Rodrigo Barreto*
postado em 01/08/2017 07:22
Antes de as cortinas se abrirem pela primeira vez, um espetáculo artístico já é estrelado. Cenografia, figurino, paleta de cores e coreografia são alguns dos componentes pensados e executados previamente. Toda produção artística é extenuante. O Correio acompanhou o desenvolvimento do musical Agreste, que retrata a migração de uma família nordestina para Brasília na década de 1950.
A roteirista e diretora geral do projeto Thais Uessugui fez questão de ter somente brasilienses envolvidos e salienta que a capital federal abriga grandes talentos. "O lema que me incentiva a continuar os musicais é: de Brasília, em Brasília, para Brasília. Não precisamos esperar as pessoas do Rio de Janeiro e de São Paulo fazerem peça aqui para vermos conteúdo de qualidade."
Com o incentivo do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) de R$ 120 mil, Thais Uessugui começou a desenvolver o processo de produção do musical Agreste. O gasto envolve microfones específicos, som, iluminação, cenário, figurino, produção artística e um total de 30 pessoas.
Sem adereços
Linhas retas, formas geométricas, poucos elementos em cena e funcionalidade. Ascendente na época, o modernismo é o movimento principal que caracteriza a obra. "Pegamos todo o conceito modernista que era vigente na época (1950). Trouxemos para o cenário objetos que são desconstruídos como forma de representar que esses utensílios também desfalecem com a família na migração para Brasília", comenta o diretor de arte Filipe Danujo.
Os extremos das cores escolhidas mostram a realidade tanto do nordeste quanto de Brasília. "A paleta é bem quente, representando o árido da seca e, à medida que o musical acontece, o espetáculo esfria e fica azulado, cinza e preto. Conseguimos traduzir o conceito das cores com os elementos contrastantes", explica Danujo.
A maior parte da composição do cenário é feita manualmente e composta, principalmente, por papelão e jornal, devido à falta de recurso financeiro. Apesar disso, o resultado obtido não deixa a desejar. "É bem gratificante ver esses dois recursos transformados no cenário. Conseguimos dar o efeito que queremos passar para o público", afirma Thais Uessugui.
Intenção
Divididos em dois atos, Agreste expõe a luta de Pedro Cavalcanti para chegar à nova capital federal na década de 1950, até então em construção. ;Pedro representa a história do retirante que sai da seca do nordeste e tenta ir para o sul do país. Pretendemos mostrar a dificuldade que o nordestino tem de sair da própria terra e conseguir seguir a vida;, comenta o ator principal Diogo Lins, que interpreta Pedro Cavalcanti.
A trajetória do Nordeste para Brasília esconde segredos que não são abordados. Thais ratifica a importância do êxodo e afirma que muitos acreditam que os retirantes se dirigiram para a capital só para experimentar uma possível vida melhor. ;Uma rigorosa seca castigava o Nordeste do Brasil naquele tempo. Ou vai para Brasília ou morre por conta da falta de água;, argumenta Thais.
A atriz Aleska Ferro, que interpreta Ana Cavalcanti ; mãe de Pedro ; alerta a respeito do atual momento de racionamento em Brasília. ;Se aqui a gente acha ruim ficar dois dias sem água, imagina lá no agreste, onde as pessoas não têm nada para racionar.;
Thais Uessugui ressalta que a peça critica a forma como o imediatismo é evidente na sociedade, na qual jovens almejam o sucesso, mas não prestam atenção na trajetória até a realização. ;As pessoas não querem mais dedicar tempo a um projeto. Tudo tem de ser agora. A felicidade também está no caminho que leva à chegada;, destaca Thais.
[SAIBAMAIS]Além disso, Diogo enfatiza a importância do musical ser composto totalmente por brasilienses. ;Tendo condições de montar um espetáculo autoral e mostrando nossa qualidade. Defendemos que não é preciso que nossos atores busquem o Rio de Janeiro e São Paulo para oportunidades melhores;.
SERVIÇO
AgresteSesc Paulo Autran (CNB 12 AE 2/3 - Taguatinga).
Sábado e domingo, às 20h. Entrada: R$ 5 (meia). Classificação indicativa livre.
Sesc Ceilândia (QNN 27 - Ceilândia) 12 (sábado) e 13 (domingo) de agosto, às 20h. Entrada: R$ 5 (meia). Classificação indicativa livre.
Funarte (eixo monumental)
19 (sábado) às 20h e 20 (domingo) de agosto às 19h. Entrada: R$ 10 (meia). Classificação indicativa livre.
*Estagiário sob supervisão de Severino Francisco