Diversão e Arte

Arte que ajuda a tratar a depressão

Jovens encontram na expressão artística uma maneira de superar a doença

Rodrigo Barreto*
postado em 12/07/2017 07:30
Jovens encontram na expressão artística uma maneira de superar a doença
Durante a adolescência, o estudante Bernardo Moreira sofria bullying na escola por ser baixo e magro. Por volta dos 15 e 16 anos, enfrentou a crise mais aguda. A depressão fazia parte da vida de Bernardo. O estudante não é exceção no que se refere a esse quadro. De acordo com pesquisa da Organização Mundial de Saúde (OMS), realizada em fevereiro de 2017, o Brasil é o país com o maior número de pessoas depressivas da América Latina. Em Brasília, jovens enfrentam e superam a depressão por meio da arte.

A adolescência foi um período de muita dor e sofrimento para Bernardo. Ele costuma dizer que a fotografia o encontrou. Hoje, aos 20 anos, o artista publicou um livro, fez oito exposições pelo Brasil, além de ministrar cursos e workshops por várias cidades do país. Por meio da arte, Bernardo encontrou uma nova percepção do mundo ao redor.

;Eu sofria bullying na escola por causa do meu tamanho e peso. Teve um dia que eu apanhei feio e rompi o ligamento do dedo da mão. Foi péssimo. Isso piorou o meu grau de depressão. Comecei a fazer autorretratos e o bullying aumentou;, relembra Bernardo sobre a trajetória de como iniciou os projetos na fotografia.

Na adolescência, Pryscilla Dantas sofria de obesidade. Aos 15 anos, pesava 110 quilos. Passados quase 10 anos, é fotógrafa e atriz. O autorretrato foi a maneira de conseguir superar a depressão.

Assim como Bernardo, Pryscilla passou por momentos difíceis: ;A escola é uma fase da vida muito dolorosa. É difícil segurar a barra. Eu saía pro intervalo e não conseguia ficar ali. Eu era humilhada, as pessoas me magoavam e me machucavam;. Aos 15 anos, ganhou a primeira câmera. A fotógrafa e artista afirma que não sabia ao certo o que estava fazendo, todavia, o autorretrato a ajudou no processo de se perceber. A partir daí, procurou ajuda médica.

Karina Santiago começou o tratamento para a depressão em julho de 2016. Em novembro do mesmo ano, começou com as produções artísticas. Hoje, ela se dedica aos desenhos como forma de ajuda no tratamento da doença. ;A arte não cura a depressão, é só um meio. As pessoas precisam pedir ajuda;, ressalta. Os dias eram longos e Karina não tinha vontade de sair do quarto. A dor e o sofrimento se tornaram as companhias da artista. Apesar disso, criou forças e encontrou saída.

Após a execução de autorretratos, a artista plástica iniciou a representação dos momentos de crise por meio de desenhos. ;A ajuda profissional me coloca em um estado melhor e a arte me deixa 100%;, atesta Karina. Especialistas apontam que os estímulos psíquicos podem ser provocados por meio do contato com as manifestações artísticas. A partir disso, o processo do tratamento é facilitado. Segundo o doutor em psicologia André Piccoli, a arte não é a cura, entretanto, o contato com expressões artísticas torna melhor a fluidez do processo de tratamento.
Jovens encontram na expressão artística uma maneira de superar a doença
É fundamental o acompanhamento de profissionais da saúde para o tratamento da depressão. ;A arte se propõe a representar sentimentos. Nada melhor do que isso para que possamos nos compreender. O objetivo do processo de tratamento, muitas vezes, não é a cura. Mas, sim, compreender o que impede o desenvolvimento do paciente;, reforça a psicóloga Verena Bello.

De acordo com a pesquisa da OMS, a depressão é a doença que mais contribui com a incapacidade no mundo. Além disso, é a principal causa de mortes por suicídio ; com cerca de 800 mil casos por ano ; e é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.

DEPOIMENTOS

Bernardo Moreira
;Antes, eu tinha muitos pensamentos presos que eu não conseguia me expressar por meio das palavras. Com a fotografia, eu comecei a expressar para fora um mundo que eu vivo dentro de mim. Para um garoto que sofria bullying na escola, que não conseguia nem falar direito e, agora, consegue se expressar; é uma realização. O que eu fotografo hoje vem da minha história. A fotografia mudou a minha percepção do mundo. Aprimorou meu modo de viver;.

Jovens encontram na expressão artística uma maneira de superar a doença

Pryscilla Dantas
;A arte é tudo na minha vida. Sem a arte não tem mais sentido. Na fotografia e no teatro eu me encaixo muito. Ainda hoje eu preciso de ajuda. Eu melhorei muito. É um processo que eu tenho que aprender a lidar;.



Karina Santiago
;Antes, existia um vidro em que eu estava de um lado e todas as pessoas de outro. Quando eu comecei a fazer meus trabalhos, é como se eu tivesse arrancado esse vidro e agora eu posso comunicar sobre esse assunto (depressão) com outras pessoas;.


Clara Molina
;Comecei a fotografar nu, fazendo autorretratos. Foi uma forma terapêutica de lidar com meu corpo e com questões femininas muito delicadas. A sociedade prega um padrão modelo, e bem nessa fase, sentimos essa pressão social de sermos perfeitas. Quando não temos o corpo ideal, sofremos muito com isso. Foi uma libertação; um jeito de eu ver o corpo de forma sublime, como objeto de estudo e principalmente: entender a particularidade de cada corpo. Nessa fase, decidi seguir a arte profissionalmente. Minha relação com o mundo e minhas percepções fizeram-me perceber a beleza nos pequenos detalhes do cotidiano;.


Dhiefferson Lopes
;Se a dança está longe de mim, eu também estou longe de mim. Não é só meu hobbie ou prática corporal, a dança é meu combustível de vida. Quando não me expresso corporalmente, é como se tivessem tirado algo da minha essência. Sem essa arte, é como se a vida não fluísse. A dança me conecta ao invisível. Quando eu danço, exponho de forma significativa meus sentimentos. Eu trago para mim outro universo. Eu me sinto últi. A dança não é um escape, é o que me ajuda a prosseguir;.

Memória

Um dos artistas mais emblemáticos que lidou com a depressão, Vincent Van-Gogh atirou contra o peito em 1890. Tons amarelados, pinceladas, tonalidades contrastantes, curvas em espiral são características marcantes nas obras do artista.

Ludwig van Beethoven sofria de uma doença irreversível de perda de audição. O quadro se agravou aos 28 anos. O problema o levou à depressão profunda e ao uso excessivo de álcool.

No último ano de vida, Renato Russo se entregou ao álcool e a outras drogas devido à solidão que sentia. Um mês antes de morrer, o cantor entrou em depressão profunda. O artista faleceu em 1996, diagnosticado com Aids.


Francesca Woodman se autorretratatou incontáveis vezes antes de cometer suicídio, com apenas 22 anos. A artista tinha uma linguagem única e bastante notável. Ainda hoje, as obras de Francesca fascinam admiradores da arte.
*Estagiário sob supervisão de Severino Francisco

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