturas também podem levar anos para serem dadas por encerradas. Algumas das obras expostas no Museu dos Correios também estiveram na última individual do artista, em 2010. No entanto, não são exatamente as mesmas. Faz parte da maneira como Alvim trabalha sobrepor camadas de tinta ao longo dos anos, voltar a quadros, retrabalhar detalhes e até mudar um composição inteira. ;Não são com todos que pinto por cima;, explica. ;Faço isso porque é uma frustração, às vezes. É mais difícil acertar um quadro que não ficou bom de cara.;


Lugares e ficções
Exposição de pinturas de Pedro Alvim. Visitação até 3 de setembro, de terça a sexta, das 10h às 19h, e sábados, domingos e deriafos, das 12h às 18h, no Museu dos Correios (SCS - Qd 4, Bloco A)

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